Quinta, 8 de agosto de 2013
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Escrito por Gabriel Brito e Paulo Silva Junior, da Redação do Correio da Cidadania |
Após as grandes jornadas de junho, protagonizadas pela luta do MPL no
campo do transporte público, o governo tucano recebeu um duro golpe que
pode colocar abaixo suas pretensões políticas em São Paulo, com a
delação da Siemens à justiça alemã de que esta e outras multinacionais
comandam um grande cartel das licitações do metrô e da CPTM no estado,
desde os anos 90.
“São fatos que certamente fortalecem muito as lutas. Vamos reforçar o
assunto do propinoduto, exigir soluções e a devolução do dinheiro aos
cofres públicos, que ajudariam muito a resolver alguns problemas que
aguentamos há muito tempo”, disse ao Correio da Cidadania o
vice-presidente do Sindicato dos Metroviários, Sergio Renato Magalhães,
em mais uma entrevista realizada junto da Webrádio Central3.
“Nós temos muitos dados e provas para colocar esse esquema abaixo. E
não é só pra prender um ou dois. É pra quebrar o esquema de contratos
que propicia a privatização do patrimônio público e que tem um baita
apoio da mídia”, completa.
Já sobre o dia nacional de mobilizações, no último 11 de julho,
Sergio ressalta sua importância, mas destaca que, agora com mais tempo,
as centrais sindicais, especialmente as mais combativas, têm a tarefa de
preparar mobilizações e greves maiores, no caso, visando o dia 30 de
agosto, data da nova jornada de lutas marcada pelos trabalhadores.
Abaixo, o leitor pode conferir a entrevista completa do metroviário Sergio Renato Magalhães.
Correio da Cidadania: Que análise vocês, metroviários
filiados a uma central não governista, fazem do dia nacional de greves e
mobilizações de classe, convocado em conjunto pelas centrais sindicais e
realizado no último dia 11 de julho?
Sergio Renato Magalhães: Nós, metroviários, já
fizemos um balanço oficial. Foi um dia de paralisação nacional, sem
dúvidas, inclusive se comparado aos dias de paralisação no passado do
Brasil. Uma greve geral é muito difícil, tem que trabalhar muito antes
de promovê-la, mas nas principais capitais houve greves de categorias
importantes. Os metroviários pararam em Belo Horizonte, Porto Alegre, os
sindicatos filiados à Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários)
ainda pararam em Maceió, Natal...
Portanto, foi um dia de mobilização muito importante, que colocou
temas da classe trabalhadora na mesa. Agora temos de trabalhar bastante
por uma real paralisação nacional, no caso, com as mobilizações já
marcadas para o dia 30 de agosto.
Correio da Cidadania: O que você comentaria a respeito da
crítica de alguns militantes, apontando a falta de horizontalidade na
convocação da paralisação, citando o fato de muito poucas assembleias
terem sido realizadas com as respectivas bases?
Sergio Renato Magalhães: Sem dúvida é uma crítica
válida, mas pelo menos houve algumas paralisações. Era muito difícil que
uma proposta como esta, que há tanto tempo não se exercia, não tivesse
problemas. Um dos problemas foi o tempo. A data para nós que estamos
aqui em São Paulo foi um problema não pensado. Pelo feriado de 9 de
julho, geraria problemas para os trabalhadores, com dias demais a serem
descontados, dificultando as paralisações.
Nós aqui dos metroviários fizemos duas assembleias. Em uma discutimos
a necessidade de paralisar; no dia, 10 fizemos assembleia novamente.
Infelizmente, os trabalhadores, apesar de a maior parte da diretoria
defender a paralisação, não aderiram à greve em sua maioria, exatamente
por causa do pouco tempo de preparação e da confusão em relação à
direção das centrais.
Correio da Cidadania: Ainda sobre o dia 11 de julho, como avalia a presença da classe operária, da periferia e da juventude?
Sergio Renato Magalhães: Esse é o diferencial,
porque de certa forma, evidentemente, é uma continuidade das jornadas de
junho, que contaram com a presença majoritária da juventude, pois sem
tais jornadas não teríamos possibilidade sequer de pensar em
paralisação. Porque a politização geral gerada nas manifestações e seus
atores, presentes nesse 11 de julho também, foram fundamentais.
Inclusive em termos de metodologia, com paralisação de algumas rodovias,
expediente típico de greves.
Foi fundamental a participação de tais parcelas da sociedade, e isso
tem de ser exercitado daqui pra frente, sanando os problemas constados
já para o dia 30 de agosto. Agora, nós temos tempo de discutir dentro
das categorias a necessidade de integração real dos trabalhadores. E
temos vários temas.
No caso do metrô, temos o grande escândalo que surgiu a partir da
delação da Siemens, sobre o cartel que armou ao lado de outras grandes
multinacionais, no qual fizeram a farra com a propina do dinheiro
público aqui no metrô de São Paulo e na CPTM, além de Brasília. São
fatos que certamente fortalecem muito as lutas.
