Há 13 anos, no dia 13
de janeiro de 2003, morria o senador Lauro Campos, um político que sempre
pautou sua vida com rigorosa seriedade, ética, competência, combatividade. Foi, certamente,
um dos maiores senadores que a República teve.
Os três parágrafos
seguintes constam da carta do senador Lauro Campos ao PT, quando da sua
expulsão, como ele afirmava. A íntegra do documento —entregue a José Dirceu, na
época presidente nacional do partido, ex-deputado federal, condenado por corrupção
no processo do Mensalão do PT, e hoje preso em Curitiba, sob a acusação de
participação também no escândalo da Lava-Jato —pode ser lida na parte final desta
postagem.
"A este partido menor devo minha expulsão, que recebo de pé"
"Por outro lado, [o PT] recebe dinheiro das empreiteiras, vendendo
o silêncio e a complacência para com os assaltantes do erário, comprometendo-se
implicitamente com a não apuração das maracutaias e tranquibérnias. O PT,
infelizmente, levou a luta dos trabalhadores para os tapetes do Congresso,
campo em que sempre vencem os ácaros e o mofo."
"A dualidade que divide o Partido é a de uma moralidade
esotérica, intramuros, de uso interno e limitado, e uma moral exotérica, com a
qual se apresenta à imprensa..."
Trechos de textos extraídos da Fundação Lauro Campos
Quem foi Lauro Campos
Lauro Alvares da
Silva Campos, casado, quatro filhos, nasceu em 14 de dezembro de 1928, em Belo
Horizonte, Minas Gerais. Filho de Carlos Álvarez da Silva Campos e Maria das
Dores Brochado Campos. Faleceu em 13 de janeiro de 2003.
Em 1953, concluiu o
Curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais.
Terminou em 1958 pós-graduação em Economia do Desenvolvimento, na Universidade
Pro DEO, em Roma, na Itália. O título de Doutor em Ciências Jurídicas obteve em
1963, em concurso para catedrático em Economia Política na Universidade Federal
de Goiás, onde lecionou também História do Pensamento Econômico.
Moeda, Crédito e
Banco e Análise dos Problemas Sociais são algumas das disciplina que ministrou
na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais,
entre 1954 e 1976. Proferiu aulas, como visitante, na Universidade de Sussex,
na Inglaterra, em 1976. Integrou o Departamento de Economia da Universidade de
Brasília, de 1966 a 1991, tendo passado em 1971 ao corpo docente do Curso de
Mestrado. Elaborou o projeto de criação e a estrutura do Curso de Relações
Internacionais da UnB.
Eleito, pelo Distrito
Federal, Senador da República para o período de 1995 a 2003, integrou como
membro titular no Senado Federal a Comissão de Assuntos Econômicos (desde 1995)
e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (a partir de 1999). Foi também
titular da Comissão de Educação (1995-1998) , na qual depois foi suplente,
condição em que atuou na Comissão de Assuntos Sociais (a partir de 1997).
Participou também, como suplente, das Comissões de Fiscalização e Controle
(1995 – 1996) e de Serviços de Infra-estrutura (1995 – 1998).
Crítico
implacável
Formado em Direito e
Economia, Campos sempre marcou seus discursos com críticas implacáveis ao
neoliberalismo e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2001, quando rompeu
com o PT, não poupou munição ao estilo light de Luiz Inácio Lula da Silva,
então pré-candidato à presidência da República.
Ruptura
com o PT
Marxista, Lauro
Campos filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) em 1981. Pertenceu à ala
esquerda do partido e foi por ele que conseguiu eleger-se senador, em 1994, com
352.165 votos. Iniciou o mandato no mesmo ano em que o então aliado Cristovam
Buarque assumiu o Governo do Distrito Federal. Oito anos depois, a atuação
combativa no Senado e a rivalidade adquirida com Cristovam levaram Lauro Campos
a uma ruptura radical com o PT.
O estopim foi a
declaração do então presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva,
de que o ex-governador Cristovam Buarque seria o ‘‘melhor candidato’’ petista
ao Senado em 2002. Campos avaliou o posicionamento de Lula como uma
intervenção. ‘‘O que o Lula veio fazer aqui foi me expulsar. Eu me considero
expulso. Quem está expulso, não discute’’, disse na época.
