Sexta, 22 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho

No Recife, o prefeito João
Costa, que é do PT e muito popular, dispõe-se à reeleição. Mas Lula e o comando
nacional do PT decidiram discordar. Lula e o seu importante aliado Eduardo
Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, conversaram e
chegaram à conclusão de que o candidato será, perdão, seria o senador e
ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, do PT. Costa não se conformou, gritou
alguma coisa tipo “manobras fora, candidatura ou morte” e ingressou na justiça.
Ocorrera uma prévia no PT, que o prefeito João
Costa vencera. O partido, porque não o quer candidato, descobriu supostas
anormalidades na prévia e a anulou. Convocou outra, arrumou um adversário para
o prefeito João Costa e, na véspera, porque este ia vencer outra vez e toda a
estratégia já levava isso em conta, o “adversário”, Maurício Rands, desistiu.
Aí não houve a segunda prévia, enquanto a primeira estava anulada.
Então, o impensável aconteceu. Na segunda-feira,
o juiz da 3ª Vara Cível do Recife, Francisco Julião, reconheceu a validade da
primeira prévia e determinou ao PT que o prefeito João Costa é o candidato do
partido, em consequência das próprias normas do PT. A decisão judicial admite
recurso. Diante de tal baderna no PT, Eduardo Campos anunciou que o PSB está
fora disso e terá seu próprio candidato a prefeito da capital. Exonerou quatro
secretários estaduais e pretende escolher um deles para ser o candidato
socialista.
Em São Paulo, está aquele horror. O caos começou
quando o prefeito e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, se apresentou
com disposição para aliar-se ao PT. Lula e o comando petista lançaram iscas e
abriram as mandíbulas. Então o tucano José Serra decidiu ser candidato à
prefeitura e Kassab disse que, sendo este o candidato, não tinha como não
aliar-se – ao PSDB. Restou ao PT ficar cantando “ai se eu te pego”. E, sabendo
que não mais pegaria, pôs-se ao encalço do PSB. Tudo beleza. Lula e Eduardo
Campos conversaram, acertaram a aliança e a socialista Luiza Erundina, deputada
e ex-prefeita, foi convidada para vice. Aceitou, mesmo já sabendo que a chapa
que integraria, encabeçada pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, do
PT, teria o apoio de Maluf.
Mas então voltou o impensável. O fato que não
podia existir, mas estava lá. Não o fato, perdão, a foto. Lula, Haddad e Maluf,
este esbanjando sinais de positivo e de V da vitória, dono da casa, em seus
jardins, os três a braços e abraços – abraços, não sei bem, a foto não mostra, mas
havia moitas por perto. Efusivos apertos de mão, com certeza. Erundina tentou
resistir à foto, mas não resistiu à pressão que ela provocou em suas bases. O
PSB, por seu presidente Eduardo Campos, já liberou o PT para procurar outra
pessoa para vice. Netinho de Paula, candidato do PC do B a prefeito, escreveu
no twitter que ele não “e pronto, fim”. Um advogado, Luiz D’Urso, do PTB, disse
que foi convidado para vice de Haddad e até apresentou como credencial um
telefonema de Maluf – “Ele disse que o PP apoia o meu nome” – mas um petista
desmentiu o convite, ao que D’Urso replicou que fora outro petista o autor do
convite.
Aqui em Salvador o caos nem dá para descrever. Prefeito
viaja e some, chefe da Procuradoria diz que está no comando, advogados dizem
que não, por falta de previsão legal, mas se não há esta, também não há outra.
E o PP, que já desistira de candidato próprio à prefeitura e firmara aliança de
apoio ao petista Pelegrino, de quem indicaria o vice, já não indicará nada e
repôs o candidato a prefeito. Uma breve amostra do caos perfeito.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.