Sábado, 16 de junho de 2012
Por J. Carlos de Assis
Custou a Marx quatro
volumes de “O Capital” para demonstrar que o fundamento da acumulação de
lucro pelo capitalista estava na apropriação da mais valia, isto é, na
apropriação da diferença entre o valor de reprodução da força de
trabalho e o valor dos bens que ela produz. Isso mudou. Se estivesse
vivo, Marx prestaria mais atenção no que acontece hoje fora da fábrica,
ou seja, nas relações monetárias e fiscais que transferem renda direta
dos mais pobres para os muito ricos, seja no boom, seja especialmente
nos momentos de crise econômica, pela via da disputa do orçamento
público.
Na fábrica, exceto situações extremas como a da China e de outros
países asiáticos onde temos ainda um processo de acumulação primitiva
baseado na super-exploração do trabalho, o valor da força de trabalho
vai-se aproximando cada vez mais do valor que ela produz em face da
concorrência de preços inter-capitalista. As grandes corporações não
negam generosos aumentos salariais. Apenas os transferem,
coordenadamente, aos preços. É na disputa da mais-valia extra fábrica –
ou seja, no orçamento público – que se concentram os grandes ganhos
empresariais. Isso, na crise, fica explícito.
Por que os conservadores europeus, chefiados por Merkel, advogam
políticas monetárias expansivas e políticas fiscais restritivas? Pensem
bem. Quem toma dinheiro emprestado em bancos, a taxas reduzidíssimas,
senão os que têm garantias patrimoniais para oferecer? E quem tem
garantias, exceto os ricos? Assim, nas crises financeiras como a atual, a
política monetária expansiva, em nome da facilitação do crédito, não
passa de um artifício para facilitar a apropriação direta da mais-valia
social pelos mais ricos – primeiro, os bancos que têm acesso às taxas
básicas, depois, a sua clientela que se beneficia de taxas igualmente
baixas.