Segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Por Adriano Benayon*
Defino o capitalismo como um sistema econômico e político
no qual capitais privados vão sendo cada vez mais concentrados nas mãos de
poucos oligarcas dominantes. Isso lhes permite conquistar não só as grandes
empresas financeiras e produtivas, mas também o Estado.
2. Isso acontece sob regimes abertamente fascistas e
também sob regimes aparentemente democráticos, em que o dinheiro e a mídia, a
serviço dos oligarcas, controlam o sistema político e o resultado das eleições.
3. O capitalismo nos países centrais, mercê notadamente de
guerras que envolveram os aspirantes à hegemonia, tornou-se, ao longo dos
últimos 350 anos, um sistema de poder mundial, sob a hegemonia do capitalismo
britânico, que depois consolidou sua associação com o norte-americano, formando
o império angloamericano.
4. Atualmente, restam duas potências não subordinadas ao
império, China e Rússia, capazes de propiciar equilíbrio na balança do poder
mundial. Sem esse equilíbrio, não há como país algum, no mundo, desenvolver-se.
5. Veja-se a anomia prevalente no cenário mundial, do
início dos anos 1990 até há pouco, período em que o império angloamericano
cometeu colossais genocídios: na Iugoslávia, seguindo-se Iraque, Afeganistão,
novamente Iraque, Líbia, para citar só alguns. Agora, em pauta, a Síria.
6. O auge da tirania imperial corresponde no Brasil aos
governos Collor e FHC. Na Argentina, ao de Menem, e mais exemplos vergonhosos
mundo afora.
7. O enfraquecimento e dissolução da União Soviética
haviam deixado o planeta à mercê do império, secundado por seus satélites.
8. Mas a China vem ganhando poder em todos os campos, e a
Rússia reafirma-se como potência nuclear e balística de grande porte.
9. Isso lhes dá autonomia nas decisões políticas e
econômicas, e limita um pouco a tirania exercida pelo império angloamericano em
âmbito global.
10. Se se tivessem mantido abertos à influência do
império, não teriam alcançado o status de potências mundiais. Para tanto,
precisaram de regime centralizado e fechado.
11. As histórias da Coreia do Sul e de Taiwan ilustram a
mesma constatação: para se desenvolverem, tiveram governos militares
nacionalistas, devido a circunstâncias especiais: a presença do comunismo na
China e na Coreia do Norte, com apoio do Exército Vermelho da China de Mao Dze
Dong. Este havia empurrado os partidários de Chiang Kai Chek para Taiwan
(Formosa), onde se instalaram sob a proteção da esquadra norte-americana.
12. Em suma, os EUA precisavam deixar fortalecer-se
aqueles dois países, empobrecidos pela exploração colonial e pela ocupação
japonesa, além de devastados por guerras, antes e durante a 2ª Guerra Mundial.
Do contrário, seus povos seriam reunidos a seus compatriotas sob governos
comunistas.
13. Em nossa história, como na da Argentina, houve
progressos para o desenvolvimento, exatamente sob regimes autoritários, no
período entre-guerras da 1ª metade do Século XX e durante a 2ª Guerra Mundial.
14. O senador Severo Gomes, desaparecido no mar, em 1992,
comentava que a arrancada para o desenvolvimento da Argentina e do Brasil fora
possível graças ao relativo isolamento comercial propiciado pela 1ª Guerra
Mundial (1914-1918) e pela depressão dos anos 1930, seguida da 2ª Guerra
Mundial (1939-1945).
15. A melhora das estruturas econômica e social só se pode
realizar sob condições de poder central forte, como, no Brasil, as dos anos
subsequentes à Revolução de 1930 e no Estado Novo (1937-1945), mercê da
consciência nacionalista do Exército e da visão esclarecida e habilidade do
presidente Vargas.
16. Como tenho exposto, Vargas foi injusta e
incessantemente acoimado de ditador por agentes do império, horrorizado com a
perspectiva de o País atingir o desenvolvimento econômico e social.
17. Por isso não cessavam de injuriar o presidente os
adeptos do império angloamericano, fosse fascinados pela democracia de molde
ocidental, fosse a soldo daquele império.
18. Tive, com frequência, ocasião de trocar ideias com
Severo Gomes, empresário e antigo ministro da Indústria e Comércio (MIC) no
governo do general Geisel. Também, com outros grandes brasileiros: o general
Andrada Serpa, o físico Bautista Vidal (secretário de Tecnologia Industrial do
MIC com Severo Gomes e criador do Programa do Álcool, Energia da Biomassa), e o
Dr. Enéas Carneiro.
19. Todos tinham consciência plena de que o
desenvolvimento só é possível com autonomia nacional e que um dos requisitos
para esta existir é a autonomia industrial e tecnológica, inclusive com domínio
da energia nuclear aplicada à defesa.