Ele queria concorrer
à reeleição, mas tinha Cristovam como adversário dentro do partido. Criou-se um
racha interno. No auge da crise, Lauro Campos chegou a declarar que o governo
de Cristovam tinha sido pior do que o de Roriz e admitiu que não havia votado
no colega petista para a reeleição ao GDF, em 1998.
Em 16 de abril de
2001, Lauro Campos deixou o PT e foi acolhido na legenda do PDT de Leonel
Brizola.
Decepção
‘‘Sob certo aspecto,
o governo do Cristovam foi mais nefasto (do que o de Roriz). Porque muita gente
pensava que Cristovam fosse socialista, petista, no sentido radical do termo.
Para elas, a desmoralização e a decepção com o Cristovam significam decepção
com o socialismo. Mas ninguém pode se decepcionar com o socialismo diante de um
governo de Roriz. A desmoralização do governo Roriz é muito menos grave que a
desmoralização do governo do professor Cristovam’’, criticou Lauro, em
entrevista à imprensa em dezembro de 2001.
- - - - - -
- - - - -
Morre
o senador Lauro Campos
Crítico ferrenho da
política neoliberal e do Fundo Monetário Internacional(FMI), o senador foi
velado, a partir das 10h de 14 de janeiro de 2003, no Salão Negro do Congresso
Nacional. O enterro foi à tarde na ala dos pioneiros no Campo da Esperança.
Discursos inflamados
e uma crítica feroz ao capitalismo foram características marcantes da carreira
do senador Lauro Campos (PDT). Derrotado nas urnas em 6 de outubro de 2002 e
debilitado por causa de um infarto sofrido quatro dias depois das eleições,
Lauro Campos morreu às 14h30min de 13 de janeiro de 2003, no Instituto do
Coração (Incor), em São Paulo. A assessoria de imprensa de Campos informou que
ele morreu em decorrência de uma infecção hospitalar.
O senador sofreu um
infarto no dia 10 de outubro de 2002, no plenário do Senado. Levado às pressas
para o Hospital Santa Lúcia, não precisou ser operado. Mas teve várias complicações
em seu estado de saúde durante o tratamento. Os remédios provocaram
comprometimento das funções renais e hepáticas de Lauro Campos e o levaram a
outras internações. No dia 10 de dezembro, a família decidiu transferi-lo para
o Incor. Campos passou o aniversário de 74 anos, comemorado no dia 14 de
dezembro, internado.
Na véspera do Natal,
a equipe médica do Incor deu alta ao senador, mas ele nem chegou a ir para
casa. Uma febre levantou a suspeita de infecção e obrigou-o a permanecer
internado. A partir daí, seu estado de saúde só piorou. A febre não cedeu com
medicação. Ele teve de ir para a UTI e permaneceu em coma induzido por vários
dias até morrer.
O advogado Ulisses
Riedel de Resende assumiu a vaga de Lauro Campos no Senado por 17 dias, até a
posse dos senadores eleitos em 2002.
- - - - - -
- - - - -
LAURO
CAMPOS (1928-2003)
A
homenagem que a mídia não fez
Ivo
Lucchesi (*) — Observatório da Imprensa
Corretíssimo está o
jornalista Alberto Dines quando defende radicalmente a inexistência de qualquer
censura à imprensa. Não menos certo, ao afirmar que, em lugar da censura, há de
vigorar o permanente estágio de vigília crítica sobre os passos dados pela
mídia, sendo, aliás, esta a função do OI. É, portanto, perseguindo tal
propósito que não se pode deixar de registrar omissão recente.
