Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 9 de junho de 2012

Chávez e o seu vazio

Sábado, 9 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho
Na segunda-feira, 11, o ditador-presidente da República Bolivariana de Venezuela, Hugo Chávez, inscreve-se candidato à reeleição, com muita esperança, mas sem garantias normais, de que estará vivo quando ocorrerem as eleições, em 7 de outubro.

Hugo Chávez, que se impunha em seu país, mandando prender até juiz, e aspirava realizar – conforme seus discursos – uma espécie de obra de salvação da América do Sul, especialmente da América andina, com sua “revolução bolivariana”, ultimamente vem sendo celebrado como uma estranha espécie de ser, o santo profano.
   
         A contraditória mística fica por conta do câncer que lhe foi diagnosticado em Cuba “na região pélvica” e que tem sido mantido sob espessa cortina de sigilo, tornando-se um mistério tanto para o povo quanto para os altos funcionários do governo e os dirigentes da oposição.

A personalidade de Chávez, suas iniciais afirmações públicas de vitória e, na recaída, seus apelos públicos por orações e “um milagre”, o câncer até agora invicto e sua natureza esotérica – tudo isso tornou o chavismo na Venezuela (em outros países que contagiara, morreu ou está moribundo) mais uma espécie de movimento emocional e religioso que racional – do que sempre teve pouco – e político.

E assim, apesar de a população do país queixar-se fortemente da situação econômica e das condições gerais de vida dos últimos anos, o apoio a Chávez nas pesquisas eleitorais cresceu e atinge atualmente 55 por cento das intenções de voto, bem à frente de seu adversário, o candidato das oposições Henrique Capriles. Não é a aprovação do governo, mas a doença e seu mistério, que sustentam o ditador-presidente popularmente. “A imagem de Chávez foi sacralizada”, disse à BBC Brasil o escritor Alberto Barrera, autor da biografia “Chávez sem uniforme”.

A grande dúvida, o tormento entre chavistas nacionais e estrangeiros – entre estes, cito o colega Jadson Oliveira – é o que acontecerá se Chávez perder, isto é, se o câncer vencer. É que aconteceu na Venezuela, em escala superlativa, o que aconteceu na Bahia durante o carlismo. ACM combatia a todo custo o crescimento de lideranças que no futuro poderiam alçar vôo próprio. E as que já encontrara ao assumir o comando, cuidou de desmontar. Era autodefesa. Legítima ou não, dilema para a história.

O jornal espanhol ABC noticiou no sábado passado que Chávez “sofre com um rabdomiossarcoma, um tumor cancerígeno dos músculos que estão ligados aos ossos, com metástases nestes”. Da musculatura esquelética o câncer passa aos ossos e, segundo os médicos, câncer nos ossos produz uma das mais fortes dores que uma doença pode produzir. Daí que, segundo o jornal – baseado em “um informe de inteligência que detalha a terapia seguida pelo líder bolivariano” e estaria baseado em relatório da equipe médica que atende Chávez em Cuba –, o líder venezuelano está “tomando fentanil”, um opiáceo “cem vezes mais forte que a morfina” para aliviar as dores que o câncer e seu avanço estão provocando. O jornal ABC diz que uma parte da equipe médica sugere que se não houver uma “inesperada queda, o presidente Chávez pode chegar às eleições”.

Bem, que chegue. Mas, e se não chegar? E, chegando, como será depois, se o milagre solicitado da cura não for concedido?
 
No dia seguinte à morte de ACM, o carlismo acabou na Bahia. Pelo menos como grupo e força política. Permaneceu como fenômeno histórico.
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Este artigo foi publicado originalmene na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.