Quarta, 20 de abril de 2016
Ivan Richard e Marcelo Brandão - Repórteres da Agência Brasil
Um dos sócios do grupo Schahin, o executivo Milton
Schahin, disse hoje (20) em depoimento ao juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara
Federal, em Curitiba, que pagou US$ 2,5 milhões em propina a diretores
da Petrobras pelo contrato de operação e compra do navio-sonda Vitória
10.000. O executivo afirmou ainda que o empréstimo de R$ 12 milhões
tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai ao Banco Schain foi quitado
como parte das negociações do grupo com a estatal.
Milton
Schahin, réu na ação decorrente da 21ª fase da Operação Lava Jato, que
apura desvio de recursos da Petrobras, disse que em 2011 foi procurado
pelo lobista Jorge Luz para fazer uma negociação sobre o pagamento de
US$ 2,5 milhões em propina a diretores da estatal. O pagamento, feito
por meio de uma offshore (empresa em paraíso fiscal), foi dividido em
dez prestações. Milton entregou a Moro documentos que comprovariam o
depósito em contas do ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa.
Musa
já entregou à Lava Jato comprovantes de recebimentos da Schahin, em
conta na Suíça. Um dos fundadores do Schahin, ao lado do irmão Salim
Schahin, Milton disse também que o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada
exigiu pagamento de propina no valor de US$ 5 milhões. O executivo da
Schahin disse que não aceitou fazer o pagamento.
De acordo com o
executivo, as conversas do grupo com representantes do Partido dos
Trabalhadores e com o pecuarista José Carlos Bumlai começaram em 2004.
Em 2006,ele procurou o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para
que intermediasse politicamente a favor da Schahin para assinatura, com a
Petrobras, de contrato relativo ao navio-sonda Vitória 10.000.
“Externei
ao Vaccari a oportunidade de negócio. Coloquei para ele que a Schahin
tem condições de fazer esse serviço, única empresa no Brasil com um
navio em operação. Falei que o preço da proposta seria a mesma da
Transocean, que já operava, mas que se não tivesse um apoio político não
ia conseguir caminhar. Depois de alguns dias, ele [Vaccari] voltou e
dizendo que talvez desse para ter esse apoio político. Nessas
circunstancias, continuamos a conversa e veio a questão do empréstimo
[de Bumlai]”.
Emocionado no fim do depoimento, o executivo disse
que tinha orgulho de seu trabalho e que não deu prejuízo à Petrobras:
“Eu não tive vantagem. Tive desvantagem em relação à Transocean”. O
filho de Milton, Fernando Schahin também prestou depoimento ao juiz
Sérgio Moro. O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o ex-tesoureiro do
PT, João Vaccari Neto, que seriam interrogados hoje, optaram por ficar
em silêncio e foram dispensados.
Fernando Schahin
O
empresário Fernando Schahin negou envolvimento no empréstimo do Grupo
Schahin a Bumlai. Em seu depoimento, Fernando afirmou que sua posição na
empresa não era na área financeira e que, por isso, não participou de
discussões envolvendo empréstimos.
Ele contou, no entanto, que se
reuniu com Eduardo Musa, ex-diretor da Petrobras, para auxiliar na
negociação do grupo com a estatal envolvendo o navio-sonda Vitória
10.000. Fernando Schahin disse que foi apresentado por Musa ao lobista
Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, em um almoço.
Segundo Fernando Schahin, Musa tentou convencê-lo a incluir Soares na
transação, para viabilizar o sucesso do negócio, alegando que o Grupo
Schahin não teria condições financeiras para garantir o contrato com a
Petrobras, com o que Fernando não concordou.
Fernando Schahin
também negou ter negociado propina com Musa. “Eu não tratei com ele de
propina. Não ofereci propina, não negociei propina, não discuti propina
com o senhor Eduardo Musa. Eu simplesmente recebi um pedido dele nesse
almoço, que eu relatei, com a participação do senhor Fernando Soares”.
O
empresário contou ainda que teve um breve encontro com Bumlai em um
evento social. Nesse evento, Bumlai teria perguntado como andava o
negócio com a Petrobras. “Eu falei em linhas gerais que a negociação
estava caminhando bem e depois me despedi. [...] Ele também pediu para
eu dar um recado ao pessoal lá que o presidente estava abençoando o
negócio. Peguei a informação e me despedi dele”. Schahin pai confirmou a
Moro a versão do filho.