É sabido de longa
data que, resguardadas as exceções de sempre, a parceria entre mídia e
intelectual é, no mínimo, tensa ou conflitiva, principalmente no Brasil das
últimas três décadas. É possível que a responsabilidade caiba a ambas as
partes. A apuração mais criteriosa acerca desse fato requereria escrita de
outra ordem. No caso, pretende-se apenas assinalar o melancólico tratamento
jornalístico que a “grande imprensa” destinou ao falecimento, em 13 de janeiro
deste ano, de um dos mais ilustres, talvez o mais completo, membro do Senado:
refiro-me ao senador Lauro Campos (PDT-DF). Nele se harmonizavam a envergadura
intelectual, a retidão do caráter e a combatividade, cuja origem provinha de
alentados estudos e de não menos enraizadas convicções. A cada participação na
tribuna, correspondia uma riquíssima aula para uma platéia nem sempre à altura.
Enfim, o senador permitia, com sua retórica, que outros absorvessem um pouco
mais de conhecimento, ainda que, para a maioria, o fosse desnecessário. A
“grande imprensa” nada lhe dedicou fora de burocráticos e habituais obituários.
Perdeu-se oportunidade, como poucas, para enaltecer-se a figura de um político
destituído de qualquer sombra inoportuna capaz de acinzentar-lhe a luminosa trajetória
de décadas.
Pobre jornalismo
aquele que não desenvolve a sensibilidade para perceber quando, de maneira
efetiva, pode tornar-se um instrumento de ativa contribuição para o caráter
nacional. Sabendo-se que, para a maioria da população, a figura do político não
goza da mais plena credibilidade (e não faltam razões para isso), essa era a
hora de oferecer-se a essa mesma população o contraponto, evitando a corrosão
progressiva e de efeitos perigosos a todos. É óbvio que propinas desviadas para
a Suíça devam merecer diligente acompanhamento e intensa investigação. Todavia,
esse foco não exclui o reconhecimento de quem, na vida pública, exerceu sua
função com mais plena dignidade. Infelizmente, a morte do senador passou ao
largo, em simplórias e marginais matérias informativas. Que pena.
Mídia
e o político intelectual
O negligenciamento
com o qual a mídia tratou o falecimento do senador não difere daquele que ela
lhe conferiu em vida. Afora episódicas aparições, por conta de livros
publicados, Lauro Campos, ao longo de seus mandatos, jamais foi escolhido para
ser exposto a refletores ou a gravadores. Em outras palavras, não era o
político palatável ao tempero midiático, diferentemente de outros que sempre
estão na vitrina. Por outro lado, nenhum fato ao redor da vida do senador
oferecia enredo interessante para uma novela lacrimejante ou de perfil
detetivesco. Ou seja, por ser correto e intelectual, não poderia ser
contemplado com o benefício do suporte midiático, sempre à espreita do próximo
escândalo ou desvio de conduta. Volto a frisar: nada contra, mas que se realce
a outra face, sob pena de sucatear a ainda frágil democracia brasileira.
Outro ponto merece
comentário. O descaso da mídia já fora antecipado pelo alto escalão do PT,
partido do qual, desde a fundação, Lauro Campos fora signatário – elo que teve
de ser desfeito quando, em abril de 2001, a cúpula do PT achou mais oportuno
optar pelo nome de Cristovam Buarque. Ao então senador Lauro Campos não restou
outra opção além da saída. Triste do partido que para preservar um perde outro.
Feliz do partido que pode escolher entre dois belos nomes. A realidade, por
vezes, cria injustas injunções… O emérito professor de Economia Política da UnB
acabou ingressando no PDT. Com a nova legenda, o senador conheceu a amarga
recusa do eleitorado do Distrito Federal, que preferiu, além da merecida vaga
obtida por Buarque, dar a outra ao senhor Paulo Otávio (PFL). Lauro Campos foi
relegado à humilhante quarta votação nas eleições de outubro passado. Enfim,
desvios do jogo eleitoral produzem distorções que exigem acatamento. Tomara que
os eleitores brasilienses não se arrependam tardiamente. Afinal, eles poderão
consolar-se com os eleitores cariocas que levaram ao Senado o “amado pastor”,
deixando de fora nomes como o de Leonel Brizola e Artur da Távola (Paulo
Alberto Monteiro de Barros). É curioso que, entre os três excluídos, algo de
comum haja: história e conhecimento.
