Terça, 25 de agosto de 2015
Maria Lúcia Fatorelli aborda auditoria da dívida grega na Coordenação Nacional
O final da tarde de sexta-feira (21),
contou com a participação de Maria Lúcia Fatorelli, da Auditoria Cidadã
da Dívida, abordando o sistema da dívida pública na Grécia e no Brasil. A
pesquisadora destacou a importância de se observar os ataques de
maneira global e compreender como a experiência da mobilização do povo
grego pode fortalecer a classe trabalhadora.
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Do site da Auditoria Cidadã da Dívida
Primeiro dia de Reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas Discute crise do governo e sistema da dívida na Grécia e no Brasil
22/08/2015 –
A reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas deste final de
semana, de 21 a 23, em São Paulo, homenageia dois companheiros valiosos
que perdemos recentemente: Vito Giannotti, do NPC (Núcleo Piratininga de
Comunicação), e Maximiano Laureano, o Max, que atuava em comunicação
popular, no Rio de Janeiro.
Um vídeo, depoimentos de Mauro Puerro, pela Secretaria Nacional da
CSP-Conlutas, de Sebastião Neto, do antigo Monsp (Movimento de Oposição
Sindical Metalúrgica de SP), e de Eduardo Henrique, petroleiro do Rio,
além da leitura de uma carta de Claudia Santiago, companheira de Vito.
O dia começa com homenagens aos companheiros Vito Giannotti e Max Marreiro
Após a homenagem, o presidente da Central
Sindical CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, se dirigiu aos presentes para
conclamar pelo apoio aos trabalhadores em greve da GM, que sofreram
demissões recentemente, e manifestar a concordância de sua Central em
não apoiar a direita e nem o governo Dilma não participando nem do dia
16, ato da oposição ao governo, e dia 20, um ato claramente governista.
“Precisamos colocar 20 mil pessoas no dia
18 de setembro e libertar a classe operária do jogo desse liberalismo
dirigido por uma esquerda que faz o jogo da direita”, finalizou o
dirigente.
Em seguida foi aberta a mesa que discutiu
conjuntura. Paulo Barela apresentou a análise debatida da Secretaria
Executiva Nacional desde a crise europeia, partindo da crise
internacional, como a recente renúncia de Tsipras, sob a pressão do
capitalismo europeu para o pagamento da dívida externa. Mas centrou o
informe na crise no Brasil e nos ataques sofridos pelos trabalhadores.
“… Queremos unificar com quem quer lutar”, afirmou Barela.
Barela abordou a “ a profunda crise
institucional no país”, que está colocando Dilma em completo isolamento
e, em contrapartida, o governo vem aplicando a fundo a política do
capital. “Os dois campos, o de oposição de direita e o governo, têm um
projeto político único que expressa a defesa dos interesses políticos de
empresários, banqueiros e ataca os trabalhadores”, disse.
Denunciou o ajuste fiscal que resulta em
cortes de verbas públicas para áreas sociais, como saúde, educação,
transporte e moradia. “Além de retirar ferozmente os direitos dos
trabalhadores por meio das terceirizações, das medidas provisórias 664 e
664 que reduziram seguro desemprego, PIS e outros”, resgatou.
Para tais ataques, mencionou que governo e
oposição de direita agem juntos e defendeu que o interesse da burguesia
em manter o governo é um fato. “Até o Financial Times afirmou que é um
erro atacar o governo, pois é importante manter a estabilidade no país”.
Barela explicou ainda a posição da
CSP-Conlutas de não participar das manifestações do dia 16, capitaneado
por PSDB, PMDB e Solidariedade, nem do dia 20, um claro ato em defesa do
Governo Dilma, um governo que ataca brutalmente os direitos dos
trabalhadores.
“Mas a classe trabalhadora não está quieta,
não está parada”, disse o dirigente mencionando a longa e dura greve
realizada pelos servidores públicos federais com os setores da educação
na ponta desta mobilização; a manifestação de 30 mil nas ruas de Porto
Alegre (RS) e as greves contra demissões na GM e nas Volks.
A não participação nas duas manifestações
já havia sido referendada na plenária do último dia 30 do Espaço de
Unidade de Ação, realizada no Sindicato dos Metroviários de São Paulo,
com 250 representantes de 65 entidades e movimentos.
Mas, o dirigente ressaltou que é preciso
apontar uma alternativa. “Nesta reunião temos de dar cabo da tarefa que a
reunião nos deu, construir um terceiro campo nas lutas e chamar os
trabalhadores que não foram para o dia 16 e dia 20, para enfrentarmos a
direita, Dilma e as políticas conservadoras e ajustes fiscais juntos”.
A proposta apresentada é a realização de
uma manifestação em São Paulo no dia 18 de setembro. “Uma manifestação
que seja mais ampla que o Espaço de Unidade de Ação e pra isso vamos
dialogar com organizações que participaram do dia 20, como, por exemplo,
o MTST, a Intersindical e outras. Queremos unificar com quem quer
lutar”, afirmou Barela.
Além da proposta da composição de um
terceiro campo dos trabalhadores construído nas lutas, cabe a esta
reunião da CSP-Conlutas avançar nas consignas que serão defendidas por
esse terceiro campo, com a clareza que serão consignas que busquem
apresentar uma resposta para este momento político. Como sintetizar em
consigna a política nem oposição de direta nem governo do PT.
Após a exposição de Barela, dirigentes que
compõem a Secretaria Executiva Nacional tiveram um tempo para apresentar
as diferenças na Executiva.
Antonio Neto reafirmou a polarização
social, com a existência de um setor da burguesia que quer controlar o
aparelho de estado, mas isso não seria suficiente para assinar o dia 20.
Segundo Neto, existe polarização de dois
setores e o terceiro campo não existe como força social que disputa a
política, ainda não se apresentou como força objetiva. Ele defendeu as
consignas: contra Dilma e o ajuste fiscal, contra os ataques da direita e
pela construção de uma alternativa dos trabalhadores.
Miguel Leme afirma que é necessário
aprofundar as consignas como derrotar os ataques dos governos de Dilma,
dos tucanos e do PT; derrotar os ataques dos patrões, assim como
apresentar a alternativa de construção de uma política de poder,
enfatizando a necessidade de construção de uma alternativa política.
De acordo com Iury Aguiar, o elemento
fundamental que dificulta a construção de uma terceira via “é que
setores da esquerda ainda tem dúvida do caráter da esquerda”.
Chama atenção que a maior parte da classe
não apoia mais o PT, mas nenhum partido de oposição de direita resolverá
a situação, “o problema está no regime”.
Também acha importante que se faça o debate sobre o impeachment.
Clovis Oliveira frisou que apesar do acordo
com o informe com respeito à construção da alternativa no terceiro
campo, é preciso entender que a polarização existe.
“É preciso lutar contra direita golpista.
Tem um setor da burguesia que busca um governo seu, não de frente
popular. Não podemos ser neutro no processo de impeachment”.
Clovis também defendeu que os atos no dia 18 sejam estaduais e não nacional.
Davi Lobão defende a construção da unidade
da classe a partir das lutas concretas e acredita que “não estamos
conseguindo fazer essa unidade com perspectiva da Greve Geral”. Ele
defende também a construção do terceiro campo que se coloque como
alternativa de poder.
Durante esses dias de reunião a Secretaria
Executiva Nacional da CSP-Conlutas buscará apresentar uma resolução
consensual sobre a conjuntura com avanços principalmente na questão das
consignas e construção dessa terceira via, ampliando os setores do
movimento nessa iniciativa.
A greve da GM
Uma delegação de demitidos da GM de São
José dos Campos e dirigentes sindicais se dirigiram aos presentes para
pedir o apoio à greve. “Fomos pegos de surpresa, com telegrama em casa
no final de semana do dia dos pais, mas a resposta foi rápida, na
segunda-feira já estávamos em greve”, disse um dos demitidos.
Delegação de metalúrgicos da GM faz intervenção durante a reunião e recebem apoio da plenária
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos,
Antonio Macapá, denunciou que o governo vai liberar mais R$ 8 bilhões
para o setor automotivo a juros subsidiados para ajudar a indústria
automobilística e seus fornecedores. “Enquanto isso, as montadoras
continuam demitindo e enviando dinheiro para suas matrizes no exterior;
não vamos acabar com essa greve até a reintegração”.
O Sindicato está reivindicando a
reintegração dos demitidos, redução da jornada sem redução de salário,
proibição da remessas de lucro ao exterior e estatizar e colocar sob
controle dos trabalhadores as empresas que alegam crise.
Categorias em luta
Também foram dados informes dos ataques que
vêm sofrendo as categorias de petroleiros, bancários e trabalhadores
dos Correios. As privatizações, terceirizações e os ataques a direitos
são discursos comuns nessas categorias que preparam campanha salarial
para esse segundo semestre.
O presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo,
também deu informe das greves dos servidores públicos federais,
especialmente, na área da educação.
Campanha em defesa dos imigrantes haitianos
Rosi do Jubileu Sul foi convidada a falar
sobre a campanha em defesa dos imigrantes haitianos da qual CSP-Conlutas
e Jubileu atuam juntos.
A representante do Jubileu defendeu o
fortalecimento da campanha pelo “Fora as tropas do Haiti” em referencia
as tropas da Minustah lideradas pelo governo brasileiro.
Além disso defendeu que sejam mantidas as iniciativas em defesa dos imigrantes haitianos.
Maria Lúcia Fatorelli aborda auditoria da dívida grega na Coordenação Nacional
O final da tarde de sexta-feira (21),
contou com a participação de Maria Lúcia Fatorelli, da Auditoria Cidadã
da Dívida, abordando o sistema da dívida pública na Grécia e no Brasil. A
pesquisadora destacou a importância de se observar os ataques de
maneira global e compreender como a experiência da mobilização do povo
grego pode fortalecer a classe trabalhadora.
