Sábado, 13 de julho de 2013
Por Ivan de Carvalho
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O recado foi
dado e a sociedade insatisfeita – que se envolveu espontaneamente e de surpresa
no movimento sem infraestrutura, sem lideranças – vai se recolhendo à espera de
respostas dos governantes e dos políticos em geral.
A presidente
Dilma, seu governo e o PT, que é o partido no governo, desdobram-se para dar
respostas que aparentemente não têm. Pois o que levou multidões às ruas – em
sintonia fina com as pessoas que ficaram em casa, como se pode inferir das
pesquisas de opinião pública realizadas no modelo “antes” e “depois” das
manifestações – são coisas que não se resolvem de um dia para o outro.
Já assinalei
neste espaço mais de uma vez e novamente o faço: o pano de fundo por trás de
todo o movimento popular de junho foi a percepção de que a inflação vinha
saindo de controle, inclusive estourando o limite superior da meta fixada pelo
próprio governo. Falavam no tomate, mas o tomate era só um símbolo, os preços
dos produtos e serviços tornavam-se crescentemente irritantes e incômodos para
os consumidores.
Então uma
faísca, R$ 0,20 nos preços das passagens de ônibus na cidade de São Paulo, fez
a mágica de incendiar o país. Não podia ser somente aquilo, não se pode
confundir o estopim com o explosivo. E bem que logo houve um aviso explícito e
perfeito: “Não é só pelos 20 centavos”.
Não era, não
é, continuará a não ser. Além da insatisfação difusa pelo aumento dos preços de
produtos e serviços, doendo no bolso e no estômago e comprometendo uma política
de razoável estabilidade financeira a que a nação já se vinha cada vez mais
acostumando, existem outras grandes motivações, as essenciais – a onipresença
da corrupção e o estado deplorável dos serviços públicos, principalmente o
transporte coletivo urbano, a saúde, a segurança pública e a educação.
É claro que há problemas graves
com a energia elétrica, apesar de uma trégua na série de apagões. Com o preço
dos combustíveis, cujo consumo aumentou muito com os incentivos oficiais para a
compra de automóveis sem uma prévia ou paralela melhoria da infraestrutura que
assegurasse a mobilidade urbana, o que agravou o inferno dos sistemáticos
congestionamentos de trânsito para os transportes urbanos individual, nos quais
gasolina, álcool e diesel são inutilmente queimados.
Mas deixemos esses “acréscimos” de
lado, pois nas manifestações os serviços públicos intensamente cobrados foram
mesmo o transporte coletivo urbano (pequenas concessões vêm sendo feitas quanto
a isto), a saúde, a segurança pública e a educação. Quanto a estes três
últimos, nada, salvo a grande confusão que emergiu na área de saúde, com a idéia
de importação de médicos e com os nacionais querendo se apropinquar de tudo e
as outras categorias da área de saúde recusando-se a ficar com as mãos
abanando.
Para complicar, o governo querendo
obrigar (autoritarismo é isso aí) os estudantes de medicina (mesmo os que pagam
seus estudos em faculdades privadas) a trabalhar no SUS ou no Programa de Saúde
da Família durante dois anos – uma espécie de trabalho escravo mal remunerado,
pelo menos para os que pagam seus estudos.
Estão esticando um complicadíssimo
vira-e-mexe com os royalties do petróleo em relação às áreas de educação e
de saúde, um negócio que chegou a parecer assunto encerrado, mas foi exumado.
Quanto à segurança pública – a
total incapacidade estatal de policiar as fronteiras para evitar o ingresso de
drogas e armas, de prevenir ou descobrir a autoria dos crimes (pelo menos os
que envolvam violência, como homicídios e tentativas, latrocínios, lesões
corporais, roubo), nenhuma autoridade no Executivo dá um pio sobre algo de
novo. E sobre a corrupção, tenta-se enrolar o distinto público eleitor.
Se não houver novas manifestações
de rua antes, as próximas podem ser nas urnas de outubro de 2014.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.