Entre
o casamento e o divórcio
O que efetivamente
aqui se está tentando pontuar é o divórcio entre a mídia e o intelectual. Que
razão obscura insiste em lançar ao ostracismo aquele que criticamente se
posiciona? Que mal profundo a voz independente pode produzir à rede
corporativista? Quais concessões são exigidas pela mídia para, em troca, dar
visibilidade? Nesse momento da vida brasileira em que se mobiliza o sentimento
de “esperança” e de “transformação” (será?), talvez se faça oportuna uma
revisão profunda quanto a certos procedimentos e compromissos.
Em clima de injetada
esperança – e que não seja traída por enganosas mudanças –, não será papel da
mídia, ao invés de diariamente focalizar abraços e beijinhos, casar-se com o
refortalecimento da inteligência, como valor com o qual uma nação possa aspirar
à efetiva autonomia? Será, por outra, que a mídia (ou, pelo menos, a “grande
imprensa”) insistirá em joguinhos de “disse-me-disse” e outras picuinhas mais?
Está aí. A hora para mudança é agora. Recusada, vingará, como sentença, a
afirmação de Lauro Campos, quando de seu desligamento do PT: “Não há mais uma
consciência crítica”.
Ainda que a mídia não
venha a fazer a sua parte no “pacto da mudança”, poderá o (e)leitor colaborar
consigo mesmo lendo três primorosas obras desse mais que senador – um
intelectual dedicado ao aprimoramento do pensamento crítico. Em 1980, Lauro
Campos publicou A crise da ideologia keynesiana; em 1991, O PT frente do
capitalismo. Por fim, em 2001, em obra à qual o senador intelectual dedicou
mais de década de estudos e revisões, foi lançado A crise completa: a economia
política do não. Sem dúvida é sua obra mais completa e madura, na qual sinaliza
horizontes preocupantes com base em criteriosa análise sobre os rumos
econômicos e políticos da contemporaneidade, destacando o “império das
não-mercadorias”.
No mais, fique o
agradecimento por uma vida exemplar, como intelectual e político. Lauro Campos
era o símbolo que melhor encarnava a relação entre o conhecimento e sua
destinação pública. O lamento profundo é o de saber que os espaços da política
brasileira não foram justos quanto ao potencial de uma figura pública tão
preparada quanto – da maioria – desconhecida. Que mais poderá haver a lamentar,
sob a atmosfera dos alegres “Tristes Trópicos”?
(*)
Ensaísta, doutorando em Teoria Literária pela UFRJ, professor-titular da Facha,
co-editor e participante do programa Letras & Mídias (Universidade Estácio
de Sá), exibido mensalmente pela UTV/RJ
Fonte: Observatório da Imprensa
= = = = = = = = = = = = = =
Leia adiante a íntegra da carta de Lauro Campos ao sair (ser
expulso) do PT.
Brasília, 15 de abril
de 2001
Exmo. Sr.
Deputado José Dirceu
Presidente do Partido
dos Trabalhadores
Com sofrimentos e
decepções crescentes, padecidos por mais de vinte anos de militância no Partido
dos Trabalhadores, venho, pela presente, declarar que aceito a expulsão que
V.Sª e o presidente "de honra" (sic) do PT fizeram recair sobre minha
modesta pessoa.
Esquadrinhando a
memória, concluí que a intervenção executada pela segunda vez no PT - DF, pela
cúpula nacional - por meio das declarações de Luis Ignácio em matéria do dia 12
no Correio Braziliense - e que teve por objetivo coarctar o processo de livre
escolha dos candidatos aos cargos majoritários, evidencia que a ditadura pelega
e intelectualóide que se instaurou no PT venceu arrasadoramente. "Aos
vencedores, as batatas", repito, machadianamente.
Reconheço que a crise
completa do capitalismo desfoca, confunde e "coloca o mundo de cabeça para
baixo", na conhecida e feliz determinação de Marx, aquele que foi expulso
das estantes e da prática petistas. A crise do capital revela a natureza
oculta, latente e real do sistema, como ocorre quando o chão lamacento e
acomodado de um lago tranqüilo e límpido é revolvido pela agitação externa.
