Sábado, 9 de janeiro de 2016
Da Rede Brasil Atual
Paulo Pinto/Fotos Públicas
Apesar da forte repressão, o Movimento Passe Livre já marcou
nova manifestação para a próxima terça-feira (12) e garante que não sairá da
rua até barrar o aumento
por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 09/01/2016
São Paulo – Na primeira grande manifestação do ano na
capital paulista, a Polícia Militar mostrou ontem (8) que nada mudou em relação
à repressão aos movimentos sociais jovens. O primeiro ato contra o aumento das
tarifas de Metrô, trens e ônibus de R$ 3,50 para R$ R$ 3,80, organizado pelo
Movimento Passe Livre (MPL) terminou em uma chuva de bombas de gás
lacrimogêneo, balas de borracha e viaturas policiais a toda velocidade pelas
ruas do centro de São Paulo, e com várias pessoas detidas e feridas – inclusive
policiais. O MPL estimou em 10 mil pessoas o engajamento no ato.
O centro de São Paulo se tornou uma praça de guerra e mesmo
quem estava apenas voltando para casa após o trabalho de 2016 ficou
aterrorizado com a quantidade de bombas e balas de borracha disparadas pela
Tropa de Choque na região do Viaduto do Chá. Muitos PMs usavam máscaras para
cobrir o rosto e identificação alfanumérica. Pessoas imploravam para entrar na
estação Anhangabaú, da Linha 3-Vermelha do Metrô, fechada pelos funcionários
após o início da repressão.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, pelo menos dez
manifestantes foram detidos e muitas pessoas se feriram. A PM não informou o
número de manifestantes detidos. Alguns policiais também se machucaram,
atingidos por pedras. "A PM atacou o ato gratuitamente. Foi uma repressão
muito violenta, mas que só vai fazer crescer a nossa mobilização contra o aumento
das tarifas", disse Laura, que anunciou novo ato na próxima terça-feira
(12), as 17h, ainda sem local definido.
Desde a saída do ato do Teatro Municipal, onde os
manifestantes se concentraram, o que se viu foi um jogo de gato e rato com a
PM, que reuniu um grande efetivo de agentes da Tropa de Choque, da Força Tática
e das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e seguiu o protesto
ostensivamente em duas filas laterais. Sem revelar o destino final da marcha,
os ativistas seguiram primeiro para o Largo do Paissandu. Depois paravam em
toda esquina, parecendo redefinir por onde seguir. O que fazia os policiais que
seguiam terem de correr para recompor a formação a todo momento.
Cris Faga/Fox Press
Photo/Folhapress 
Repressão começou na Avenida 23 de
Maio, próximo ao terminal Bandeira, e se alastrou pelo centro
Enfim, a marcha seguiu pelo Vale do Anhangabaú, sem nenhum
incidente de depredação ou confusão. A caminho do Terminal Bandeira, um grupo
de manifestantes mascarados tentou tomar o sentido centro da via, em direção à
prefeitura de São Paulo. A PM fechou o cerco sobre eles. Bombas de gás
lacrimogêneo e balas de borracha foram disparadas na direção dos demais
manifestantes. Vários foram feridos, um deles com um tiro de bala de borracha
no rosto.
Houve muita correria e parte dos ativistas revidou com
pedras e rojões contra a PM. Um grupo de policiais ficou isolado do Batalhão de
Choque e tentou se defender das pedradas com escudos. Alguns policiais ficaram
feridos. Pequenos grupos de manifestantes correram em várias direções e foram
perseguidos pela Tropa de Choque.
A PM lançou bombas contra cidadãos que cruzavam a passarela
do Terminal Bandeira. E também em direção ao Viaduto do Chá – do Vale do
Anhangabaú – e à Rua Xavier de Toledo – da Ladeira da Memória –, sem ter como
observar quem seria atingido. Muitas pessoas que voltavam para casa do trabalho
foram atingidas pelo gás lacrimogêneo.
Parte dos manifestantes percorreu as ruas do centro
espalhando lixo e ateando fogo, depredando ônibus, carros da Companhia de
Engenharia de Tráfego (CET) e agências bancárias. Todas as lojas da região
fecharam as portas. A polícia cercou um grupo grande na Rua da Consolação, que
foi reprimido com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes.
Os PMs utilizaram a Praça Roosevelt como praça de detenção.
E ali protagonizaram uma cena de pura violência. Skatistas, transeuntes e
alguns manifestantes estavam parados na praça quando dois veículos da Tropa de
Choque, recém-comprados de Israel pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB),
pararam e os policiais desceram atirando balas de borracha e bombas de gás
lacrimogêneo contra todos que ali estavam, provocando correria. Em seguida,
voltaram aos veículos e partiram. Viaturas subiam e desciam as ruas da região central
em alta velocidade a todo momento.
Contra a tarifa
O ato reuniu milhares de manifestantes, entre ativistas de
diversos movimentos, estudantes secundaristas – que no final do ano passado
barraram a reorganização escolar proposta pelo governador de São Paulo – e
sindicalistas.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, o objetivo dos
protestos é reverter o aumento de R$ 3,50 para 3,80. “Não vamos sair da rua
enquanto não atingirmos esse objetivo. E não adianta dizer que o aumento é
abaixo da inflação ou que é uma parcela pequena que vai ser afetada por isso.
Não combatemos a ação de um governo, mas uma política que prioriza o lucro dos
empresários sobre o atendimento à população. Nada justifica esse valor de
tarifa”, afirmou.
“Os ônibus estão sempre cheios, sempre demoram muito. Não
tem um dia que o Metrô ou os trens não apresentem falhas”, completou ela, que
lembrou que a tarifa é um mecanismo excludente. “Muitas pessoas não têm
dinheiro para pagar a tarifa de hoje. Outras vão ser excluídas com a nova
tarifa.”
O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo,
Altino de Melo Prazeres Júnior, destacou que o Metrô de São Paulo é um dos
menores do mundo, quando comparado com outras metrópoles, e tem a tarifa
proporcionalmente mais cara. “Mas esse valor não reflete na qualidade do
serviço, nas condições de trabalho dos funcionários nem na expansão da malha
ferroviária. É apenas extorsão de recursos da população. Nós também somos
contra esse aumento e defendemos que o governo estadual subsidie a tarifa,
fazendo com que ela diminua”, afirmou.
O estudante do ensino médio João Vitor Santos, de 17 anos,
do Comando das Escolas em Luta, garantiu que os alunos que barraram a
reorganização de Alckmin vão ajudar a barrar o aumento das tarifas. “Ainda que
os estudantes tenham passe livre, que é bastante limitado, o aumento impacta na
vida de todos. Aumenta o custo de vida, prejudica a vida do povo”, afirmou.
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, responsável
pelos ônibus municipais, e a Secretaria Estadual dos Transportes
Metropolitanos, responsável pelo transporte dos metrôs e trens estaduais, o
reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste, ocorrido
em 6 de janeiro de 2015. A inflação acumulada neste período foi de 10,49%,
enquanto o aumento das tarifas foi estipulado em 8,57% para o bilhete unitário.
A tarifa de integração entre ônibus e trilhos (metrô e trens) passarão de R$
5,45 para R$ 5,92. Já os bilhetes temporais 24 horas, madrugador, da hora,
semanal e mensal não terão seus preços aumentados.