Segunda, 4 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho
— A futura coligação que tem
o líder do Democratas na Câmara dos Deputados, ACM Neto, como candidato a
prefeito de Salvador, já dispunha de tempo razoável para sua propaganda
eleitoral na televisão e no rádio. Desde sábado, a coligação integrada pelo
Democratas e pelo PSDB agregou mais uma legenda e um pouco de tempo para a
campanha na mídia eletrônica, com a integração do PPS, anunciada oficialmente
no sábado.

Não chega a ser uma
novidade, pois o ingresso do PPS na coligação já era esperado e este partido
tem atuado na oposição ao governo federal, articulado com o PSDB e o
Democratas. Na Bahia, o PPS também vem se situando na oposição ao governo
petista chefiado pelo governador Jaques Wagner.
Mas, se não é novidade, é
uma curiosidade e uma ajuda bastante interessante para a candidatura de ACM
Neto – e não estou me referindo à ajuda no modesto aumento do tempo de
propaganda que a coligação obterá com a adesão do PPS.
Essa ajuda viria numa
composição de dois elementos. Um deles, uma “capilaridade” na capital, que se qualifica
de muito grande, mas é modesta, não sendo, no entanto, desprezível. Nos velhos
tempos, quando tinha o nome de Partido Comunista Brasileiro, o hoje PPS –
Partido Popular Socialista – era bastante influente em Salvador, pois alcançava
boa parte dos formadores de opinião. Nos quadros docente e discente das então
ainda poucas universidades, entre professores e estudantes dos ensinos ginasial
e colegial (hoje com outros nomes), entre os profissionais da mídia, em algumas
áreas sindicais nas quais posteriormente não teve como se manter.
Hoje, essas influências
recuaram e o PPS – transformado um pouco por Kruchev, mas sobretudo por
Gorbachev e por fim pelo colapso do império soviético – fez uma dolorida, mas
sincera revisão (muito mais sincera do que outras “adaptações” que têm sido
admitidas em outros setores das esquerdas), tornando-se adepto de um socialismo
democrático que já não aceita a convivência-conivência com certos focos
sobreviventes de ideologias totalitárias e, talvez por isto mesmo, não consiga
acomodar-se confortavelmente senão entre as durezas da oposição aos quase hegemônicos
governo federal e sua base.
O PPS de Salvador tem,
segundo a informação revelada no evento de sábado, que oficializou o ingresso
na coligação que sustenta a candidatura de ACM Neto, no momento o líder das
pesquisas eleitorais – um dado relevante, mas que precisa ser posto na
perspectiva de pesquisas anteriores ao início da campanha eleitoral e com um
quadro de candidaturas ainda parcialmente indefinido –, tem cerca de 60
pré-candidatos a vereador e o que foi chamado de uma “militância aguerrida”,
sem referência ao tamanho dela.
O mais interessante, porém,
nesse ingresso do PPS na coligação que dá a base para a candidatura de ACM Neto
à sucessão do prefeito João Henrique é a própria história do partido – o
passado da legenda no Brasil e seu momento atual, no qual persiste socialista,
excomungados os traços não democráticos.
Como ACM Neto é do Democratas, que os adversários
deste partido buscam caracterizar de “direitista” e coisas assim, que esses
mesmos adversários não conseguiriam explicar exatamente o que significam (mas,
conscientes disso, nunca tentam, somente xingam, aplicando rótulos), o ingresso
do PPS, um muito conhecido partido socialista e tradicionalmente anticarlista
na coligação, dificulta as rotulagens.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.