Mário Covas disse que
o "PSDB é, hoje, o anti-PSDB". O PT, desejando vencer ou vencer, sequioso
por se tornar confiável às "elites bandidas" (Rubem Ricúpero),
confiável aos credores internacionais, aos latifundiários, aos militares e aos
banqueiros caboclos sobreviventes, proerizados, adota novas e amareladas
bandeiras, plagiadas do PSDB ou empunhadas pelo PFL.
Apóia, por um lado, o
salário mísero de 180 reais por mês, acinte aos trabalhadores da base aos quais
o PT cupulista e elitizado adere com paixão traiçoeira e acrítica. Por outro
lado, recebe dinheiro das empreiteiras, vendendo o silêncio e a complacência
para com os assaltantes do erário, comprometendo-se implicitamente com a não
apuração das maracutaias e tranquibérnias. O PT, infelizmente, levou a luta dos
trabalhadores para os tapetes do Congresso, campo em que sempre vencem os ácaros
e o mofo.
O PT é obrigado a
adotar uma dupla e falsa ética ao desconhecer as diferenças entre a moral do
capital e a ética dos trabalhadores. A dualidade que divide o Partido é a de
uma moralidade esotérica, intramuros, de uso interno e limitado, e uma moral
exotérica, com a qual se apresenta à imprensa e que o obriga a pedir CPIs e
defender uma certa assepsia administrativa e política, cada vez mais rala na
prática.
O Partido dos
Trabalhadores, ao se neoliberalizar, adotou o enxugamento e a desestruturação:
a partir de 1988 desmanchou sua estrutura democrática e arejada, baseada em
núcleos, comitês e em ligação com os sindicatos - embrião dos sovietes
democráticos e da socialização do exercício do poder político. A despetização
do Partido e o medo da proximidade com a CUT enfraqueceram o movimento e a
organização dos trabalhadores, no momento em que todas as forças da crise e da
dita modernização se abatiam sobre a classe espoliada.
Várias versões
mentirosas e que visam justificar a globalização da espoliação - como a que
afirma a possibilidade de "globalização sem exclusão", tão verdadeira
quanto a existência de um fogo que não queima ou de uma chuva que não molha -
são oficializadas pela cúpula. Entre as desculpas covardes, destaca-se a de que
os trabalhadores brasileiros merecem o desemprego porque não conseguiram se
modernizar, pôr-se à altura das novas tecnologias. Culminam com a necessidade
de enxugar o custo Brasil em nome do aumento da competitividade e das
exportações. Prefere-se ignorar que estas foram bloqueadas pela política
cambial de FHC que sobrevalorizou o real, trancando as exportações e abrindo o
mercado interno para a onda de mercadorias subsidiadas que arrasaram os
empregos e sucatearam o parque industrial nacional.
Em
vez de criticar a política do governo federal, o PT acrítico freqüentava o
Alvorada na figura do dócil Cristovam Buarque, que, até a última hora, esperou o
apoio de FHC à sua recandidatura a governador do DF. Quando o dito PT da
bolsa-escola e dos vales compensatórios governava o DF, pela primeira vez na
história política do Distrito Federal Lula deixou de ser o mais votado na
Capital, para amargar um último lugar, menos votado do que Ciro Gomes.
Minha expulsão do PT
começou com as desgovernanças do neoliberal Cristovam Buarque, contra as quais
protestei em desgraça. Sei que fui expulso pelo que fiz e defendi a favor dos
trabalhadores, dos aposentados e dos marginalizados, contra os interesses
eleitoreiros de um partido que deseja tornar-se confiável às classes e forças
burguesas perdidas e ainda bem pagas.
É com orgulho de quem
tem a consciência do dever cumprido que me apresentei como pré candidato ao
sacrifício de uma disputa desigual, pobre, sem acesso à mídia, luta que se
travará no campo de batalha desacreditado pela derrota recente de Cristovam
Buarque e pela benevolência de seu governo neoliberal, preocupado em tornar-se
confiável e aliar-se a FHC, adversário de Lula. A este partido menor devo minha
expulsão, que recebo de pé.
Lauro Campos
Senador da República