A exposição de Maria Lúcia – que pode ser conferida AQUI
– foi iniciada com um histórico sobre a dívida grega, pontuando
elementos como as crises de 2008, localizada nos grandes bancos privados
por causa da bolha, com excesso de ativos tóxicos, e 2009, quando
bancos privados começaram a transferir os chamados “papéis podres” para o
setor público.
O Sistema da Dívida na Grécia e no Brasil foi tema de palestra
Já na crise de maio de 2010, o elevado
déficit exigiu um “plano de socorro à Grécia”. Neste mesmo momento, um
ato da Comissão Europeia assegurou a criação da EFSF, um veículo para
desviar recursos públicos, ou títulos garantidos pelos países europeus
para bancos privados, ao mesmo tempo em que direciona os ativos tóxicos
dos bancos privados para bancos públicos. Com 17 países europeus sócios,
e operada de fato pela Agência da Dívida Alemã, localizada em
Luxemburgo, essa Sociedade Anônima teve um papel nefasto de, com o falso
objetivo de estabilização europeia, atrelar as finanças gregas ao Fundo
Monetário Internacional.
No mesmo dia da criação do plano de socorro
foram descobertos diversos atos “fora de padrão” do BCE, sob a
justificativa de turbulência financeira e de socorro aos bancos
privados. Um exemplo destes atos foi a elevação, por meio da manobra
conhecida como swap, em mais de 50 bilhões, de euros na dívida grega.
Maria Lúcia mostrou ainda os maiores
credores da dívida grega: em primeiro lugar a EFSF, com mais de 150
bilhões de euros e logo depois, com mais de 52,9 bilhões de euros, os
chamados “credores bilaterais”: os 14 países e o banco alemão KfW,
partes no acordo de 2010. A análise desse documento mostra que ele foi
arranjado para permitir o pagamento total a bancos privados que possuíam
títulos de dívida muito abaixo do valor de face, enquanto a Grécia não
recebeu nenhum benefício através desses “empréstimos”.
Consequências sociais
A realidade do país e a importância da
solidariedade de classe diante das consequências nefastas da crise
também foi pautada pela expositora. A queda do PIB, o aumento do
desemprego (cerca de 60% da juventude atingida), a queda do orçamento,
migração (110 mil mestres e doutores já deixaram o país), fechamento dos
serviços públicos, redução de salários, aposentadorias e pensões,
privatização e a degradação social (famílias inteiras morando nas ruas) e
suicídios.
Auditoria grega
Abordando a auditoria realizada
recentemente nas contas da Grécia, Maria Lúcia mostrou os detalhes da
realização do processo, que ela participou ativamente. A iniciativa de
auditar as contas foi do Parlamento grego, com a inauguração da
auditoria em 04/04/2015, instalação e início dos trabalhos em
04/05/2015. Com apresentação de relatório preliminar em 17/06 e 18/06 a
auditoria revelou inúmeras irregularidades: encargos abusivos,
transferências de papéis podres de bancos privados para o setor público,
elevando de 12 para 226 bilhões de euros o montante.
Além da auditoria grega, Fattorelli citou o êxito desta ferramenta no Equador
Diante destas conclusões, a população
grega, em referendo realizado em 05 de julho, disse não ao pagamento da
dívida abusiva. Contrariando a vontade popular, o primeiro ministro
grego Alexis Tsipras assinou acordo financeiro que ele mesmo afirmou
posteriormente não confiar. Maria Lúcia destacou a renúncia do premiê
grego anunciada nesta semana, no dia 20 de agosto.
Para aprofundamento no tema da conjuntura
grega, a pesquisadora recomenda a leitura do artigo: Tragédia Grega esconde segredo de bancos privados
Brasil
Finalizando a apresentação, Maria Lucia
pontuou rapidamente as semelhanças entre as dívidas grega e brasileira.
Na Grécia se destinam 56% do orçamento para dívida pública e seus
respectivos juros, e no Brasil são R$ 1,356 trilhão para os gastos com a
dívida pública, o que corresponde a 47% de tudo que o país vai
arrecadar com tributos, privatizações e emissão de novos títulos, entre
outras rendas, em 2015.
Os presentes fizeram inscrições para perguntas e intervenções sobre o tema
Este valor representa, por exemplo, 13
vezes os recursos para a saúde, 13 vezes os recursos previstos para
educação ou 54 vezes os recursos para transporte e confirmam, de forma
incontestável, o privilégio do Sistema da Dívida. “ Tanto na Grécia
quanto no Brasil não há contrapartida nos volumosos repasses de
recursos, os sistemas operam se utilizando do modelo econômico, da
corrupção, sistema legal, privilégios financeiros”, lembrou Maria Lúcia.
Convite
A Auditoria Cidadã da Dívida realizará um
Seminário da Corrupção e o Sistema da Dívida Pública, em São Paulo, nos
dias 30 e 31 de agosto, Maria Lúcia fez um convite a todos para este
evento.