Da Tribuna da Imprensa
Por CLAUDIA WALLIN -
Via Via DCM
O texto abaixo é um trecho do livro “Um País Sem Excelências e Mordomias”.
Políticos
e juízes suecos não têm o exótico privilégio de circular em carros com
motorista pagos com o dinheiro do cidadão: aos parlamentares apenas, dá-se a
regalia de receber um cartão anual para viajar gratuitamente nos transportes
públicos. Os que moram nos subúrbios da capital cumprem a rotina típica dos
trabalhadores ditos normais, balançando em vagões de trem ou metrô a caminho do
escritório. Deputados mais dispostos vão de bicicleta, se o frio ainda não é
inclemente. Quem foge às regras e se atreve a pegar um táxi, sofre a fúria
vulcânica da mídia e do eleitorado. Na manchete do jornal sueco Expressen,
estampou-se a ousadia de uma deputada: ”Mikaela Valtersson (Partido Verde)
pegou táxi em vez de tomar o trem”.
Ao
cruzar a fronteira da imprudência, a deputada Mikaela Valtersson (Partido
Verde, Miljöpartiet) virou notícia em vários jornais: Mikaela cometeu o
desatino de gastar o dinheiro do contribuinte pegando táxi. Segundo o jornal
Expressen, a investigação das despesas da deputada mostrou que em 2011 ela
pegou táxi 43 vezes durante um período de seis meses, ”a um custo de 17 mil
coroas (cerca de 2,6 mil dólares) do dinheiro do contribuinte, apesar de morar
perto de uma estação de trem”.
O
jornal indica que muitas corridas de táxi foram feitas tarde da noite, do
Parlamento ou da estação central de trem de Estocolmo até a casa da deputada.
Outras corridas foram feitas pela manhã. A deputada alegou que foi um período
de trabalho excepcionalmente intenso, durante o qual trabalhou dia e noite com
a questão do orçamento.
”Tive
que trabalhar muitas vezes até tarde da noite, em horários em que havia pouco
ou nenhum serviço de trem. Foi um período tão extenuante que me senti obrigada
a pegar táxi para poder dar conta de trabalhar”, disse Mikaela, logo ela,
representante do partido mais contundente na elegia ao transporte coletivo.
”Jamais
tomaria um táxi em vez de trem, em circunstâncias normais”, defendeu-se
Mikaela. Que acabou perdendo, naquele ano, a eleição interna para a liderança
do Partido Verde sueco (o partido não tem um presidente, e sim dois
porta-vozes, sempre um homem e uma mulher).
”O
Presidente do Parlamento também vem de metrô para o trabalho”, diz Maria
Skuldt, da Secretaria de Imprensa do Parlamento.