Quarta, 6 de janeiro de 2016
Da Tribuna da Imprensa /// Brasil de Fato
Por FREI MARCOS SASSATELLI
No
artigo “Frei deseducador”, publicado no Diário da Manhã, de Goiânia, do
dia último dia 4, o jornalista Luiz Gama pretende desqualificar o meu
artigo “Que diálogo é esse?”, publicado no mesmo jornal dois dias antes.
O artigo de Luiz Gama é uma enxurrada de afirmações desconexas e sem
nenhum raciocínio lógico. Dá a impressão ao leitor que o jornalista nem
sabe escrever. Pelo seu nível de baixaria, o artigo do jornalista
tornou-se a melhor propaganda do meu. Quem ainda não o leu, certamente
vai lê-lo e poderá constatar a seriedade do artigo.
Não
vou gastar o meu tempo para polemizar com um jornalista leviano, que
envergonha toda a categoria dos jornalistas. Só faço duas observações.
Primeira:
os estudantes secundaristas que ocupam as escolas do estado não são
“invasores” - como, em tom desrespeitoso e cínico, afirma o jornalista
-, mas são jovens que ocupam escolas estaduais, lutando por um direito
que a própria Justiça reconhece como legítimo, o da educação pública.
Segunda:
se eu sou “Frei deseducador” que revela “completa ignorância quanto ao
tema” - novamente como o jornalista Luiz Gama, sempre em tom
desrespeitoso e cínico, afirma -, pela lógica todas as universidades e
faculdades federais e estaduais - além de muitas outras Instituições -
que em nota pública se manifestaram contra as OSs na gestão das escolas,
são também “Universidades e Faculdades deseducadoras“ que “revelam
completa ignorância quanto ao tema”.
Que
despudor! Até uma criança percebe o absurdo - que beira o ridículo -
das afirmações de Luiz Gama. Só ele, cujo comportamento é de
“pau-mandado”, não percebe isso.
Para
que o jornalista Luiz Gama e outras pessoas de sua turma não digam que
são palavras do “Frei deseducador”, cito como exemplos as notas públicas
da Universidade Federal de Goiás (UFG), que a instituição na qual
leciono, e da Faculdade de Educação/UFG. Identifico-me totalmente com o
seu conteúdo.
A
Nota da UFG, atualmente uma das universidades públicas mais bem
conceituadas do Brasil, afirma: “O Conselho Diretor do Centro de Ensino e
Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás
(CEPAE/UFG), instância máxima deliberativa, reunido no dia 16 de
dezembro de 2015, manifesta total e irrestrito apoio e solidariedade aos
estudantes secundaristas do Estado de Goiás que ocupam Escolas, na
capital e no interior, em defesa da educação pública, gratuita, de
qualidade e socialmente referenciada”.
Continua
a nota: “Os estudantes secundaristas defendem o direito de se manterem
em Instituições Públicas porque sabem que o projeto das Organizações
Sociais (OSs) tem, em sua base, a privatização de um bem público, a
educação, passando o seu gerenciamento para Entidades Privadas que não
têm qualquer interesse com o público e visam somente ao lucro. Defendem
ainda o direito de serem ouvidos, pois a mudança de gerenciamento das
Escolas Públicas sequer foi debatida pela comunidade escolar
(professores, funcionários, alunos e pais)”.
Reparem que não é o “Frei deseducador” que afirma isso!
A
nota da UFG “manifesta ainda repúdio a qualquer ato de repressão pelos
aparelhos estatais, principalmente a Polícia Militar, quando não
respeita os direitos constitucionais de livre manifestação das Entidades
Estudantis numa sociedade democrática de direito”.
A
outra nota pública que cito é a da Faculdade de Educação/UFG sobre a
militarização e as OSs na gestão das escolas estaduais em Goiás, de
dezembro de 2015. Com muita clareza a nota diz: “Professores, servidores
e estudantes da FE/UFG vêm a público manifestar-se a respeito da
militarização das Escolas Públicas Estaduais e da proposta do Governo
Estadual de entregar a Organizações Sociais (OSs) a gestão de parte das
Escolas do nosso Estado. A FE/UFG se posiciona contrariamente à
militarização e à proposta de gestão escolar via OSs por entender que
não é por nenhuma dessas duas vias que o Estado alcançará o objetivo de
construir uma Escola Estadual verdadeiramente pública, laica, gratuita e
de qualidade para todos”.
A
FE/UFG, continua a nota, “entende que a gestão escolar via OSs se
constitui num processo de terceirização da oferta de educação pública e
que a militarização das Escolas é uma solução equivocada tanto para a
suposta resolução do problema da violência nas Escolas quanto para a
melhoria da qualidade do ensino. A FE/UFG, com seus mais de 40 anos de
experiência no campo da formação de professores e da pesquisa em
Educação, entende que não é pela militarização ou pela terceirização via
OSs que serão resolvidos ou mesmo minimizados os problemas da Escola
Pública Estadual goiana”.
A
nota ainda pergunta: “se o Estado possui recursos para que OSs e
Polícia Militar administrem Escolas, por que não investe estes mesmos
recursos num projeto próprio, verdadeiramente público e democrático, de
melhoria da qualidade da educação no Estado?”.
Luiz
Gama, essas palavras não são do “Frei deseducador”, mas expressam muito
bem tudo o que eu penso sobre a militarização das escolas e sobre as
OSs na gestão das Escolas Estaduais.
Somente
na UFG, sem contar as inúmeras notas de outras instituições, poderia
citar também as notas públicas das Faculdades de Letras, de Informação e
Comunicação e de Ciências Sociais, que são verdadeiras moções de
repúdio à ação do governo goiano de querer militarizar e privatizar as
escolas públicas em Goiás.
Jovens,
estudantes secundaristas, não se assustem com os “ditadorzinhos” de
plantão que - por se acharem donos do mundo - não respeitam e não
escutam ninguém, nem as instituições reconhecidas nacional e
internacionalmente como a UFG e a FE/UFG.
Repito:
não se assustem! Eles passam! Saibam que todos os verdadeiros
educadores e educadoras estão com vocês. A união faz a força! Continuem
firmes e com muita garra!