Segunda, 8 de julho de 2013
Por Ivan de Carvalho

É que diante
do número notoriamente absurdo de ministros – muitos dos quais nunca despacham
com a presidente, salvo quando ela, excepcionalmente, convoca todo mundo para
compor a moldura de um discurso à nação e mostrar que trabalha, julgou-se que
as manifestações de rua levassem a um enxugamento do ministério. Havia no meio
político uma forte especulação de que o ministério diminuiria de tamanho.
Afinal, no governo Collor eram
apenas 12 ministérios e não foi lamentada a inexistência do 13º, pelo menos sob
o aspecto administrativo. Sob o aspecto “fisiológico”, muito provavelmente
houve grande chororô nos bastidores políticos, de gente que queria entrar no
governo e não foi convidada. É bem possível que ministérios faltantes hajam
sido, entre outras, uma causa importante da queda do presidente (renúncia forçada
pela perspectiva de impeachment que
seria decretado no mesmo dia pelo Senado).
O enxugamento do ministério e
outras medidas que reduziriam despesas seriam sinais reais (os virtuais não
faltam, vêm sendo produzidos como que em uma linha de montagem) de que a
presidente, o governo e o próprio PT, que é o partido do governo, ouviram a voz
das ruas e leram os percentuais das pesquisas de opinião pública.
Nestas, a aprovação do governo e
as intenções de voto na reeleição da presidente Dilma Rousseff desabaram. Até a
popularidade do ex-presidente Lula, símbolo maior do PT, caiu dez pontos
percentuais (o que é muito), mesmo estando ele enfurnado enquanto do país não
se mandava quase para o outro lado do mundo, a exemplo da Etiópia, onde fez
palestra em Adis Abeba.
Sumido, poder-se-ia supor (talvez
ele haja suposto exatamente isto) que as pessoas não se lembrariam dele em hora
tão aziaga para o poste que elegeu e não se lembrariam de culpá-lo pela herança
que deixou no governo para a sucessora nem pelo comportamento administrativo
desta que, junto com situações não enfrentadas, e até muito pioradas nos seus
oito anos de mandato, produziram a grande insatisfação popular da qual as
manifestações de rua têm sido apenas a ponta do iceberg.
Mas não adiantou muito o ex-presidente
enfurnar-se e depois sumir no horizonte. Os dez pontos de popularidade
perdidos, é verdade, não impediriam que (ao contrário de Dilma) vencesse as
eleições presidenciais no primeiro turno, se elas fossem realizadas em 28 de
junho, data do encerramento da pesquisa Datafolha.
Nos termos da pesquisa, Lula ainda
se elegeria no primeiro turno. Mas não nas análises de alguns políticos. O PMDB
é o maior partido aliado do governo, que é do PT. O líder do PMDB na Câmara dos
Deputados é Eduardo Cunha. Este é um simpatizante, embora forçado ao silêncio,
do Volta Lula”, a troca de Dilma pelo ex-presidente como candidato do PT nas
eleições de 2014. Pois esse mesmo lulista reprimido avalia que “essa avalanche”
de manifestações afeta a eventual candidatura de Lula a presidente. “O
candidato do PT estará no segundo turno. Vai ter segundo turno com certeza.
Vamos ver quem será o candidato do PT”.
Mas – é o líder do PMDB na Câmara
que está dizendo, não sou eu – com Dilma ou com Lula vai haver segundo turno.
Bem, que bom. Eu gosto de votar. Duas vezes, melhor que uma.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.