Quinta, 21 de novembro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Vale fazer um breve resumo do processo de sucessão do governador na Bahia. No PT, o número de pré-candidatos ao cargo foi reduzido, não declaradamente, de quatro para três. O ex-prefeito de Camaçari e ex-presidente da UPB, Luiz Caetano, muito ligado ao governador Wagner, de quem foi coordenador geral da campanha eleitoral, fez a força que pôde, mas concluiu, afinal, que não reúne as condições necessárias para persistir na disputa. Então, em evento que promove no dia 29, em atitude ainda não confessada publicamente, vai declarar seu apoio ao pré-candidato deputado Rui Costa, secretário da Casa Civil de Wagner e aspirante da absoluta predileção do atual governador. Caetano será candidato a deputado federal e, sendo mesmo Rui Costa o candidato a governador, alguns fortes redutos eleitorais dele irão engordar a eleição de Caetano.
Para ir criando o clima mais do que engrossando o caldo, Rui Costa obteve o apoio da Juventude do PT, de lideranças do MST (embora o comando nacional da CUT prefira publicamente o pré-candidato José Sérgio Gabrielli, com ressalvas também públicas da direção estadual da CUT) e agora da Secretaria Estadual de Políticas para Mulheres, a julgar pelo que anunciou a secretária do grupo, Vera Lúcia. Espumas.
Com o anúncio do candidato governista ou no mínimo petista a governador prometido formalmente para o dia 30 (já havia sido marcado antes para o dia 15 passado, mas foi adiado em tempo, porque não dava para acontecer ou era apenas uma manobra política), quem não desistiu acelerou. O senador Walter Pinheiro, líder do PT no Senado, que fez da postulação de candidaturas ou pré-candidaturas a cargos majoritários um ponto de honra de sua carreira política, formalizou sua pretensão a representar o PT e o governismo na disputa pela sucessão de Jaques Wagner. O outro postulante à candidatura petista, José Sérgio Gabrielli, ex-candidato a governador nos tempos mais difíceis, secretário estadual do Planejamento e ex-presidente da Petrobrás, que conta com tanta simpatia de Lula (não de Dilma) quanto Rui Costa conta com a simpatia de Jaques Wagner, também formalizou a candidatura mesmo antes disso mais notório que joelho de escoteiro. E o fez em grande estilo – o mais alto estilo brasileiro, o, digamos, cartorial.
Escreveu e mandou uma carta toda formal à direção do PT da Bahia, elogiosa a Wagner, mas deu a entender claramente que a escolha do candidato não deve ser única e exclusivamente do governador. Ele pede que o partido analise os perfis dos seus postulantes ao governo, “levando em conta a posição do governador como preponderante, mas não exclusivo nesse processo de decisão”. E então pede ao comando petista “encaminhar ao diretório essas discussões para que possamos avançar na definição de nosso candidato, depois de avaliados quais os cenários e qual o melhor perfil do candidato para mobilizar a militância e articular os aliados”.
A questão do relacionamento entre os partidos e os políticos aliados tem sido, nem sempre, mas não raro, um argumento usado por analistas e principalmente políticos aliados ao identificarem dificuldades na candidatura de Rui Costa. Da mesma forma que essa linha análise tem encontrado contestações, bem fundamentadas ou não (isso é problema do PT e dos seus aliados), a questão da mobilização da militância tem sido usada nos meios petistas, com muita frequência, em favor de alguma opção de candidatura que não seja a do secretário-chefe da Casa Civil.
A carta de Gabrielli é bastante detalhada a aponta o que considera problemas a serem enfrentados pelo PT e seu candidato, bem como pelo governador, tanto na relação com a militância petista (que entra numa situação complicada quando há um cenário complexo, composto, além do PT, por muitos outros partidos). A carta não chega a dizer, mas para bom entendedor meia palavra basta – como se comportará a militância em relação e integrantes da chapa majoritária que sejam do PSD, PDT ou PP? Vai suar a camisa por eles? E, se não suar, fizer corpo mole, qual a eventual resposta?Também, no extremo, quem sabe, para o petista que estiver na chapa, se for difícil demais de empurrar ladeira acima, a militância de cada tendência poderá concentrar-se em cuidar dos candidatos a deputados de suas respectivas tendências).
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta,
Ivan de Carvalho ė jornalista baiano.