Quinta, 21 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho
Completou 70 dias ontem a
greve dos professores da rede estadual [da Bahia] de ensino. O governo está
muito incomodado com o movimento e isto é perfeitamente compreensível. Vários
são os motivos. É desagradável e desgastante, por si mesmo, para qualquer
administração, conviver com uma grave tão prolongada, sem conseguir o fim do
movimento, apesar de haver ingressado no Judiciário e obtido ganho de causa no
Superior Tribunal de Justiça. Na terça-feira, mesmo ante a decisão da Justiça,
uma assembleia geral da categoria decidiu, sem dissidências presentes,
prosseguir na greve.
A paralisação já se estende
por tempo suficiente para ameaçar, seriamente, o próprio ano letivo. Estamos
chegando às festas juninas e as férias de meio de ano dos professores e alunos
estarão comprometidas, isto no caso de a greve, para surpresa geral, acabar
imediatamente. Mas essa perspectiva não parece plausível, a julgar pelos fatos
e pela conjuntura. Com isso, tudo indica que acabarão ficando comprometidas as
férias de verão, com o que danam-se os professores, os alunos e seus pais. Na
melhor das hipóteses, este será um ano letivo feito “nas coxas”, como as
cubanas fazem charutos Havana, antes tão apreciados pelo líder maior do PT, que
infelizmente já não pode mais desfrutar desse perigoso prazer.
O prolongamento da greve já
vem há muito desgostando e desgastando o governo. A demonstração disso é a
intensidade com que este põe na mídia sua convocação aos professores para que
voltem às salas de aula, sua impossibilidade (creio que verdadeira) de oferecer
à categoria mais do que já deu e o que considera falta completa de
justificativa para a continuidade da greve.
É evidente que o fato de se
estar em um ano eleitoral aumenta a angústia do governo e a estende à coalizão
governista, principalmente ao PT e de modo especial na capital e grandes
cidades. Os professores são uma categoria muito influente junto à comunidade,
portanto, no eleitorado. Isto é o que Nelson Rodrigues qualificaria de “óbvio
ululante”.
E a influência política do
governo e dos partidos aliados no movimento grevista está próxima de zero. Na
assembleia geral de terça-feira, o coordenador setorial de educação do PT na
Bahia, Antonio Edgard, tentou apoiar o movimento e não conseguiu. Note bem o
leitor: ele não foi ao microfone tentar convencer os professores a voltarem às
aulas, ele foi, segundo explicou depois, para apoiar o movimento – até agora eu
não entendi esse negócio, devo ser o que os ingleses chamam de “pessoa menos
inteligente”. Edgard quis dizer ao microfone, mas só conseguiu dizer depois, ao
site Bahia Notícias, que “o PT apoia o movimento. Tem que separar o que é
partido e o que é governo. Nesse ponto o PT é contrário ao governador”.
No meu pobre entender, o PT
está querendo tirar o braço da seringa. Mas quem fala pelo partido é o governador
ou o presidente estadual Jonas Paulo. Convenhamos, Edgard ainda tem muita
escada a subir até alcançar o mesmo andar.
O governo poderia até
encontrar um aliado indireto se o PC do B, que é da coalizão governista,
estivesse controlando o movimento grevista. Mas não está. Apenas tem influência
nele, desde o princípio, na deflagração, e a partir de um certo momento –
quando ficou claro que a greve já estava “demais da conta” – até faz esforço
para abreviá-la. Inútil, pois o controle está firmemente nãos mãos do PSOL e do
PSTU.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.