Domingo, 14 de julho de 2013
Mas Dom Bosco não está
mais entre nós. Se estivesse, é certo que, de batina surrada e chicote
em punho, Dom Bosco iria tomar satisfações com os que governam o Brasil,
tamanha é a perdição em que se encontram milhões de jovens brasileiros,
sem teto, sem família, sem escola, sem futuro e que vivem um presente
devastador.
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Interlocutor do Papa Francisco pela internet
desde os tempos em que ele era o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, o
advogado carioca Jorge Béja, recém-chegado de uma viagem ao exterior,
volta a se dirigir à Sua Santidade, a propósito de sua próxima visita ao
Brasil, o primeiro grande compromisso internacional que realizará após
assumir a dignidade do Papado. E nessa mensagem, Béja relata ao Papa a
difícil situação que o Brasil vive.
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PAPA FRANCISCO, SEJA BEM-VINDO
Francisco, Santo Padre amigo, o 22 de Julho está
chegando. O Rio e o Brasil aguardam sua presença. Seja bem-vindo. Dos
humanos que integram o Povo de Deus, sou um dos muito poucos que possuem
seu endereço eletrônico privado. Dele me servi em março passado e fui
correspondido. Suas carinhosas palavras, seu conselho para que em minha
casa todos lessem “o Evangelho inteiro de acordo com San Juan“, mais sua bênção “nas Escritas Sagradas, em Números 6:24-27“, que chegaram com sua resposta, cobriram de graça a todos nós.Somos-Lhe gratíssimos, amado Papa Francisco.
Graça maior seria encontrá-Lo aqui na cidade onde nasci, cresci e
ainda vivo, beijar suas mãos, de perto ver seu resplandecente e
suave sorriso, ouvir sua voz e orarmos juntos.Aqui no Rio a movimentação
e os preparativos, dos fiéis e principalmente dos governos, são
intensos. Até mesmo sinto que são incompatíveis com a simplicidade de
Francisco, avesso às pompas e ostentações desde quando o pequeno
argentino Jorge Mário Bergoglio, aos 14 anos de idade, se viu chamado,
escolhido e eleito a dedicar sua vida a Jesus Cristo e a trilhar a
bendita senda de Francisco de Assis. É certo que devemos tributar ao
Papa todas as honrarias, mas sem suntuosidade, sem gastos públicos
exagerados, quando o Pontífice que chega e nos visita é Francisco.
Tanto à juventude brasileira e à de outros países que aqui no Rio
estarão reunidas e muito mais ainda aos governantes do meu país, que o
Santo Padre a todos reitere, repita, faça observar a determinação de
Francisco de Assis ao lobo de Gúbio, fera que amedrontava aquela pequena
cidade na Úmbria: “Vem cá, irmão lobo, e da parte de Cristo te ordeno que não faças mal a ninguém, nem a mim, nem a qualquer pessoa”. Sim,
Francisco, porque este imenso Brasil está violento. Falta-nos a paz
social, individual e coletiva. Temos aqui muitos lobos, visíveis e
camuflados com pele de cordeiro. Entre nós o índice de criminalidade é
demasiadamente alto.
Na Itália do Século XIX, ainda dividida em reinos, àquela multidão “birichinos”
Dom Bosco deu guarida e amor, os retirou das ruas e fez deles, a
começar por Bartolomeu Garelli, homens de bem. Mas Dom Bosco não está
mais entre nós. Se estivesse, é certo que, de batina surrada e chicote
em punho, Dom Bosco iria tomar satisfações com os que governam o Brasil,
tamanha é a perdição em que se encontram milhões de jovens brasileiros,
sem teto, sem família, sem escola, sem futuro e que vivem um presente
devastador. Mas nem tudo está perdido. Resta-nos a esperança em
Francisco, que estará entre nós, desprotegido de escudo ou capacete, mas
munido com o mesmo sinal da cruz que empunhou Francisco de Assis ao
enfrentar o lobo de Gúbio.
E mais, amado Francisco: que esta Jornada Mundial não
seja apenas da Juventude. Adultos e anciãos também muito precisam de
Francisco. São poucos, muito poucos, os que integram as chamadas
“elites” e conseguem viver uma velhice condigna. No mais, a maioria
sofre. É precário o atendimento médico-hospitalar. E sem condições
financeiras de contratar um plano de saúde, perambulam entre hospitais e
centros médicos em busca de socorro e obtenção de medicamentos e, quase
sempre não são atendidos e nada conseguem.
Também as enxovias nacionais estão entupidas de
presidiários. São homens, mulheres e menores infratores, postos fora da
sociedade e que se achatam numa prensa, ódio em cima, ódio embaixo,
como nos relatou Graciliano Ramos, renomado escritor brasileiro de
outrora (1892-1953). E, com o passar do tempo, nada mudou. A tal ponto
que o atual Ministro da Justiça do Brasil declarou, publica e
recentemente, que “prefiro morrer a cumprir pena nos presídios
nacionais”!!. Enfim, ou a sobriedade, probidade, responsabilidade,
respeito, progresso e evolução caminham juntas, ou juntas miseravelmente
perecem.
Venha, Francisco. Venha nos abençoar. Venha nos curar.
Venha salvar o Brasil e seu bondoso e hospitaleiro povo. Venha lançar a
semente do milagre, que tanto necessitamos.
Em Cristo,
Jorge Béja, advogado no Rio de Janeiro.
Fonte: Tribuna da Imprensa