20. O que precede significa que, para o Brasil, é vital
ter estratégia que:
1) contemple estarem as potências hegemônicas intervindo
permanentemente em nosso País;
2) acompanhe a balança do poder em âmbito global,
avaliando a medida em que o império se veja obrigado a concentrar recursos e
atenção em outras regiões.
21. Dado o nosso recuo econômico, financeiro e tecnológico
– crescente nos últimos decênios – a chance de êxito que possa ter o projeto de
sobrevivência do País depende de unir o máximo possível das forças nacionais.
22. Estas têm sido agudamente divididas em direita e
esquerda, ao longo dos últimos 85 anos. O marco foi a Revolução de 1930, a qual
abriu a perspectiva de desenvolvimento do País.
23. Em seguida, o império angloamericano fomentou novos
separatismos e passou a investir mais intensamente em cooptar e corromper
locais, notadamente na mídia, como Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, dono
dos Diários Associados, a maior cadeia jornalística da época.
24. Já no mandato de Vargas assumido em 1951, indagado
Chatô, por que atacava o presidente e abria total espaço na TV a Carlos
Lacerda, seu virulento e audacioso adversário, respondeu: “se ele desistisse de
criar a Petrobrás, eu passaria apoiá-lo e lhe daria espaço em minha rede de
comunicação”.
25. Outro, foi o notório Roberto Marinho, dono de O Globo
desde 1931. Esse, desde 1964, recebeu favores oficiais e fartos recursos
norte-americanos para tornar-se dominante na comunicação social.
26. Mais tarde, o império declarou, através de Henry
Kissinger, que não podia tolerar o surgimento de uma potência no Hemisfério
Sul. Assim, foram cavados profundos fossos ideológicos entre brasileiros e n
outros modos de intervenção.
27. Em 1932, Londres fomentou a falsamente denominada
Revolução Constitucionalista, em São Paulo, que se poderia ter transformado em
guerra separatista do Estado onde a industrialização despontava promissora.
28. A constitucionalização real veio em 1934, preparada
por Vargas desde antes daquela teleguiada “revolução”. A insurreição comunista,
em 1935, tempo de grande polarização esquerda/direita, reflexo do cenário
europeu antecedente à 2ª Guerra Mundial.
29. Era muito pequeno o número de operários organizados, e
a geopolítica dava chances nulas de êxito aos comunistas brasileiros: poder
naval do império britânico absoluto no Atlântico Sul, e proximidade dos EUA.
30. Sendo incipiente o desenvolvimento do poder militar da
União Soviética (URSS), não havia como esta apoiar o levante comunista no
Brasil. Ademais, Stalin dava prioridade à infra-estrutura industrial da URSS.
Não apostava na revolução internacional, ao contrário de Trotsky, alijado do
poder.
31. Entre os comandados de Prestes, infiltraram-se agentes
do Intelligence Service, o M16 britânico, e os planos dos ataques eram
previamente conhecidos das forças legalistas.
32. O resultado da insurreição de 1935 foi exacerbar a
polarização ideológica, de interesse exclusivo do império anglo-americano.
33. Pior, sua memória tem servido à irracionalidade que
faz reprimir, atribuindo-se-lhes ser comunistas, os que se opõem ao império
angloamericano ou não fecham os olhos aos crimes deste.
34. Seguiu-se o golpe de 1937, que instituiu o Estado
Novo, repressor de comunistas e outros. A geopolítica e a influência da finança
angloamericana determinaram a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial:
bases no Nordeste para as FFAA dos EUA e envio da Força Expedicionária à
Itália, vinculada a comando norte-americano.
35. Entretanto, o império não hesitou em patrocinar o
golpe de 1945 e as intervenções subsequentes, que prosseguem até hoje, e vêm
logrando seus objetivos desde agosto de 1954:
a) desnacionalizar e a desindustrializar o Brasil,
impedindo o desenvolvimento de tecnologias controladas por empresas nacionais,
tanto privadas como estatais;
b) enfraquecer as Forças Armadas e a capacidade
estratégica do País, indústrias básicas, infra-estrutura e o domínio da energia
nuclear;
c) desinformar e abaixar o nível de educação dos
brasileiros, investindo na anticultura e na demolição dos valores éticos
indispensáveis à evolução de nação próspera e equilibrada;
36. Esse processo tem sido realizado não só durante
governos claramente subordinados aos interesses financeiros angloamericanos
(Café Filho, JK, Castello Branco, Collor e FHC).
37. Também, durante os demais, que, no essencial, cederam
às pressões imperiais, não obstante terem tido, setorialmente, patriotas
voltados para o desenvolvimento nacional.
38. Destaque-se, ademais, que eleições dependentes de
dinheiro grosso e grande mídia levaram a desastres de origem parlamentar,
inclusive a presente Constituição e emendas.
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*Adriano Benayon é doutor em economia
pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.