Da Tribuna da Imprensa
André Barros
Ainda em tempo, o que pesa mais? A morte de uma criança ou
arrastões pelas praias cariocas? Entenda um pouco mais sobre a mídia, a
política e a polícia do Rio de Janeiro.
A
polícia militar tem o poder de selecionar os casos que serão julgados pelo
Poder Judiciário. Mais de 500 (quinhentas) condutas criminalizadas em leis
penais são praticadas diariamente em nossa cidade. A polícia civil pouco
investiga, sua tarefa é praticamente lavrar os flagrantes realizados na rua
pela PM. O Ministério Público faz as denúncias desses autos de prisão em
flagrante e o Poder Judiciário, em regra, julga procedente as ações condenando
os presos. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ainda tem uma súmula
estabelecendo que os depoimentos de policiais bastam para a condenação de
qualquer pessoa. Pode ser observado que os fatos julgados são selecionados
pelos policiais militares, que realizam as prisões, e normalmente acontecem
contra criminosos incompetentes em plena luz do dia.
A
mesma situação acontece no jornalismo. Trilhões de fatos ocorrem diariamente,
mas quem seleciona aqueles que serão noticiados são os chefes dos jornais. Por
exemplo, há 15 dias uma criança de 12 anos foi assassinada jogando futebol em Manguinhos com um tiro de
fuzil nas costas, em incursão policial realizada às 10 horas da manhã. A mídia
pouco noticiou o caso e até agora não existe uma versão oficial do fato.
Neste
mesmo mês, a mídia oficial de mercado noticia, nos primeiro minutos de seus
telejornais, que arrastões vêm acontecendo nas praias da zona sul. Não se tem
conhecimento de uma morte ocorrida nessas pouquíssimas subtrações sem armas
chamadas de arrastões.
Colocando
na balança os dois fatos, o assassinato de uma criança de 12 anos deveria pesar
muito mais. Mas não é isso que o noticiário apresenta. Ao que parece, a antiga
batalha de Leonel Brizola, o governador mais popular da história do Rio de
Janeiro, de democratizar as praias da zona sul aos moradores da zona norte,
continua. Nos idos do anos 80, recém eleito, Brizola declarou que criaria uma
única linha de ônibus que cruzaria o túnel rebouças ligando a zona norte à zona
sul. Na época, ocorreu um verdadeiro escândalo discriminatório e preconceituoso
dos moradores das ditas áreas nobres, mesmo sem vivermos numa Monarquia.
Costumo
caminhar pelas areias da praia de Copacabana todos os domingos. Vejo crianças
felizes da vida brincando nas ondas do mar. Milhares de pessoas curtindo a
praia na maior paz, sem qualquer violência. Famílias de trabalhadores, que não
podem ir à praia durante a semana, aguentam horas em trens, ônibus e metrôs
para curtir uma tarde de sol. Os moradores da zona sul, inclusive, são raros
nesses dias nas areias. O transporte, principalmente o metrô, democratizou a
maior diversão do carioca. Parafraseando o poeta Castro Alves, a praia é do
povo como o céu é do condor.
Coloquei
dois casos bem claros na balança para que possamos pesar o que é grave. Pense
nisso e em tudo que vem acontecendo e sendo noticiado em nossa cidade: basta de
tanto racismo e preconceito!!!
*Arte: Carlos Latuff de 2009, mas sempre atual.