Quarta, 27 de abril de 2016
Flávia Villela – Repórter da Agência Brasil
A
cem dias do início das Olimpíadas Rio 2016, o Comitê Popular da Copa e
Olimpíadas do Rio lançou hoje (27) a campanha “Contagem Regressiva para
os Jogos da Exclusão – Cem Dias Sem Direitos”, que vai lembrar, a cada
dia, uma violação de direitos ligada às Olimpíadas do Rio de Janeiro,
como remoções, trabalho escravo, destruição de espaços públicos,
superfaturamentos ou quedas de obras e mortes.
A integrante do
comitê Larissa Lacerda destacou que, para lembrar todas as violações
cometidas até o momento, seria necessário bem mais de cem dias, mas o
intuito da campanha é evitar que mais pessoas sofram com abusos
cometidos em nome dos jogos até agosto.
“O esforço é de denunciar
e barrar violações que possam ser conduzidas até lá durante todo esse
processo para que mais gente não continue a ser excluída e violada”,
comentou ela. Larissa ressaltou que a divulgação das injustiças
cometidas é muitas vezes abafada pelo marketing positivo do legado
olímpico reproduzido pelas autoridades e a grande mídia.
“O poder
público tem uma coalizão de forças políticas e econômicas forte: são os
poderes municipal, estadual e federal, donos de terras da Barra da
Tijuca, principal beneficiária com as obras dos jogos olímpicos, grandes
construtoras e uma imprensa totalmente a serviço dessa coalizão de
forças”.
A
violação escolhida para iniciar a contagem dos Cem Dias Sem Direitos
será anunciada na Cinelândia e também estará disponível no Facebook.
Como parte da campanha, foi montada na Cinelândia, centro do Rio, a
exposição Revelações Olímpicas. As fotos expostas são de fotógrafos
profissionais, moradores de áreas afetadas pelos megaeventos e
militantes.
Está previsto um debate com a participação do
professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
(Ippur) Carlos Vainer, da moradora da Vila Autódromo, na zona oeste,
Sandra Maria, dos fotógrafos Bárbara Copque, Luiz Baltar, Francisco
Chaves e André Mantelli, da moradora do Horto, na zona sul do Rio, Laura
Paiva, e da moradora da comunidade da Maré, na zona norte, Gizele
Martins.
Para Gizele, que é jornalista e integrante do Fórum de
Juventudes do Rio de Janeiro, um dos legados mais críticos dos chamados
megaeventos é o projeto de militarização das favelas, que já provocou
milhares de mortes e violações de direitos de cidadãos pobres da
periferia.
“A militarização acabou influenciando a vida das
pessoas em todas as camadas e idades. É um projeto presente
principalmente em favelas da zona sul e favelas estratégicas, como a
Maré, que está próxima ao aeroporto internacional e das vias expressas. É
um projeto para dar segurança a quem está vindo de fora”, comentou ela,
que testemunha no seu cotidiano abusos de poder, humilhações e outras
violências cometidas contra moradores de favelas por parte de agentes do
Estado.
Em caso de chuva, a programação de hoje será transferida
para o Sindicato dos Engenheiros, na Avenida Rio Branco 277, 8º andar.
Ainda hoje à noite, monumentos e edifícios em diferentes partes do mundo
serão iluminados, como parte da contagem regressiva de 100 dias para o
início dos Jogos Olímpicos do Rio.
A iluminação desses monumentos
é uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores, que tem apoio
da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, do Ministério
do Esporte, prefeitura do Rio de Janeiro e Embratur. No exterior, a
maioria dos edifícios iluminados será embaixadas e prédios do governo
brasileiro. No Rio, O Cristo Redentor, os Arcos da Lapa, o Maracanã,
ponte Don Eugênio Sales e as Arenas Cariocas, no Parque Olímpico
ganharão iluminação especial para a ocasião.
A prefeitura do Rio
assegura que o município busca implementar obras mexendo o mínimo
possível na rotina dos cariocas e que a administração municipal não
utiliza o instrumento da remoção, quando as famílias são retiradas à
revelia do imóvel e não são dadas condições de transição para elas. A
prefeitura informa que as famílias que tiveram de deixar suas casas
“estavam no traçado de obras ou em áreas de proteção ambiental”. Como
opção, o município pagou indenizações e ofereceu apartamentos do Minha
Casa, Minha Vida. “A negociação sempre foi transparente”, afirma o
governo municipal.
Até o fechamento desta reportagem, a
Coordenadoria de Polícia Pacificadora não havia se pronunciado a
respeito das denúncias feitas sobre abusos cometidos e mortes nas
favelas onde há Unidades de Polícia Pacificadora UPP).