Correio da Cidadania: Que direção acredita que os
acontecimentos vão tomar de agora em diante e qual imagina que deve ser a
postura e reivindicações das centrais sindicais mais combativas
(Conlutas e Intersindical entre elas)?
Sergio Renato Magalhães: Acredito que uma pauta
nacional começou a ser discutida, com as questões da previdência, do fim
do fator previdenciário, da redução da jornada de trabalho, das
privatizações de portos, aeroportos e algumas pontuais.
No nosso caso, podemos entrar e ajudar na discussão através dos
escândalos de corrupção, do mecanismo do prodinoduto, fruto de um modelo
de gestão que possibilita esse tipo de contratação por parte do poder
público. Nem a população e nem o sindicato têm acesso aos documentos e
contratos.
Por conta de tais motivos, pensamos que todos os temas aqui
discutidos podem se fortalecer muito. Em nossas reuniões, também
destacamos que antes do dia 30 de agosto já precisamos de uma ação a fim
de exigir que esse tipo de falcatrua não fique impune, como sempre
fica. Desde 1998 já existiam denúncias do tipo, mas agora não pode ficar
assim.
E vamos voltar às ruas pra manter todos esses temas na agenda.
Correio da Cidadania: Vocês continuarão em
articulação com o MPL e outros movimentos organizados, tal como nas
mobilizações de junho? O que pretendem pautar em breve?
Sergio Renato Magalhães: Exatamente isso que estamos
fazendo. Na quinta-feira passada, o nosso sindicato se reuniu com o
MPL, o MTST e várias outras organizações que estiveram presentes,
ajudaram e convergiram nas lutas de junho e julho. Além disso, temos
trabalhado com sindicatos e o movimento popular relacionado ao
transporte, aos problemas do trânsito, com o pessoal que luta contra o
monotrilho na região de Sapopemba, pessoas que sofrem com problemas da
superlotação dos metrôs... Juntamos todos esses grupos e discutimos pra
esclarecer o significado de toda a falcatrua.
Fazendo breves cálculos, com esse dinheiro que foi desviado pelos
governos tucanos daria pra ter concluído a linha 5, o monotrilho não
precisaria ser como é, poderia ser uma linha de metrô... Esse escândalo
abriu pra todo mundo todo o mar de lama que estava tapado. Porque tarifa
zero e transporte de qualidade pra todo mundo não vão existir enquanto a
estrutura de gestão dos transportes for assim. E pra se fazer
transporte público por meio dos cartéis, o volume de dinheiro público
desviado é condizente.
Vamos reforçar o assunto do propinoduto, exigir soluções e a
devolução do dinheiro aos cofres públicos, que ajudariam muito a
resolver alguns problemas que aguentamos há muito tempo.
Correio da Cidadania: Acredita que tamanho escândalo
de corrupção pressionará de forma inapelável a CPI dos Transportes na
Câmara dos Vereadores de São Paulo? E no caso do metrô, acredita que se
seguirão rumos parecidos, culminando com a investigação e punição dos
culpados?
Sergio Renato Magalhães: Sem dúvida. Totalmente. O
Ministério Público tem centenas de investigações dos contratos. Porém,
em nossa opinião, sem a pressão popular, do MPL, dos sindicatos, das
associações de moradores que sofrem com problemas de transporte, enfim,
sem todos se juntarem e irem pra rua, o escândalo possivelmente virará
uma enorme pizza. De novo.
Estamos nesse processo já há alguns anos, mas agora as coisas tomaram
um vulto muito grande, com a delação da Siemens e a situação do
movimento popular. Mas não foi a primeira vez que apareceu, nós temos
muitos dados e provas para colocar esse esquema abaixo. E não é só pra
prender um ou dois. É pra quebrar o esquema de contratos que propicia a
privatização do patrimônio público e que tem um baita apoio da mídia.
Agora, nós podemos demonstrar à população que é necessário um novo
projeto de transporte para a cidade.
Correio da Cidadania: Como você enxerga o governo federal
nesse contexto todo? Pode acatar ao menos parte das reivindicações
colocadas pelas centrais sindicais no dia 11 de julho?
Sergio Renato Magalhães: Condições financeiras o
governo tem. Depende agora de decisões políticas sobre onde alocar o
dinheiro, se vai continuar arcando com seus compromissos financeiros
etc. No entanto, vai depender principalmente da continuidade da luta e
da pressão popular. Por exemplo, se conseguirmos construir um grande dia
30 de agosto, maior do que dia 11 de julho, podemos ter mais clareza
para responder a pergunta.
Gabriel Brito e Paulo Silva Junior são jornalistas.
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“ Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."
(Millôr Fernandes)
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Metrô de São Paulo: ‘Nós temos muitos dados e provas para colocar todo o esquema do propinoduto abaixo’
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