Sábado, 2 de novembro de 2013
Thais Leitão, repórter da Agência Brasil
Brasília - Grama alta, lixo acumulado e falta de segurança estão
entre as principais queixas de quem costuma ir aos cemitérios do
Distrito Federal (DF) para visitar túmulos de parentes. Ao todo, existem
no DF seis cemitérios (no Plano Piloto, em Taguatinga, no Gama, em
Sobradinho, Planaltina e Brazlândia), onde estão sepultadas 401,3 mil
pessoas. Todos são administrados pela concessionária Campo da Esperança.
A expectativa é que, juntos, recebam mais de 600 mil pessoas neste Dia
de Finados.
A
cabeleireira Carla Maria de Almeida, 41 anos, conta que, aconselhada
por coveiros que trabalham no Cemitério de Taguatinga, diminuiu as
visitas ao túmulo do pai, morto há mais de 20 anos. Com medo de assaltos
relatados por funcionários e já tendo visto pessoas usando drogas sobre
as sepulturas em épocas de baixa frequência, ela passou a visitar o
cemitério, nos últimos anos, apenas na véspera do Dia de Finados, para
evitar o tumulto normalmente verificado no feriado.
"Os próprios coveiros nos orientaram a não vir quando não tivesse
movimento. Eles sempre diziam que nós éramos muito corajosas, porque é
muito perigoso [visitar o local] quando não tem ninguém", disse ela, que
estava acompanhada da mãe, a aposentada Ivone de Almeida, 64 anos.
"Desistimos de levar susto e agora a gente só vem nesta época. Em outros
dias, se não tiver sepultamento, não se vê um vivo por aqui. É muito
deserto", acrescentou.
No mesmo cemitério, o funcionário público Valdir Benevides, 48 anos,
disse ter se assustado com as condições de conservação. Ele aproveitou a
ida ao local para o sepultamento de um conhecido, na última
quinta-feira (30), e visitou o túmulo do pai. "O gramado lá da frente,
na entrada do cemitério, está mais bem cuidado, bonitinho, mas aqui
atrás está feio demais. A grama parece que não é cortada há um tempo,
tem muito lixo acumulado, flores secas que ninguém retira. Esperava
encontrar condições melhores", disse. Em alguns túmulos próximos ao de
seu pai, garrafas PET, copos descartáveis, vasos quebrados e galhos se
acumulavam.
No
Cemitério Campo na Esperança, na Asa Sul (Plano Piloto, região central
de Brasília), as reclamações se repetem entre os visitantes. Enquanto
pintava o cercado em torno do túmulo do marido, a aposentada Iraci
Moura, 60 anos, queixou-se do que chamou de "maquiagem" para o Dia de
Finados. "Esta semana, está melhor, a grama está cortada e não tem tanto
lixo, mas é só fachada, maquiagem. Normalmente, quando venho aqui, o
mato chega a cobrir os túmulos, tem flor e vaso abandonado por todo
canto, acumulando água, que pode até virar foco de mosquito da dengue. A
situação é caótica. Além disso, se a gente precisar de alguma ajuda ou
informação, é sempre difícil encontrar um funcionário disponível", disse
ela, que visita o local a cada dois meses.
Insatisfeita com a manutenção feita pela empresa responsável, Iraci
decidiu se responsabilizar pelo serviço e contratou um jardineiro
autônomo para limpar os arredores do túmulo, regar e podar as plantas.
"Esses [túmulos] que estão mais bem cuidados é porque as famílias
assumiram e contratam um jardineiro para tomar conta. É o jeito, porque
não dá para deixar o túmulo de uma pessoa que foi tão importante para a
família nesse estado de abandono", lamentou, apontando para uma
sepultura rachada perto do túmulo de seu marido. Pouco mais à frente,
também havia túmulos com acúmulo de folhas, lixo e vasos de planta
descartados.
O jardim que fica na entrada no cemitério apresenta boas condições,
com grama baixa e placas de identificação das sepulturas bem
conservadas. Ao chegarem ao local, os visitantes também são orientados,
por uma placa, a não levar flores em vasos, para evitar a proliferação
de mosquitos, especialmente da dengue. Outras placas espalhadas pelo
cemitério, no entanto, apresentavam sinais de deterioração.
Para o jardineiro autônomo Márcio Vieira dos Santos, 31 anos, que
trabalha no cemitério da Asa Sul há quase duas décadas, o maior problema
para quem exerce a atividade é a presença de escorpiões e baratas. "Não
sei se tem muito como ser diferente, porque é um lugar onde tem corpo
enterrado, mas quem trabalha aqui tem medo das picadas. Eu mesmo já
levei de escorpião. É um perigo constante, mas tenho que sustentar meu
filho de 4 anos, então tenho que trabalhar", disse ele, que cuida do
túmulo de 50 famílias e cobra R$ 50, de cada uma, pelo serviço. A
atividade, desvinculada da empresa responsável pelo cemitério, inclui
manutenção de jazigos, limpeza dos arredores do túmulo, rega e poda das
plantas.
Situação semelhante foi relatada pelo também jardineiro autônomo
José de Souza Oliveira, 43 anos. "Eu tenho muitos colegas que já foram
picados por escorpião aqui. A gente trabalha com medo, mas tem que
sobreviver", disse ele, que reclamou, ainda, da falta de água. "Para
fazer o nosso trabalho e regar as plantas, por exemplo, a gente tem até
que comprar [água de] caminhão-pipa", disse.
Já no Cemitério de Sobradinho, o servidor público Paulo Diniz disse
não ter reclamações relativas ao local. Ele aproveitou a última
quinta-feira (30) para visitar antecipadamente o túmulo do pai e de dois
irmãos. "Eu não tenho nada a questionar. Não sei como é lá para o
final, mas aqui na entrada é tudo bem tranquilo, até porque venho e já
vou embora, não fico muito", contou.
A
concessionária Campo da Esperança informou, em nota, que faz manutenção
dos cemitérios diariamente, o que inclui serviços de irrigação,
adubação, limpeza das placas de identificação das sepulturas,
recolhimento de lixo e corte da grama, principalmente nas áreas
consideradas novas. Nas partes antigas, o serviço de manutenção é feito
nas calçadas e nos gramados entre os túmulos. De acordo com a empresa,
os túmulos com jardins e adornos devem ser cuidados pelos proprietários,
podendo haver intervenção da concessionária apenas com autorização da
família. A Campo da Esperança também negou que haja "maquiagem" nos
cemitérios em razão do Dia de Finados, alegando que a rotina diária de
serviços foi mantida. Duas vezes por ano, são pintados os meios-fios e
as placas de identificação e a cada seis meses é feita dedetização. O
cronograma desses serviços é ajustado para ocorrer próximo às datas de
maior circulação nos cemitérios.
Em relação à segurança, a empresa destacou que, por ocuparem área
pública, os cemitérios não podem ter o acesso restrito, mas ressaltou
que, quando alguma movimentação estranha é percebida pelos funcionários,
a polícia é acionada. Ainda segundo a concessionária, equipes com
seguranças desarmados trabalham em todos os cemitérios 24 horas por dia.
Além disso, há câmeras de vigilância instaladas nas áreas onde há
construções.