Quinta, 21 de junho de 2012
Nielmar de OliveiraRepórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Na avaliação da organização Amigos da Terra
Internacional, uma das maiores organizações ambientalistas de base do
mundo, o documento oficial da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, é “um atentado aos povos, porque é
um documento vazio, sem alma e sem compromissos concretos com o meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável”.
A opinião foi manifestada à Agência Brasil pela
ativista da organização, Lúcia Ortiz, ao participar hoje (21) da
plenária que definirá, amanhã (22), a síntese do documento com os cinco
temas das principais plenárias que ocorrerão no Aterro do Flamengo, que
sedia a Cúpula dos Povos – evento paralelo à Rio+20.
Na avaliação de Lúcia Ortiz, é gritante a falta de compromisso dos
chefes de Estado e de Governo para com o meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável “em um momento em que se necessita, de fato,
de medidas urgentes para que os governos possam prevenir e mudar os
rumos que a humanidade está tomando”.
Segundo ela, há toda uma preocupação com a questão da promoção da
justiça climática, da perda da biodiversidade e da contaminação dos
oceanos. “O que a gente vê é a elaboração de um documento que ainda abre
portas para a mercantilização dos bens comuns, sejam eles o ar, a
biodiversidade e a água, ou mesmo a comunicação ou as diversidades
culturais, que também estão sendo mercantilizadas em um processo onde a
política está sendo substituída pela 'financeirização'”.
No entendimento da ativista, mesmo com o texto não explicitando tanto
quanto esperavam os países industrializados e as grandes corporações o
sentido da promoção de “uma falsa economia verde”, ainda assim, ficou
claro que “mais importante que uma decisão sobre o meio ambiente na
Rio+20 foi a indicação do grupo do G20 [formada pelas maiores economias
mundiais] e dos poderosos, de que continuarão a fazer empréstimos para
salvar os bancos europeus e a gerar para esses bancos em crise novas
oportunidades de negócios, que se traduzirão em especulação, em novas
bolhas financeiras – como seria a bolha da economia verde”.
Lúcia Ortiz ressaltou que os participantes da Cúpula dos Povos têm
plena consciência de que, em parte, “derrotaram os poderosos ao
enfraquecer a agenda da economia verde e mudar a correlação de forças,
ao chamar a atenção para a necessidade de que a voz povo venha a ser
escutada, e não só a das grandes corporações”.