Quinta, 14 de janeiro de 2016
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Polícia usou violência para dispersar protesto contra aumento de tarifas, diz MPL
O Movimento Passe Livre (MPL) criticou a violência com que foi reprimida a manifestação de ontem (12) em São Paulo e prometeu continuar lutando contra o aumento das passagens de ônibus e metrô na capital. Os preços do transporte público subiram de R$ 3,50 para R$ 3,80.
“Defenderemos nosso direito à cidade e à manifestação. Se a polícia aumenta a repressão, aumentamos a resistência. Não vamos sair da luta até que caia a última catraca”, diz comunicado divulgado hoje (13) pelo MPL.
“Defenderemos nosso direito à cidade e à manifestação. Se a polícia aumenta a repressão, aumentamos a resistência. Não vamos sair da luta até que caia a última catraca”, diz comunicado divulgado hoje (13) pelo MPL.
Sobre a ação da Polícia Militar, o movimento diz que a manifestação foi reprimida antes mesmo de sair da concentração. “A violência da polícia, que deixou mais de dez presos – sendo que um morador de rua foi ferido no pé por uma bala de verdade – mostra a verdadeira política de [Geraldo] Alckmin e [Fernando] Haddad: defender o lucro dos empresários a qualquer custo”, diz a nota em referência ao governador do estado e ao prefeito da capital.
De acordo com o movimento, pelo menos 20 manifestantes foram feridos por estilhaços de bombas e balas de borracha e precisaram ser encaminhados a hospitais da região. Um deles é o estudante de arquitetura Gustavo Camargo, que teve fratura exposta no polegar direito. Segundo a mãe do jovem, Ana Amélia Camargo, o rapaz, de 19 anos, foi atingido por uma bomba lançada pela polícia e passou ontem por uma operação. “A cirurgia foi para limpar. A preocupação inicial era de não infeccionar. Amanhã que eles vão ver como reconstituir o dedo”, disse Ana Amélia.
Ainda não se sabe se Gustavo conseguirá recuperar plenamente os movimentos da mão. “Os médicos disseram que, quando é bomba, estilhaça muito os ossos”, acrescentou Ana Amélia, que pretende acionar o Estado judicialmente. “Para que pelo menos eles não façam mais isso. Foi uma violência horrível", afirmou.
Os manifestantes começaram a se concentrar às 17h de ontem na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, região central da capital. Eles pretendiam seguir até o Largo da Batata, na zona oeste, passando pelas avenidas Rebouças e Faria Lima. No entanto, o policiamento autorizou a manifestação apenas em direção ao centro.
Por volta das 19h30, parte dos manifestantes tentou driblar o forte policiamento para seguir em direção ao Largo da Batata, correndo no sentido da Avenida Rebouças, momento em que a polícia começou a disparar bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, e a bater com cassetetes nos manifestantes.
O secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, Alexandre de Moraes negou que tenha havido abuso na ação da polícia. Segundo Moraes, se movimentos fizerem manifestações na cidade e não informarem previamente o percurso da passeata, quem definirá isso será a secretaria e polícia.
“Passamos a estabelecer o que a Constituição determina: o absoluto direito de manifestação de qualquer grupo, desde que haja o aviso prévio para que as autoridades possam organizar a cidade. O único movimento que não comunica previamente suas manifestações, apesar de solicitado, é o Movimento Passe Livre. A partir do momento em que não comunicar qual será o trajeto de sua manifestação, nós vamos estabelecer o traçado para evitar confusão com milhões de pessoas que não estão participando”, afirmou o secretário.
O MPL marcou para amanhã (14) duas manifestações simultâneas às 17h. Uma sairá do Largo da Batata, na zona oeste, e a outra de frente do Theatro Municipal, no centro.
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Movimento Passe Livre faz hoje dois atos simultâneos em São Paulo
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
O
Movimento Passe Livre (MPL) fará hoje (14), no fim da tarde, na capital
paulista, duas manifestações simultâneas contra o aumento das tarifas
do transporte coletivo público. Os atos terão início às 17h,
concomitantemente, em frente ao Theatro Municipal, no centro da cidade, e
no Largo da Batata, ao lado do metrô Faria Lima, na região oeste.
Em
apoio ao MPL, às 15h, os estudantes secundaristas, que fizeram a
ocupação das escolas estaduais no fim do ano passado, farão uma passeata
em defesa da liberdade de manifestação e contra a repressão policial. A
caminhada sairá da Praça da Sé, passará pela Secretaria de Segurança
Pública e terminará no Theatro Municipal, local da concentração de um
dos dois atos do MPL.
No fim da manhã, o Ministério Público do
Estado de São Paulo, a pedido da prefeitura, fará uma reunião com
representantes dos movimentos sociais, autoridades do município e do
estado para discutir o exercício do direito de livre manifestação e do
direito à livre circulação nas vias públicas.
Ontem, o secretário
de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, voltou a dizer que
caso os manifestantes não informem antecipadamente o percurso que as
passeatas vão seguir, a própria polícia determinará as ruas em que elas
deverão passar. A posição da secretaria, no entanto, é vista como ilegal
pela Coordenação da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados
do Brasil de São Paulo (OAB-SP).
“A
Constituição Federal permite a livre manifestação, permite a reunião e
exige apenas uma prévia notificação, um aviso. Não existe nenhuma lei
abaixo da Constituição, como afirma o secretário de Segurança, a
determinar que você tenha de informar à polícia o local [em que a
passeata irá passar], e a polícia autorizar. Isso é contra a lei”, disse
o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo,
Martim de Almeida Sampaio.
“Se houver uma regulamentação desse
artigo da Constituição, muito bem. Mas, até agora, não há, e os
manifestantes têm o direito assegurado de se manifestar livremente”,
acrescentou.
No protesto de terça-feira (12) do Movimento Passe
Livre, após parte dos manifestantes tentar driblar o forte policiamento
para seguir em direção ao Largo da Batata, em direção contrária à
definida pela PM, policiais começaram a disparar bombas de estilhaços e
de gás lacrimogêneo e a bater com cassetetes nos manifestantes. Passaram
a disparar também contra a multidão que permanecia na Praça do
Ciclista, confinada por cordões policiais. Os ativistas ficaram
encurralados, tendo de um lado policiais da tropa de choque disparando
bombas e, de outro, um cordão que impedia a saída dos manifestantes da
praça.
"O que houve foi uma operação militar, de cerco e
aniquilamento dos manifestantes. Cercaram e jogaram, durante seis
minutos, 47 bombas. Uma bomba a cada 7 segundos. Qualquer polícia em um
estado democrático tem é de assegurar àqueles manifestantes o direito de
ir e vir, liberdade de reunião. Eles têm o direito de se manifestar",
disse Sampaio.
De acordo com o MPL, pelo menos 20 manifestantes
foram feridos por estilhaços de bombas e balas de borracha atirados pela
polícia e precisaram ser encaminhados a hospitais da região. Um deles é
o estudante de arquitetura Gustavo Camargo, que teve fratura exposta no
polegar direito. Segundo a mãe do jovem, Ana Amélia Camargo, o rapaz,
de 19 anos, foi atingido por uma bomba lançada pela polícia e passou
ontem por uma operação. “A cirurgia foi para limpar. A preocupação
inicial era de não infeccionar. Amanhã é que eles vão ver como
reconstituir o dedo”, contou Ana Amélia.
O secretário de
Segurança Pública do estado de São Paulo, Alexandre de Moraes, negou que
tenha havido abuso na ação da polícia. Em entrevista coletiva na noite
de terça-feira, diante do relato dos repórteres de que jornalistas foram
agredidos por policiais, mesmo estando identificados, e de que
manifestantes já dominados foram espancados pelo policiamento, Moraes
disse que todos os abusos serão apurados. "Podem ficar tranquilos, temos
toda a ação filmada".
Segundo o coordenador estadual do
Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, uma
tragédia poderá ocorrer nos protestos de rua de São Paulo em decorrência
da escalada de violência e da falta de diálogo da gestão estadual e
municipal com os manifestantes, que reivindicam a revogação do aumento
da tarifa do transporte coletivo público.
“O temor é de que a
situação de violência acabe tendo uma escalada, e logo podemos ter
óbitos nessas manifestações, que inclusive envolvem muitos adolescentes.
Nós podemos ter uma tragédia, diante desse clima de animosidade entre a
polícia, os manifestantes e a falta de diálogo por parte do governo do
estado e por parte do governo municipal”, afirmou.