Sexta, 15 de junho de 2012
Da Agência Senado
Uma “tropa de cheque” estaria trabalhando na comissão parlamentar de
inquérito (CPI) mista que investiga Carlos Cachoeira para evitar a
convocação do ex-dono da Delta, Fernando Cavendish. Foi o que afirmou o
deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) durante a reunião desta quinta-feira
(14), antes de a comissão derrubar os requerimentos que convocavam
Cavendish e o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte (Dnit), Luiz Antônio Pagot. O deputado disse ainda que
integrantes da CPI podem ter se encontrado recentemente com Cavendish em
Paris.
Miro discursava contra o adiamento da vinda de Cavendish à CPI,
proposto pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), e defendia um
“caminho do bom senso”, aprovando a convocação sem uma data determinada,
quando afirmou:
- Asseguro que não há possibilidade de se construir um discurso
contra a convocação de Cavendish. Seria como justificar a adoração ao
bezerro de ouro, seria como dar razão aos que já começam a fazer charges
falando de uma tropa de cheque para defender o Cavendish. E quem é o
Cavendish? É o presidente da empresa que se deixou gravar dizendo que
conseguiria obras por trinta milhões, que não estava interessado em
comprar esses politiquinhos pequenos, não, porque ele comprava os
grandes. Senadores? Seis milhões. Senadores? Seis milhões. Mas com
trinta ele consegue qualquer obra – disse o senador.
O deputado Candido Vaccarezza (PT-SP), que discursou a favor do
adiamento de convocação, respondeu ao discurso de Miro e disse não
aceitar “acusações genéricas”.
- Se Vossa Excelência acha que há um deputado que é da bancada do
cheque, vire para o deputado e diga: é fulano. Eu não sou da bancada do
cheque, não sou.
Viagem a Paris
Ainda durante a reunião, ao lamentar a derrota na aprovação da
convocação de Fernando Cavendish, Miro Teixeira anunciou a apresentação
de requerimento pedindo informações sobre um evento “que chegou a seu
conhecimento”: uma delegação de parlamentares que viajou em missão
oficial a um país africano, em data próxima à Semana Santa, e que teria
voltado ao Brasil por Paris e almoçado na França com o ex-dono da Delta.
- Quero saber se entre esses, algum participa dessa comissão. E se
for mais de um, se o voto foi decisivo para o resultado contrário à
convocação de Cavendish – anunciou.
Miro Teixeira recebeu o apoio do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) e
disse que a decisão da CPI foi motivada por orientação política.
- Isso revela uma orientação política já denunciada no início dos
trabalhos, de que o estímulo à instalação da CPI tinha por objetivo
desviar o foco do mensalão de um lado e, de outro, alcançar apenas
alguns eleitos. A essência dessa CPI é a Delta – lembrou, em entrevista
após a reunião.
Para o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), “a CPI entrou na UTI
por deixar de ouvir Cavendish”, um dos principais envolvidos com a
organização criminosa que distribuiu dinheiro público, organizou
corrupção eleitoral nos estado e se envolveu com o crime organizado.
- Estão usando senadores e deputados para sepultar uma CPI, para
dizer à opinião pública brasileira que nada vai ser apurado – disse
Francischini.
Segundo o deputado, muitos “homens de bem” integrantes da comissão
votaram contra por pressão do governo e, com isso, deixaram uma marca em
suas biografias.
Já na visão do relator, Odair Cunha, rejeitar os requerimentos não trouxe desgaste nem ocorreu por interferência do Planalto.
- Nós não evitamos convocação nenhuma, adiamos uma decisão sobre essa
convocação. O que deve motivar [a CPI] é a análise dos documentos em
posse da CPI – afirmou.