Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu gosto de votar

Segunda, 8 de julho de 2013
Por Ivan de Carvalho
Apesar de ter sob seu comando, alguns inventados por ela mesma para acomodar partidos e políticos, ampliando o arco de alianças que a apoia – hoje sem o entusiasmo de antes de junho –, o número recorde de 39 ministros, a presidente Dilma Rousseff, depois de uma reunião com um grupo de ministros e ex-ministros, no fim de semana, divulgou uma nota desmentindo qualquer mudança no ministério.

         É que diante do número notoriamente absurdo de ministros – muitos dos quais nunca despacham com a presidente, salvo quando ela, excepcionalmente, convoca todo mundo para compor a moldura de um discurso à nação e mostrar que trabalha, julgou-se que as manifestações de rua levassem a um enxugamento do ministério. Havia no meio político uma forte especulação de que o ministério diminuiria de tamanho.

Afinal, no governo Collor eram apenas 12 ministérios e não foi lamentada a inexistência do 13º, pelo menos sob o aspecto administrativo. Sob o aspecto “fisiológico”, muito provavelmente houve grande chororô nos bastidores políticos, de gente que queria entrar no governo e não foi convidada. É bem possível que ministérios faltantes hajam sido, entre outras, uma causa importante da queda do presidente (renúncia forçada pela perspectiva de impeachment que seria decretado no mesmo dia pelo Senado).

O enxugamento do ministério e outras medidas que reduziriam despesas seriam sinais reais (os virtuais não faltam, vêm sendo produzidos como que em uma linha de montagem) de que a presidente, o governo e o próprio PT, que é o partido do governo, ouviram a voz das ruas e leram os percentuais das pesquisas de opinião pública.

Nestas, a aprovação do governo e as intenções de voto na reeleição da presidente Dilma Rousseff desabaram. Até a popularidade do ex-presidente Lula, símbolo maior do PT, caiu dez pontos percentuais (o que é muito), mesmo estando ele enfurnado enquanto do país não se mandava quase para o outro lado do mundo, a exemplo da Etiópia, onde fez palestra em Adis Abeba.

Sumido, poder-se-ia supor (talvez ele haja suposto exatamente isto) que as pessoas não se lembrariam dele em hora tão aziaga para o poste que elegeu e não se lembrariam de culpá-lo pela herança que deixou no governo para a sucessora nem pelo comportamento administrativo desta que, junto com situações não enfrentadas, e até muito pioradas nos seus oito anos de mandato, produziram a grande insatisfação popular da qual as manifestações de rua têm sido apenas a ponta do iceberg.

Mas não adiantou muito o ex-presidente enfurnar-se e depois sumir no horizonte. Os dez pontos de popularidade perdidos, é verdade, não impediriam que (ao contrário de Dilma) vencesse as eleições presidenciais no primeiro turno, se elas fossem realizadas em 28 de junho, data do encerramento da pesquisa Datafolha.

Nos termos da pesquisa, Lula ainda se elegeria no primeiro turno. Mas não nas análises de alguns políticos. O PMDB é o maior partido aliado do governo, que é do PT. O líder do PMDB na Câmara dos Deputados é Eduardo Cunha. Este é um simpatizante, embora forçado ao silêncio, do Volta Lula”, a troca de Dilma pelo ex-presidente como candidato do PT nas eleições de 2014. Pois esse mesmo lulista reprimido avalia que “essa avalanche” de manifestações afeta a eventual candidatura de Lula a presidente. “O candidato do PT estará no segundo turno. Vai ter segundo turno com certeza. Vamos ver quem será o candidato do PT”.

Mas – é o líder do PMDB na Câmara que está dizendo, não sou eu – com Dilma ou com Lula vai haver segundo turno. Bem, que bom. Eu gosto de votar. Duas vezes, melhor que uma.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.