Sexta, 20 de junho de 2014
Flávia Villela
- Repórter da Agência
A Copa do Mundo foi responsável pela geração de 1 milhão de
empregos no país, dos quais cerca de 700 mil foram formais. A informação foi
divulgada hoje (19) pelo presidente da Embratur, Vicente Neto, durante palestra
sobre Impactos dos Grandes Eventos na Economia Brasileira, no Centro de Mídia
da Fifa, na zona sul do Rio de Janeiro.
"Isto representa 15% do total de empregos gerados
durante o governo Dilma”, comentou ele ao informar que somente durante a Copa o
impacto na economia brasileira será de R$ 6,5 bilhões com serviços para os
turistas. "Em 2013, só na cadeia do turismo houve US$ 6,7 bilhões de
entradas no país, ingresso de divisas com turismo internacional. Somos a sexta
economia do turismo no mundo e a primeira da América do Sul", disse Neto.
Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro
Trengrouse, o valor - se comparado ao Produto Interno Bruto de R$4,5 trilhões é
ínfimo. Entretanto, ele acredita que o impacto da Copa na economia brasileira
será bem maior que na África do Sul. “No Brasil, o futebol movimenta muito mais
pessoas e é por isso que temos 3 milhões de turistas brasileiros e 500 mil
turistas estrangeiros nesta Copa”, comentou.
De acordo com o professor da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ) Lamartine da Costa, projeções econômicas sobre impactos de
grandes eventos não valem de maneira geral, pois costumam ser
superdimensionados.
"Temos que esperar terminar a Copa para sabermos o
real impacto do evento na economia”, declarou ele. “Os grandes eventos trazem
sempre benefícios, assim como o petróleo, que também traz muitos riscos",
comentou o professor em alusão a países ricos em petróleo, porém com enormes
desigualdades sociais e econômicas.
Lamartine defendeu que o modelo de mega eventos atual é
insustentável e deve ser repensado. "São coisas gigantescas e praticamente
impossíveis de serem organizadas com eficiência" comentou ele ao citar
exemplos de falhas em copas como as da Inglaterra e da África do Sul. "Além
disso, pesquisas mostram que em todos os países que fizeram mega eventos o
número de participantes em esportes tem caído. Os mega eventos têm feito com
que o significado original desses jogos que é o esporte se perca",
comentou. O professor lembrou que várias cidades da Europa retiraram suas
candidaturas para os próximos jogos de inverno.
O pesquisador da FGV também concordou que é preciso
reformular a maneira como Estados e entidades internacionais organizam os
grandes eventos esportivos. "Esse modelo de Copa e Olimpíadas não se
sustenta mais. São grandes festas, não geram grandes transformações",
declarou ele ao criticar os pesados gastos por parte dos Estados,
enquanto o lucro maior vai para as entidades organizadoras dos eventos. "O
que vimos foram secretários de governo [servindo] como secretários da Fifa,
esforçando-se para cumprir tantos requisitos exigidos", disse ele, que
contestou a razoabilidade de alguns requisitos.
Pedro Trengrouse também criticou a falta de eventos de
exibição pública nas principais cidades do Brasil. “O povo não pode pagar a
conta e ficar fora da Copa”, opinou o pesquisador que defendeu que criar
espaços com shows e exibições dos jogos em locais públicos para as pessoas que
não conseguiram comprar ingressos era uma obrigação dos governos. “É
inadmissível que brasileiros estejam vendo a Copa no Brasil da mesma forma como
viram a do Japão”.
O presidente da Embratur não comentou as opiniões do
pesquisador Pedro Trengrouse e do professor Lamartine da Costa.