Domingo, 20 de setembro de 2015
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Marcha dos Trabalhadores toma a Avenida Paulista e defende uma alternativa de classe ao governo e à oposição burguesa
Fotos: Romerito Pontes e Paollo Rodajna
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Na tarde desta sexta, 18, algo como 15 mil pessoas tomaram a Avenida
Paulista, em São Paulo, contra o governo Dilma e as alternativas
colocadas aí como o vice Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB), e a oposição burguesa encabeçada por Aécio Neves (PSDB). A
Marcha dos Trabalhadores e Trabalhadoras foi convocada e organizada
pela CSP-Conlutas e outras cerca de 40 entidades sindicais e dos
movimentos sociais, populares e estudantis, além de partidos como o
PSTU, PCB e correntes do PSOL.
Entidades estudantis em luta contra os cortes na Educação, como a
ANEL e Juntos, também foram às ruas, assim como movimentos contra a
opressão, como o Movimento Mulheres em Luta (MML) e o Quilombo Raça e
Classe.
A marcha teve, enfim, uma cara operária, negra, feminina, LGBT e
estudantil, expressando a indignação de amplos setores da classe
trabalhadora contra os ataques do governo e do Congresso Nacional, e
expressando um esforço em abrir a porteira para que a classe e os
setores oprimidos tomem as ruas.
"1, 2, 3, 4, 5, mil, ou pára o ajuste, ou paramos o Brasil"
A concentração do protesto começou por volta das 15h no vão do MASP. Em pouco tempo, milhares de manifestantes de várias partes do país se reuniam para dizer "basta" a esse governo, a esse Congresso Nacional corrupto e ao PSDB. Além dos bonecos da Dilma e de Aécio que abririam a marcha, um Eduardo Cunha vestido de presidiário também deu as caras, junto com o petista Zé Dirceu.
No começo da manifestação, a indígena Valdenice Veron, da tribo
guarani Kaiowa, deu um contundente depoimento sobre o extermínio dos
povos originários. "Só da minha família, morreram 15 pessoas da tribo Taquaral, no Mato Grosso do Sul",
disse, fazendo um emocionado apelo para o apoio à luta e resistência
contra o massacre indígena. Também marcaram presença imigrantes
haitianos, que protestaram contra o racismo e xenofobia a que são
vítimas em nosso país e contra a ocupação militar do Haiti.
Já os movimentos de luta por moradia marcharam lado a lado dos operários e estudantes. "Os sem-tetos estão nas ruas por uma alternativa contra esse governo, mas também não querem ser capachos da direita",
afirmou Helena Silvestre, do movimento Luta Popular, referindo-se aos
atos patrocinados pelo PSDB e os protestos levados a cabo por setores
que apóiam o governo. "Nós viemos de muitas lutas contra despejos,
são trabalhadores que saem cansados do trabalho no final do dia e vão
para suas moradias de lona, de madeirite", disse. "Os sem-tetos estão ao lado dos trabalhadores", discursou.
Além dos trabalhadores que estão em luta por salários, contra as
demissões e os ataques aos direitos, estiveram presentes operários
rurais organizados na Feraesp (Federação dos Assalariados Rurais de São
Paulo). "O agronegócio recebeu muito dinheiro no governo Dilma, e aí o governo diz que não tem dinheiro pra reforma agrária", disse Rubens Germano, o Rubão, dirigente da federação.
Por uma alternativa construída nas ruas e nas lutas
O Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria, defendeu uma alternativa da classe trabalhadora à falsa polarização entre o governo do PT de um lado e o PSDB do outro. "Dois fatos essa semana resumem bem o cenário político brasileiro, o pacote de maldades apresentado pelo governo Dilma e o pedido de impeachment apoiado por setores do PSDB", disse, explicando que, por um lado, “o governo do PT, frente à crise, ataca impiedosamente os direitos da classe trabalhadora pra defender os interesses e os lucros dos bancos e multinacionais”. E de outro, a oposição burguesa, exige “ainda mais cortes dos direitos dos trabalhadores”.
Isso significa que, se por um lado o governo do PT aplica um duro
ajuste fiscal e amplia cada vez mais os ataques à classe, de outro
setores da oposição burguesa defendem um impeachment, mas pra tirar o
governo e continuar aplicando esses mesmos ataques. “Pra nós, trabalhadores, sobra a conta disso tudo”, diz.
"É por isso que achamos errada a posição de parte da esquerda que
diz que devemos defender o governo frente à oposição de direita que aí
está", afirmou, argumentando que, além de ambos representarem a
mesma política, a própria direita já está no governo, como a ruralista
Kátia Abreu, o dirigente industrial e ministro Armando Monteiro e tantos
outros. Dirigido-se ao MTST e à direção do PSOL, Zé Maria defendeu a
construção de uma alternativa dos trabalhadores. "É aqui, nas ruas, nas lutas dos trabalhadores que nós poderemos construir uma alternativa de esquerda à crise do país", discursou.
Por fim, Zé Maria fez um chamado à direção da CUT e demais centrais
para a construção de uma Greve Geral no país contra o ajuste fiscal e os
ataques do governo Dilma.