Segunda,
18 de janeiro de 2016
Do
El País — Brasil
Por
Gil Alessi
Collor, FHC, Lula e Dilma foram mencionados nos autos
recentes das investigações
Não existe recesso para a Operação Lava Jato. Pelo menos não para os
vazamentos de informações que acompanham a investigação. Antes mesmo do
primeiro mês do ano ter chegado ao final, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Collor
de Melo (PTB-AL) e a atual mandatária Dilma Rousseff foram citados nos autos. Além dos quatro, o chefe da Casa
Civil da petista e homem-forte em evidência no Governo, Jaques Wagner, também aparece em delações premiadas. Até o
momento, apenas o petebista é alvo de acusações formais por parte da
Procuradoria-Geral da República, mas existe a expectativa de que a menção a
nomes ligados ao Governo possa colocar mais lenha na fogueira da crise
política, em um momento no qual o Planalto parecia respirar ares mais
tranquilos após um 2015 massacrante.
Lula, Dilma, FHC e Collor. R. Stuckert Filho/PR
Lula foi citado duas vezes. Primeiro na denúncia da PGR
protocolada no Supremo Tribunal Federal contra o deputado
federal Vander Loubet (PT-MS). Documento obtido pela Folha de S.Paulo
mostra que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que o então
presidente petista concedeu ao senador Fernando Collor (PTB-AL) "ascendência"
sobre a BR Distribuidora, uma subsidiária da estatal, "em troca de apoio
político à base governista no Congresso Nacional". Por sua vez, Collor
indicou dois nomes para cargos na empresa que seriam responsáveis pelo
pagamento de propina ao senador. Em nota, o Instituto Lula afirmou que os
diretores da petroleira e das empresas controladas por ela foram feitas por
partidos, e não pelo petista. O senador petebista chamou de “falsas” as
acusações.
Além disso, o ex-diretor da área internacional da Petrobras
e colaborador da Justiça Nestor Cerveró, cuja
delação premiada foi aceita, disse também que o petista teria sido o
responsável pela indicação da construtora WTorre Engenharia para a obra de um
prédio da estatal no centro do Rio, ainda de acordo com a Folha. O
delator teria ficado sabendo da negociação por intermédio do ex-diretor da estatal
Renato Duque, também preso pela Lava Jato.
As citações a Wagner, FHC e Lula tem relação direta com a
prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Isso porque os
vazamentos tiveram como base documentos encontrados no gabinete do parlamentar,
com o conteúdo de parte da suposta delação premiada de Cerveró. Não se sabe
como ele obteve o material. No texto apreendido, o ex-diretor da estatal diz
que foi feito “um grande aporte de recursos” desviados da Petrobras para
irrigar a campanha de Wagner ao Governo da Bahia em 2006. Além disso, o chefe
da Casa Civil é citado em mensagens apreendidas no telefone celular do
empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, que falam sobre um esquema de corrupção envolvendo
fornecedoras da Petrobras e fundos de pensão. Em um dos textos, o empresário
fala sobre um impasse nas negociações, e cita “o nosso amigo JW”, que seria o
código com as iniciais do petista.
Também saíram dos documentos apreendidos com Delcídio a citação
a FHC. De acordo com os papeis, a aquisição da empresa petrolífera argentina
Pérez Companc pela Petrobras envolveu uma propina ao Governo do tucano de 100
milhões de dólares. No texto o ex-diretor não explica para quem teria ido a
suposta propina, nem o responsável pelo pagamento. O tucano disse não ter
conhecimento da matéria, e disse que as acusações são vagas. “Na época o
presidente da Petrobras era Francisco Gros, pessoa de reputação ilibada e sem
qualquer ligação político-partidária”, disse FHC. O próprio ex-mandatário, no
entanto, comenta em seu diário sobre o cotidiano do poder recém-lançado sobre supostas negociatas na estatal, sem falar de
outras citações de opositores ao longo das investigações
A citação a Dilma é baseada na delação de Cerveró prestada à
Procuradoria-Geral em 7 de dezembro. Segundo o jornal o Estado de São Paulo
, o ex-diretor disse ter ouvido do senador Fernando Collor (PTB-AL) menção à presidenta
Dilma. Em setembro de 2013, Collor teria afirmado que suas negociações para a
indicação de cargos de chefia na BR Distribuidora haviam sido conduzidas
diretamente por Dilma. “Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a
presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à
disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da
BR Distribuidora”, diz o trecho citado pelo jornal. O Planalto afirmou que não
iria comentar as declarações. Mas, no Congresso, há reações. Advogados de
partidos da oposição cogitam incluir a delação de Cerveró nas ações que
tramitam contra a presidenta no Tribunal Superior Eleitoral, que visam a
cassação dela e do vice, Michel Temer. O processo volta a correr em
fevereiro, quando também voltam a funcionar regularmente a Justiça e os
trabalhos legislativos e os atores políticos voltarão a medir as condições para
levar adiante um processo de impeachment. A presidenta Dilma encerrou o ano em
relativa vantagem nesse quesito, com relativo controle sobre parte da bancada
do PMDB, mas não há margem suficiente para dizer que a ofensiva de destituição
está ferida de morte.