Domingo,
17 de agosto de 2014
Vinícius
Lisboa - Repórter da Agência Brasil
Acidentes de trânsito deixaram mais de 536 mil mortos no
Brasil em dez anos, contabilizou uma pesquisa do Instituto Alberto Luiz Coimbra
de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe-UFRJ). A principal base de dados utilizada foi a da Seguradora
Líder Dpvat, responsável pelo pagamento do Seguro de Danos Pessoais Causados
por Veículos Automotores de Vias Terrestres (Dpvat).
O levantamento começa no ano de 2003, com o registro de 34,7
mil mortes no trânsito, e constata um crescimento de quase 100% até 2007, ano
em que é atingido o pico de 66,8 mil mortes. O número de vítimas cai até 50,7
mil de 2008 a 2010 e volta a subir nos anos seguintes, encerrando 2012 em 60,7
mil. Na conclusão, a pesquisa menciona que em 2013 houve novo recuo, para 54
mil.
"É um número assustador de mortos, mas ninguém dá a
menor bola para isso. As pessoas acham que faz parte da vida, mas é uma cidade
de grande porte que faleceu nos últimos dez anos", destaca o professor de
engenharia de transporte da Coppe, Paulo Cézar Ribeiro, o responsável pela
pesquisa.
O banco de dados do Dpvat mostra ainda um número de quase 2
milhões de feridos nos acidentes, com o pico de 447 mil em 2012. A pesquisa usa
ainda a proporção de acidentes/mortos e acidentes/feridos, do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para estimar que, no período,
foram registrados 13 milhões de acidentes, sendo 8,1 milhões sem vítimas.
A pesquisa, também, tenta fazer um levantamento do prejuízo
que essas mortes causam por perda da força de trabalho, cuidados médicos,
manutenção das estradas e outros ônus, mas esbarra na falta de dados sobre as
circunstâncias dos acidentes. O estudo estima que cada morte no trânsito em
área urbana custe R$ 232,9 mil, menos que a metade do custo das que ocorrem em
rodovias, que somam R$ 576,2 mil. Como, segundo Ribeiro, não há como definir
quais ocorreram em quais áreas, o estudo propõe que, num cenário em que todos
se deram em áreas urbanas, o custo soma R$ 236 bilhões, e, no cenário oposto, o
valor chegue a R$ 772 bilhões. A média, então, ficaria acima dos R$ 500
milhões.
O professor responsável pela pesquisa defende que é preciso
estudar esses acidentes para que se possa enfrentar esse cenário: "Ninguém
apoia acidentes de trânsito. Todo mundo é contra, mas as pessoas continuam
dirigindo perigosamente e construindo vias ruins. É preciso mapear. Cada
acidente tem que ser analisado, para definir se o motorista foi imprudente, se
a estrada é perigosa, se a velocidade máxima está alta".
A pesquisa, também, traz dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS), que comparam as mortes registradas no Brasil com os outros países.
Enquanto aqui há 19,9 mortos no trânsito para cada 100 mil habitantes, outros
países registram números bem menores, como Estados Unidos (12,3), Finlândia (6,5),
China (5,1) e Reino Unido (2,86). A pesquisa afirma que, se a OMS usasse os
números do Dpvat, a proporção subiria para 30,9 em 2012.