Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A neta

Janeiro
7

A neta
Soledad, a neta de Rafael Barrett, costumava recordar uma frase do avô:
– Se o Bem não existe, é preciso inventá-lo.
Rafael, paraguaio por escolha própria, revolucionário por vocação, passou mais tempo na cadeia que em casa, e morreu no exílio.
A neta foi crivada a balas no Brasil, no dia de hoje de 1973.
O cabo Anselmo, marinheiro insurgente, chefe revolucionário, foi quem a entregou.
Cansado de ser perdedor, arrependido de tudo o que acreditava e gostava, ele deletou um por um de seus companheiros de luta contra a ditadura militar brasileira, e os despachou para o suplício ou o matadouro.
Soledad, que era sua mulher, ele deixou para o fim.
O cabo Anselmo apontou o lugar onde ela se escondia e foi-se embora.
Já estava no aeroporto quando ouviram-se os primeiros tiros.
Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores, 2ª edição, pág. 21.