Terça, 23 de julho
de 2013
Por Ivan de Carvalho
A presidente Dilma Rousseff, por força
do cargo e certamente sem perder de vista o que isso pode lhe dar de bônus
político numa hora de tanta aflição pela abrupta e espetacular queda de
popularidade, esteve ontem grudando no papa Francisco nas ocasiões que a agenda
lhe permitiu – no desembarque de Francisco no aeroporto, e, no Palácio
Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, numa rápida solenidade em que os
dois fizeram discursos protocolares, numa conversa reservada que se seguiu e
depois em uma recepção para 650 convidados, segundo informou o governo
fluminense.
Aí a coisa já ficou esquisita. A
recepção ou coquetel pareceu superfaturada. Digo que pareceu, pois não foi
feita uma investigação formal e não se sabe de fato o que aconteceu. Mas se
houve superfaturamento, o responsável é o governo do Rio de Janeiro, dirigido
pelo governador Sérgio Cabral, o da “dança do guardanapo” e os custos – os
normais, acrescidos dos anormais, serão cobrados dos contribuintes fluminenses.
Certamente, por exigência do papa
Francisco (podem apostar que foi por isto, do contrário algo como um banquete
teria acontecido), o bufê da recepção ao papa, segundo informou o Palácio
Guanabara, foi composto apenas de café, água e biscoitos. O jornal Folha de S. Paulo, assinala que a
recepção foi contratada por R$ 850 mil. Dividiu isso pelos 650 convidados
chegou-se à conclusão aritmética de que cada um deles terá custado R$
1.307,6923 (a calculadora que usei não é capaz de apresentar mais algarismos).
Mas vamos resumir: cada convidado saiu por R$ 1.300.
Bem, o jornal citado divulgou que uma
recepção em que são servidas entradas, coquetéis, saladas, prato principal e
sobremesa, o hotel Copacabana Palace, que fica na zona sul do Rio – e é de alto
luxo e tradição – cobra “em torno de R$ 250 por pessoa”.
Rememorando: café, água e biscoitos, no
Palácio Guanabara, que é estatal, custam, para um convidado, R$ 1.300. Já no
Copacabana Palace, que é privado e visa ao lucro, entrada, coquetel, salada,
prato quente e sobremesa custam, para uma pessoa, cerca de R$ 250.
O Palácio Guanabara informou que a
empresa responsável pela recepção foi escolhida por licitação. Sem mais
detalhes sobre a licitação, salvo o nome da empresa, Cenários e Cenas. A Folha de S. Paulo dá conta de que tentou
entrar em contato com a empresa, mas não localizou site, e-mail ou telefone.
Essa empresa parece ser bem mais sigilosa que a NSA – a Agência Nacional de
Segurança cuja ação de espionagem global foi denunciada por Edward Snowden.
Ah, bem. Para completar essa história
maravilhosa, a Folha de S. Paulo afirma o seguinte: “A assessoria
do governo do Estado do Rio informou que o gasto com o bufê é de apenas R$ 8
mil, o que daria um custo de cerca de R$ 12 reais por convidado. Mas não soube
informar em que foram gastos os outros R$ 842 mil pagos pelo governo”.
MÉDICOS – Médicos de todo o país farão, nesta
terça-feira, manifestações contra os
vetos da presidente Dilma Rousseff ao Ato Médico, contra o plano de importação
de médicos estrangeiros, se o governo achar necessário e contra a invenção autoritária do trabalho forçado (e mal remunerado),
durante dois anos, nas ações de base do sistema público de saúde para os estudantes que concluem o curso de
medicina, não importa se em escolas públicas ou privadas, nem se estudaram
gratuitamente com o dinheiro dos contribuintes ou pagaram seu curso.
Paralisação
da categoria médica é um completo absurdo, já escrevi isto dezenas de vezes ao
longo de anos, mas nunca será demais repetir isto. Se repeti agora é porque, em
alguns Estados, haverá hoje uma paralisação dos atendimentos nas redes pública
e privada, incluindo clientes dos planos de saúde, excetuando-se apenas
urgências e emergências. Em Salvador, uma iniciativa inteligente: em frente ao
Shopping Iguatemi, a partir das 14 horas, uma “feira de saúde” vai prestar
atendimento médico gratuito às pessoas e uma exposição de fotos vai mostrar as
más condições das unidades de saúde. Depois haverá uma caminhada pelas avenidas
Tancredo Neves e Magalhães Neto.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
