Terça, 12 de janeiro de 2016
Por Adriano Benayon
Há enorme descompasso entre o modo de operar das grandes potências,
especialmente o das hegemônicas, e a capacidade de entendê-lo, por parte
dos cidadãos dessas potências e pelos das que estão à mercê delas.
Adriano Benayon
2. Os centros de formação de opinião, inclusive universidades cuidam,
em geral, de manter inquestionada a suposta boa-fé dos dirigentes das
ditas potências, cumpridores das diretivas dos potentados da oligarquia
financeira, em busca do poder absoluto.
3. Além disso, a ‘informação”, disponível na grande mídia, seleciona,
ao gosto dos oiigarcas, as notícias a ser divulgadas, e distorce as que
não consegue ocultar por completo.
4. Não bastassem as adulterações da realidade, o sistema de poder
trabalha, há mais de século, na adaptação dos públicos-alvos para
recebê-las e incorporá-las acriticamente. Para tanto, abusam da
psicologia aplicada e dos recursos tecnológicos aplicados sobre os
órgãos sensores.
5. Não se exclui que disso faça parte inculcar o hábito dos jogos e
mensagens eletrônicos, incutido, pelo marketing, em crianças acima de
dois anos (e até menos), fator de condicionamento tendente a tornar o
ser humano (?) capaz de reações mentais ultra rápidas, mas pouco afeito
aos raciocínios lógico e analítico.
6. Ademais, o envolvimento do indivíduo pelo universo virtual o isola
do contato direto com outros, e ele só se comunica através dos
aplicativos dos meios eletrônicos.
7. Já nos anos 1960, intelectuais franceses e de outros países
assinalavam a despolitização da sociedade, então já inundada de
marketing e de alienação. Atualmente é possível que mais gente se
interesse por política, mas resta saber em que nível de compreensão.
8. O fato é que a concentração financeira e econômica continua a
caminhar na direção do absurdo, inclusive nos principais países
desenvolvidos, com a possível exceção da China, sem que as instituições
ditas democráticas ofereçam chances às grandes maiorias marginalizadas
de sair dessa situação.
9. Joseph Stiglitz, Nobel e ex-presidente do Banco Mundial,
escrevera, em 2011, que os Estados Unidos se tornavam um país “dos 1%,
pelos 1% e para os 1%”. Então, esses já recebiam quase 25% da renda
nacional e controlavam 40% da riqueza total do país. Essa concentração
prossegue aumentando.
10. Conforme recente relatório do banco Crédit Suisse, essa tendência
é a mesma no âmbito mundial, os do 1% mais ricos controlando 50% da
riqueza total, algo inédito há um século.
11. Para uma ideia das transformações estruturais desfavoráveis ao
emprego e à distribuição minimamente equilibrada da renda, dos anos 1950
aos tempos atuais, os lucros da indústria manufatureira caíram de 60%
dos lucros totais para 20%, enquanto os do setor financeiro se elevaram
de 10% para 30%.
12. O emprego na manufatura desceu de 30% para menos de 10%, e a
finança permanece com 5% desde sempre. Ou seja: cada vez menos empregos
qualificados na economia. O grosso está nos serviços de baixo componente
tecnológico, e, nesse país símbolo da riqueza e do poder ocidentais, um
sexto dos residentes passa fome.
13. Há indústrias que não sofrem recessão: a dos equipamentos e armas
de guerra e as ligadas ao terrorismo de Estado, espionagem e ingerência
em outros países.
14. Os EUA prosseguem intervindo militarmente em todos os continentes
e promovendo agressões através de mercenários e terroristas, como na
Síria, ultimamente.
15. A Rússia tem sido o único país que – embora prudentemente e só
recentemente – se vem contrapondo com efetividade ao bullying mundial
exercido pela potência hegemônica.
16. Por isso, a Rússia tem sido agredida diretamente e por satélites
do império angloamericano (União Europeia, a Ucrânia e a Turquia), por
sanções econômicas e atos de guerra, como a derrubada, pela última, de avião militar sobre o espaço aéreo fronteiriço com a Síria.
17. Além das ações bélicas, decisivas para conter os terroristas do
Estado Islâmica, apoiados, por debaixo do pano, pelos EUA, Turquia,
Arábia Saudita e outros, a Rússia tem exposto provas desse envolvimento.
18. No cenário das hostilidades, a Rússia acena com a exposição de
fotos de satélite captadas quando da implosão das Torres Gêmeas de Nova
York, em 2001.
19. De há muito, a Associação dos Arquitetos e Engenheiros pela
Verdade e outras, cidadãos e cientistas e norte-americanos – enfrentando
fortes censura e pressões oficiais – demonstram ter-se tratado de ato
de terrorismo de Estado cometido para intensificar o Estado policial e
“justificar” as devastadoras intervenções praticadas no Afeganistão,
Iraque, Líbia e Síria.
20. Evidente e provado está que as estruturas de aços especiais
daqueles prédios ruíram e pulverizaram-se, em poucos segundos, e isso só
pode ocorrer com dezenas de toneladas de explosivos especiais
introduzidos nessas estruturas. Terroristas da Al Qaeda (colaboradores
dos serviços especiais angloamericanos), supostamente sequestrando
aviões, fizeram parte da encenação.
21. Dado, porém, o acobertamento dos fatos, a iludir boa parte do
público, a divulgação das fotos russas mostraria de forma contundente a
real face do império e poderia ter consequências políticas no Ocidente.
22. Também no recente atentado em Paris, tudo aponta para mais uma
operação de falsa bandeira, para “justificar” ataques aéreos franceses
na Síria.
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Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.