Domingo, 17 de fevereiro de 2013
Publicado originariamenteem Urbanistas por Brasília
Retornando ao tema do Complexo Sub Esplanada, alguns detalhes que estão vindo à tona chamam a atenção de quem está acompanhando o assunto.
Pesquisando sobre o tema nos deparamos com um documento intitulado “Solução para o trânsito da Esplanada dos Ministérios“,
de julho de 2010, elaborado por grupo de trabalho composto por
representantes do MPOG, Ministério da Saúde, Ministério da Defesa e AGU,
dentro da iniciativa denominada Forum SPOA.
Trata-se de um documento bastante
fundamentado, originado de um seminário do IPEA, e que traz 5 propostas
para melhoria das condições do trânsito na Esplanada dos Ministérios:
1ª Proposta – Estacionamento em local fora da Esplanada dos Ministérios (estádio Mané Garrincha ou outra área);
2ª Proposta -Transporte Funcional (serviço de fretamento ou transporte coletivo privado);
3ª Proposta – Flexibilização do horário do servidor público;
4ª Proposta – Horário de trabalho diferenciado por órgão;
5ª Proposta – Garagem subterrânea
e estacionamento provisório nas margens do canteiro central da Esplanda
dos Ministérios (projeto do escritório Oscar Niemeyer).
É curioso perceber que as obras para garagens ficaram como quinta opção do
grupo de trabalho, obviamente por haver outras soluções mais viáveis e
menos dispendiosas para serem colocadas em prática. Também é importante
notar que a opção por garagens se refere a um projeto bem mais modesto
em dois subsolos, feito pelo escritório de Oscar Niemeyer.
Além das propostas apresentadas pelo
Forum SPOA, também podem ser estudadas soluções mistas como transporte
funcional até os grandes bolsões de estacionamento em torno do Estádio
Nacional Mané Garrincha e Ginásio Nilson Nelson, além de soluções mais
óbvias como revitalização e redesenho de todos os estacionamentos
existentes, dos Ministérios e de seus Anexos, visando o aumento do
número de vagas, além da liberação de garagens sub-utilizadas ao menos
para pessoas com mobilidade reduzida (portadores de necessidades
especiais, gestantes, idosos).
É importante destacar que começam a tomar
corpo iniciativas de servidores da Esplanada dos Ministérios para que
sejam criadas ou resgatadas opções de transporte que sejam uma
alternativa ao uso do transporte particular. Tais servidores tem se
mostrado surpresos com a notícia de que em médio prazo terão que se
submeter a estacionamentos subterrâneos pagos ou então pagarão pesadas
multas ao Detran. Os servidores da Esplanada querem as garagens do GDF?
E o que mais dizer do projeto Complexo
Sub Esplanada? Aos poucos vamos descobrindo que se originou de um
projeto iniciado por volta de 2006, com uma proposta bem mais singela de
autoria do escritório de Oscar Niemeyer em dois subsolos para
aproximadamente 6000 vagas. Nesse sentido, Carlos Magalhães, ex-sócio de
Oscar Niemeyer, em entrevista ao Correio Braziliense criticou as saídas
de pedestres do futuro estacionamento, que afetariam o tombamento da
capital. “Em qualquer cidade com esse sistema, a pessoa sai do subsolo
direto para a rua, sem necessidade dessas construções”, diz.
Ainda segundo ele chama a atenção a falta
de consenso entre os diversos órgãos públicos para resolver o problema.
“Ninguém está pensando no conjunto. Cada órgão quer resolver o próprio
problema e ninguém quer discutir isso como um todo”, avalia. Filha do
urbanista Lucio Costa, Maria Elisa Costa preferiu não comentar o
projeto, mas defendeu o “silêncio verde” da Esplanada. “Em tese, a
proposta é aceitável, desde que não interfira na cobertura, que deve ser
toda gramada.”
Outro fator que chama a atenção é que
essa proposta do Complexo Sub Esplanada divulgado em 31/1/2013 foi
discutida a portas fechadas entre o GDF e o Congresso Nacional. Não há
até o momento notícias sobre a participação do Executivo nas tratativas.
Isso é surpreendente pois, em termos de número de usuários, esse poder
será o mais atingido por uma eventual implantação dessa obra.
Diante de todos esses dados fica claro
que o GDF nem sequer cogitou a adoção de outras soluções mais práticas e
baratas, tampouco desenvolveu estudos consistentes para uma
reformulação do transporte público da Esplanada dos Ministérios. Começam
a surgir notícias de um eventual VLT para essa região, mas nos parece
um tanto incoerente a propositura de um modal de transporte de massa
sobreposto a uma solução de grande porte para estacionamento de veículos
particulares. Talvez esteja faltando visão de planejamento e
priorização no GDF.
Assim, a pergunta que fica cada vez mais
evidente é: porque a opção pelos estacionamentos subterrâneos em um
projeto dessa envergadura, com quase 6 vezes o tamanho da proposta
original? Porque a primeira e única opção foi a mais dispendiosa?
Tirem suas conclusões.