Sexta, 22 de agosto de 2014
Agosto 22
A melhor mão de obra
O sacerdote francês
Jean-Baptiste Labat recomendava num de seus livros, publicados em 1742:
Os meninos africanos de dez a
quinze anos são os melhores escravos para se levar para a América. Tem-se a
vantagem de educá-los para que marquem o passo como melhor convenha aos seus
amos. Os meninos esquecem com mais facilidade seu país natal e os vícios que lá
reinam, se encarinham com seus amos e estão menos inclinados à rebelião que os
negros mais velhos.
Esse piedoso missionários sabia
do que falava. Nas ilhas francesas do mar do Caribe, Père Labat oferecia
batismos, comunhões e confissões, e entre missa e missa vigiava suas
propriedades. Ele era dono de terras e escravos.
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Agosto
23
A
pátria impossível
Em 1791, outro amo de terras e
escravos enviou uma carta do Haiti:
— Os negros são muito obedientes, e serão sempre — dizia.
A carta estava navegando rumo a Paris quando ocorreu o impossível: na
noite de 22 para 23 de agosto, noite de tormenta, a maior insurreição de
escravos da história da humanidade explodiu nas profundidades da selva
haitiana. E esses negros muito obedientes
humilharam o exército de Napoleão Bonaparte, que havia invadido a Europa de
Madri a Moscou.
Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um
calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores,
2012, páginas 268 e 269.