Quarta, 5 de outubro de 2011
Da Agência Brasil
Alex Rodrigues - Repórter
A falta de matéria-prima levou o Laboratório Farmacêutico do
Estado de Pernambuco (Lafepe) a interromper temporariamente a produção
do Benzonidazol, medicamento usado no combate ao Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas.
Como o laboratório público é o único fabricante mundial do produto, a
organização humanitária internacional Médicos sem Fronteiras teme que a
interrupção cause um eventual desabastecimento do remédio. Já o Lafepe e
o Ministério da Saúde garantem que a distribuição do medicamento está
em conformidade com o cronograma, e que a produção será retomada ainda
este mês.
Enquanto a organização humanitária afirma que o “risco de
desabastecimento” já vem afetando diversos programas de tratamento
contra a doença de Chagas em toda a América Latina, inclusive com a
suspensão de novos diagnósticos no Paraguai e a suspensão da implantação
de novos projetos na Bolívia, o Ministério da Saúde assegura que não há
atrasos ou interrupção no cronograma de produção e distribuição do
Benzonidazol.
O diretor comercial do Lafepe, Oséas Moraes, admite a interrupção
temporária, mas garante que ela foi causada pela falta do princípio
ativo, fabricado por uma única empresa química brasileira, a Nortec.
“Não suspendemos a fabricação [conforme chegaram a afirmar os
Médicos sem Fronteiras]. Houve uma interrupção temporária por falta de
matéria-prima. Nossas máquinas estão paradas esperando pela
matéria-prima, mas a produção será retomada ainda este mês. No mais
tardar, até o dia 20 de novembro, nós teremos prontos 3,2 milhões
comprimidos”, disse Moraes.
Moraes assegura que os cerca de 273 mil comprimidos do medicamento
que o laboratório tinha em estoque são suficientes para atender a
demanda até que a produção seja retomada. Desta reserva, 100 mil serão
entregues ao Ministério da Saúde. Outros 100 mil serão enviados à
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), responsável, junto com os
Médicos Sem Fronteiras, por distribuir o remédio para outros países.
“Ficaremos ainda com um estoque estratégico de 73 mil comprimidos. E
com os 320 quilos de matéria-prima que a Nortec se comprometeu a
começar a entregar ainda este mês, vamos fabricar outros 3,2 milhões de
comprimidos e normalizar a produção até o final de novembro. Portanto,
embora não haja, hoje, nenhuma grama de matéria-prima no laboratório,
nosso estoque estratégico é o bastante para atendermos não só aos
Médicos sem Fronteiras, mas ao mundo todo”, assegurou Moraes, revelando
que só a organização humanitária está solicitando 470 mil comprimidos.
“Vamos atender a 10% disso até que o medicamento fique pronto e possamos
atender [o restante].”
De acordo com o vice-presidente do conselho de administração da
Nortec, Nicolau Pires Lages, a empresa química assumiu a produção da
substância em maio deste ano e tem até o início de novembro para
entregar os 320 quilos de matéria-prima encomendados pelo Lafepe. O
prazo foi estipulado em um contrato firmado em 31 de maio deste ano,
quando a Nortec pediu 150 dias para adequar sua planta industrial à
fabricação da substância.
“Já começamos a produzir e vamos cumprir o prazo, que vence no
próximo dia 31. Vamos começar a entregar o produto no início de
novembro”, assegurou Lages. “Não tenho conhecimento dos estoques [do
Lafepe], mas, posso garantir que o que cabe à Nortec está de acordo com o
cronograma”, comentou Lages.
Até que a Nortec aceitasse a sugestão de assumir a produção do
medicamento, feito pelo Ministério da Saúde, o medicamento era produzido
pela multinacional Roche, que transferiu ao governo brasileiro os
direitos e a tecnologia de fabricação do remédio para o mal de Chagas e
seu estoque de matéria-prima.
Segundo a organização Médicos sem Fronteiras, a doença de Chagas,
também conhecida como tripanossomíase americana, causa a morte de pelo
menos 12.500 pessoas anualmente. A estimativa é de que entre 8 e 10
milhões de pessoas tenham a doença, considerada endêmica em vários
países da América Latina.