Sábado, 1 de junho de 2013
Alex Rodrigues*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quarenta e oito horas após ter sido morto durante a ação
de reintegração de posse de uma fazenda de Sidrolândia (MS), o corpo do
índio terena Osiel Gabriel, de 35 anos, será submetido a uma nova
autópsia. Os novos exames serão feitos a pedido do Ministério Público
Federal (MPF), no Instituto Médico-Legal (IML) de Campo Grande (MS), por
médicos legistas enviados de Brasília pela Polícia Federal (PF).
O pedido para o reexame foi do procurador da República Emerson Kalif
Siqueira. Ele considerou que a autópsia feita na quinta-feira (30), logo
após o confronto entre índios e policiais, não foi realizada nas
condições adequadas. Depois que a morte de Gabriel foi atestada pelo
médico que o atendeu no Hospital Beneficente Elmíria Silvério Barbosa,
em Sidrolândia, seu corpo foi levado diretamente para o local onde seria
velado, e não para o IML, que estava fechado devido ao feriado.
O médico legista Walney Pereira foi então ao local do velório, onde
fez a autópsia, atestando que o índio morreu em função de um ferimento à
bala no abdômen.
Antes mesmo de receber o resultado do exame, o procurador da
República considerou necessário uma análise mais detalhada do caso, para
que não restem dúvidas sobre, por exemplo, o calibre do projétil que
atingiu Gabriel. O corpo do índio seria enterrado nessa sexta-feira
(31), mas seus parentes concordaram com a realização da nova autópsia.
Segundo a PF, 14 adultos e três jovens, todos índios, foram
apreendidos durante a ação policial de quinta-feira (30). Os adultos
foram ouvidos e liberados após serem indiciados pelo crime de
desobediência, cuja pena varia de dois meses a dois anos. A PF diz
também ter apreendido três armas de fogo, facões, facas e arcos e
flechas em posse dos índios.
A reintegração de posse foi autorizada no início da noite dessa
quarta-feira (29) pelo juiz substituto da 1ª Vara Federal de Campo
Grande, Ronaldo José da Silva. Segundo a PF, os índios resistiram à ação
policial. Os índios, no entanto, dizem ter sido surpreendidos ainda de
madrugada pela chegada dos policiais. A própria Superintendência da PF
no estado confirmou à Agência Brasil que não conseguiu
avisar o Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio
(Funai) que iria cumprir a decisão judicial e retirar os índios da área.
A fazenda, que pertence ao ex-deputado estadual Ricardo Bacha, fica
no interior da Terra Indígena Buriti, declarada pelo Ministério da
Justiça como de ocupação tradicional, em 2010. Dos 17 mil hectares
reconhecidos, os índios ocupam hoje apenas 3 mil hectares (um hectare
corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de
futebol oficial).
Uma primeira tentativa de desocupar a área foi abortada pela PF no
último dia 20, quando os índios também resistiram à ação policial
determinada pela Justiça que, diante do conflito, suspendeu a ordem de
reintegração até que proprietários e índios realizassem reunião de
conciliação. A reunião aconteceu na quinta-feira (29) e, como não houve
acordo, o juiz Ronaldo José da Silva autorizou que a propriedade fosse
desocupada.
* Colaborou Daniel Lima