Sábado, 2 de dezembro de 2011
Da Agência Brasil
Alex Rodrigues*Enviado especial
Dourados (MS) – Índios sul-mato-grossenses exigem maior atenção do
Estado brasileiro para o conflito entre eles e proprietários rurais, que
se arrasta há décadas, sem solução. Líderes de várias comunidades
reuniram-se hoje (2), em Dourados, com parlamentares que integram a
Comissão de Direitos Humanos e Minorias e a Frente Parlamentar dos Povos
Indígenas da Câmara dos Deputados. Segundo o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), 61 índios foram mortos no estado desde janeiro do
ano passado.
De acordo com o antropólogo Tonico Benites, índio Guarani Kaiowá e
um dos representantes da comunidade de Jaguapiré, o processo de expulsão
dos índios de suas antigas terras intensificou-se no fim da década de
1970, com a consolidação das atuais propriedades rurais.
"Até então, os índios estavam dispersos por todo o estado, alguns
inclusive trabalhando nas fazendas. As poucas reservas indígenas [sete]
então existentes estavam vazias", disse Benites. Segundo ele, o processo
de expulsão dos índios das áreas destinadas à produção agrícola
tornou-se mais intenso no início da década de 1980, quando episódios de
violência se tornaram cada vez mais frequentes. "O que algumas pessoas
chamam de retomada [territorial] nós consideramos uma volta às nossas
terras tradicionais", ressaltou.
Inseguros, os índios dizem não confiar nas polícias Militar e Civil
de Mato Grosso do Sul pedem maior presença da Polícia Federal, além da
permanência da Força Nacional de Segurança no estado. Eles exigem ainda o
esclarecimento dos casos de assassinato de índios e a punição dos
culpados.
"Continuamos recebendo ameaças de fazendeiros, dizendo que não
pensarão duas vezes antes de atirar de novo em nosso povo", disse
Rodolfo Vera, que teve um irmão e um primo, Genivaldo e Rolindo Vera,
mortos em 2009 no Acampamento Ypoi, em Paranhos. De acordo com Benites, a
distância entre as delegacias da PF em Mato Grosso do Sul pode chegar a
200 quilômetros.
Para o vereador Otoniel Ricardo (PT), representante da aldeia
Te´yikue, de Carapu, é importante que a Força Nacional permaneça no
estado para evitar novos atentados contra as comunidades indígenas, como
o que ocorreu no último dia 18, quando pistoleiros invadiram um
acampamento, mataram o cacique e levaram seu corpo. Além disso, Otoniel
sugere que as ações de segurança pública levem em consideração as
particularidades da região, como a proximidade com a fronteira.
Na opinião de Otoniel Ricardo, a política estadual é anti-indígena.
"Por isso, não confiamos nas polícias estaduais e queremos maior
presença da Polícia Federal e da Força Nacional", disse Ricardo,
lembrando que a maioria dos presentes à audiência são frequentemente
ameaçados por causa de suas atividades.
Os participantes da audiência também defenderam o fortalecimento dos
órgãos responsáveis pela saúde indígena. Segundo eles, muitas vezes,
seguranças de algumas propriedades impedem funcionários do setor de
prestar assistência às comunidades. Atualmente, o órgão responsável é a
Secretaria Nacional de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde.
Anteriormente, a tarefa era da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Além da demarcação de novas terras indígenas e de auxílio
governamental, os índios esperam ser recebidos pela presidenta Dilma
Rousseff, em Brasília, de quem cobram maior atenção à causa indígena.
Eles a consideram "muito distante" de seus problemas.
"A presidenta Dilma está muito distante da questão indígena. Por ser
mulher, eu imaginava que ela teria mais atenção. Alguém precisa
amolecer o coração dela, pois não fomos nós que criamos toda essa
situação. O Brasil está parado na questão indígena", afirmou Anastácio
Peralta, da aldeia Panambizinho, de 1,2 mil hectares, localizada a cerca
de 17 quilômetros do centro de Dourados.
Representam a Comissão de Direitos Humanos e Minorias e a Frente
Parlamentar os deputados Domingos Dutra (MA), Erika Kokay (DF) e Padre
Ton (RO), todos do PT. O deputado estadual Laerte Tetila, também
petista, acompanha o grupo, que inclui ainda representantes da PF e da
Funai.
*O repórter viajou a convite da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados