Da Tribuna da Imprensa
IGOR MENDES

São
revoltantes as imagens que chegam de São Paulo da brutal repressão policial
desatada contra a manifestação de ontem. A arrogância e truculência dos
governos de plantão desafia a realidade de um País afundado na recessão,
inflação e desemprego. É inevitável que, nesse impasse, haja uma radicalização
dos protestos, duplamente legítimos, tanto pela justeza das bandeiras que
defendem como por colocarem na pauta a própria defesa do direito de
manifestação, atacado pelos gigantescos aparatos repressivos mobilizados contra
a juventude e os trabalhadores. A revolta popular pede passagem.
No Rio de
Janeiro, embora na primeira manifestação contra o aumento a PM estivesse
claramente orientada a postar-se na defensiva –afinal, um Rio conflagrado é
tudo que os governantes temem às vésperas das Olimpíadas –também temos um
tenebroso histórico recente de perseguição e encarceramento de ativistas, e nas
favelas e periferias, uma política de extermínio da juventude pobre e negra. Se
o governo de São Paulo é tucano, a prefeitura que aumentou as passagens é do
PT, e no Rio tanto Eduardo Paes como Pezão são firmes aliados de Dilma. O que
prova, por a+b, que a política antipovo implementada por esses partidos é
idêntica: corte de direitos, tarifaço e repressão.
A esquerda
verdadeira está nas ruas, lutando o bom combate ao lado de uma população
cansada de ser tratada como gado, recusando-se cada dia que passa a seguir
vivendo como antes. A velha política de conciliação de classes adotada pelos
velhos “partidos de massas” eleitoreiros e reformistas, cujo maior expoente é o
PT, afundou e é incapaz de dar resposta a esse novo momento da luta de classes
que rompeu no país a partir de junho de 2013. Ao contrário, os que defendem o
governo de Dilma, ou ficam eternamente no meio do caminho, são inimigos da luta
popular, são verdadeiras camisas-de-força cujo rompimento é indispensável para
que alcancemos nossos objetivos.
O que
ninguém pode negar é que as jornadas de junho continuam na ordem do dia. Nas
manifestações que desde então tomam as ruas forma-se uma nova geração de
ativistas, exercitam-se novas formas de luta, realmente insubordinadas,
atropelam-se os apodrecidos “movimentos sociais oficiais” ligados ao governo e
às centrais sindicais pelegas. Nesse momento não cabem indecisões ou dúvidas:
ou se está pela justeza da revolta popular, com todas as variadas formas que
pode e irá assumir, ou se está pela velha ordem, ditadura de grandes burgueses
e latifundiários, serviçais do imperialismo; ou se está com os trabalhadores e
a juventude combatente que se rebelam, e seguirão rebelando, ou se está ao lado
do partido único da reação, qualquer que seja a legenda escolhida.
2016 apenas
começa, e é impossível dizer exatamente o que virá. A única certeza é que os
tempos de calmaria ficaram definitivamente para trás.
Urgente! Pela liberdade de Rafael Braga!
Fiquei
sabendo há pouco da nova prisão de Rafael Braga Vieira, o primeiro brasileiro
condenado pelas manifestações de 2013, responsável pelo “porte” de
desinfetante... Após anos de luta em torno da sua liberdade e muitas idas e
vindas, em dezembro último finalmente Rafael ganhou o benefício de cumprir o
restante da pena em regime aberto. Ontem, entretanto, quando ia comprar pão,
perto de casa, foi parado por policiais (“dura” provavelmente provocada pelo
fato de andar com tornozeleira eletrônica) e preso sob acusação de tráfico de
drogas. Hoje no TJ ocorrerá a audiência de custódia que decidirá se sua prisão
será convertida em preventiva ou se Rafael aguardará o andamento de mais esse
processo em liberdade.
Venho nesta
página me somar às vozes que exigem a sua imediata liberdade. Rafael Braga é
novamente vítima de uma política de discriminação, em virtude da cor da sua
pele, da sua situação econômico-social e também da condição de egresso do
sistema penal. O mesmo Estado que o condenou de maneira absurda nega-lhe as
condições mínimas para que, uma vez em liberdade, possa reconstruir sua vida de
maneira digna. Permitir que Rafael Braga seja preso é admitir que o Estado siga
violando os direitos do povo impunemente, é conciliar com a política
higienista-racista e genocida aplicada pela Polícia de Pezão
Liberdade a
Rafael Braga!