
Por Mauro Santayana
(Jornal do Brasil) - Pressionada, ainda antes de sua
vitória nas urnas, pela oposição, o discurso neoliberal de enxugamento do
Estado, e pelos erros - em princípio bem intencionados - cometidos nas
desonerações, durante seu primeiro mandato, a Presidente Dilma Roussef fez mal
em trocar a equipe econômica, e, de olho nas agências internacionais de
"qualificação", ter cedido à chantagem do "mercado",
colocando banqueiros para cuidar da economia brasileira, seguindo a receita
ortodoxa de mais juros e mais arrocho, sob o mal disfarçado rótulo de
"ajuste".
O campo neoliberal, dogmático e entreguista, e o sistema
financeiro internacional, decidido e determinado a fazer com que o Brasil se
submeta novamente, de corpo inteiro, a seus ditames, hipócritas e autoritários,
agem como o lobo no cerco ao pobre cordeiro da fábula de La Fontaine.
De nada adiantou o Brasil ter abaixado a cabeça e tentado
fazer o "dever de casa", comprometendo-se a promover o
"ajuste" e aumentando os juros. O rebaixamento - sórdido e imbecil
aplicado por uma empresa multada em mais de um bilhão de dólares por ter
enganado investidores, profissional e moralmente descreditada no exterior,
entre outras personalidades, pelo Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que
já chamou de palhaços seus analistas - veio do mesmo jeito, no bojo da
estratégia geral de paulatino, lento "sangramento" do atual governo,
por meio da Standard & Poors.
Agora, segue o baile, com o país paralisado, por causa da
previsão de um ridículo déficit de 30 bilhões de reais no orçamento, que
poderia ser de 60 ou 90 bilhões, que ainda assim não chegaria sequer a 10% de
nossas reservas internacionais e o governo continua deixando que a imprensa e a
oposição, dentro e fora do Congresso, ditem a pauta nacional, apedrejando o
"aumento" dos impostos sobre o "povo", de um lado, com a
CPMF, ao mesmo tempo em que impedem, com a outra mão, o aumento da taxação
sobre os bancos, que estão - vide seus lucros - deitando e rolando com o
constante aumento dos juros, principalmente, os da taxa SELIC.
Ora, o que o governo tinha que fazer é dizer que vai tirar
10 ou 20 bilhões de dólares das reservas internacionais, de 370 bilhões de
dólares, acumuladas nos últimos anos, para cobrir esse suposto
"buraco", cuja importância a imprensa conservadora tem multiplicado,
já que significa uma quantia simbólica perto do PIB de mais de 2 trilhões de
dólares (no ano passado alcançou 2.345 trilhões de dólares).
Ele poderia também suspender a proposta de imposto sobre a
CPMF - que a população acha, erroneamente, que vai sangrá-la, quando ele é
quase simbólico e facilitaria o combate à sonegação e à lavagem de dinheiro -
taxando imediatamente os bancos, para aumentar a arrecadação, sem mexer
no bolso do contribuinte, usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal
para evitar a explosão das tarifas.
E colocar os empresários da área produtiva, a FIERJ e a
FIESP, para conversar com o Banco Central (leia-se COPOM) para baixar,
paulatinamente, os juros, aliviando a situação fiscal do governo e revertendo
psicologicamente a percepção exagerada de crise e de recessão promovida pela
mídia conservadora, já que a queda recente da inflação, principalmente de
alimentos, permite isso.
Isso, sem mexer no câmbio, cuja trajetória vem valorizando
as reservas internacionais com relação ao real, diminuindo a dívida líquida
pública, e reativando setores industriais de uso intensivo de mão de obra, que
estão voltando a exportar.
Se o Brasil estivesse quebrado e sem saída, tudo
bem.
Mas temos mais de um trilhão de reais em dólares, as
sextas maiores reservas do mundo, e somos, depois da China e do Japão, o
terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos, números que -
devido à proverbial incompetência do governo e do PT na área de comunicação,
além da blindagem dos grandes meios de comunicação - continuam fora do alcance
da percepção e do conhecimento da imensa maioria do povo brasileiro.
Em uma situação de cruenta guerra política, e,
principalmente, ideológica, como é o momento, com o avanço do fascismo nas ruas
e na internet, não há, para qualquer governo, pior tática do que abandonar seus
princípios para ceder paulatinamente à pressão do adversário, na esperança de
que essa pressão se alivie.
Até porque ela só tende a piorar cada vez mais,
sadicamente - como o aperto implacável e constante, ininterrupto, do Garrote
Vil, volta a volta do torniquete, no pescoço dos prisioneiros, pelas mãos dos
carrascos na Espanha, nos tempos da ditadura de Franco.