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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Uma importante vitória na luta pelo Parque Ecológico do Gama; Justiça determina ao DF e à ex-administradora da cidade demolir os irregulares banheiros para autoescolas; leia íntegra da setença

Quinta, 7 de fevereiro de 2019
Dado que os réus Distrito Federal e a administradora regional Maria Antonia Rodrigues Magalhães insistiram em resistir ao embargo judicial, prosseguindo na edificação ilegal, têm a obrigação solidária de recompor o estado de fato anterior do imóvel, mediante a demolição e remoção dos entulhos da obra causadora do dano ambiental, de modo a restaurar a composição física natural, no prazo de 30 dias desde a publicação desta sentença, sob pena de multa diária no valor de R$ 2.000,00, limitada ao valor global de R$ 2.000.000,00.



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Uma importante vitória na luta pelo Parque Ecológico do Gama

Por
Dom Juan Ricthelly

UMA IMPORTANTE VITÓRIA NA LUTA PELO PARQUE ECOLÓGICO DO GAMA
Em novembro de 2017 ao passar pelo Parque Ecológico do Gama percebemos que uma obra se iniciava sem identificação, custos ou quem estava fazendo, em questão de um dia haviam cavado todos os buracos da fundação e alocado um contêiner ao lado.
Fomos ao Diário Oficial do Distrito Federal e verificamos que havia o anúncio da ‘construção de banheiros públicos com sala de apoio institucional’, exatamente nesses termos, no valor de R$ 248.696,49 e ficamos surpresos pela falta de diálogo da Administração com a Comunidade, depois soubemos que somente os diretamente beneficiados haviam sido consultados sobre a questão.
Nossa reação precisava ser imediata, pois ao que parecia  as obras indicavam que um ritmo acelerado de construção seria imposto. Promovemos uma representação junto ao Ministério Público na Promotoria do Meio Ambiente solicitando que a Audiência Pública realizada anteriormente fosse refeita, em razão de ter pautado o debate com base em pressupostos equivocados e ao mesmo tempo ingressamos com uma Ação Popular solicitando o embargo da obra e outras providências em defesa do Parque.
Para atrasar um pouco o avanço da construção, um grupo de ambientalistas se uniu e numa manhã de domingo invadimos o local da obra, tapamos novamente os buracos das fundações com pás e enxadas e plantamos uma muda de árvore em cada buraco, com isso atrasamos os trabalhos em um dia, o que deu tempo da liminar sair embargando a obra.
Infelizmente a Administração Regional adotou uma postura de ataque, continuou com às obras, descumprindo a decisão e foi para as redes sociais tentar angariar a simpatia da população, fizemos o mesmo e o retorno foi incrível, com um alcance maior até.
A obra seguiu embargada até janeiro de 2018, a liminar havia sido derrubada pelo Tribunal, e ocorreu, então, imediato reinício da construção. Recorremos e fomos defender a liminar perante um colegiado de desembargadores e, infelizmente, fomos massacrados diante de uma plateia repleta de pessoas, por julgadores insensíveis à questão ambiental.
O IBRAM foi obrigado a refazer a Audiência Pública a pedido do Ministério Público, e isso nos movimentou no sentido de fazer um levantamento completo sobre a história e a situação do parque, pois ao contrário das outras vezes, queríamos preparar a população para o debate.
Nesse espírito, fizemos uma pesquisa que durou meses, onde fomos nos arquivos poeirentos de vários órgãos públicos, buscar a história perdida do Parque Ecológico do Gama, e quanto mais fundo íamos, mas fundo tínhamos que ir, pois às informações nunca eram completas e tínhamos que ir em busca de documentos de órgãos públicos que não existiam há vários governos, até mesmo escrevi um conjunto de crônicas narrando essa aventura, chamado de Aventuras Burocráticas, muita gente riu muito acompanhando cada capítulo que se desenhava.
Após reunir toda informação que conseguimos, sistematizamos um seminário, onde abordávamos os aspectos históricos, sociais, ambientais, econômicos, políticos e jurídicos do Parque Ecológico do Gama, o objetivo era capacitar quem quisesse participar da audiência, para fazermos um contraponto ao tecnicismo dos órgãos públicos, que chegam vomitando um universo de informações, numa linguagem que às pessoas não entendem sobre coisas que são importantes no seu dia a dia, e assim muitas vezes uma Audiência Pública é utilizada para legitimar ações que vão contra os interesses da comunidade.
Mais de 100 pessoas participaram dos seminários, que ocorreram em várias edições em várias escolas da cidade e em horários acessíveis.
No dia da Audiência compareceram aproximadamente 200 pessoas e houve uma rara participação massiva e ativa da comunidade, infelizmente o IBRAM adotou uma postura belicosa, atacando o Conselho Gestor do Mosaico de Unidades de Conservação do Gama e diretamente a minha pessoa, o que fez com eu exigisse direito de resposta e rebati ponto a ponto.
Ficou clara naquela audiência que a intenção do governo seguia sendo a de governos anteriores, que era adotar o caminho mais fácil para a consolidação do Parque Ecológico do Gama, removendo um grupo de pessoas em situação de vulnerabilidade social e contemplando instituições invasoras do parque, nos oferecendo uma poligonal que contemplava o segundo grupo, doando frações consideráveis do parque para eles.
Saímos desmotivados daquela audiência, veio carnaval, Copa do Mundo, Eleições e o processo foi seguindo o seu curso, confesso que já o tinha como perdido até ontem, quando saiu a sentença da Vara do Meio Ambiente nos dando razão.
Peço licença agora, para narrar diretamente em primeira pessoa, pois às emoções me obrigam.
Confesso que não tinha nenhuma expectativa positiva em relação a um desfecho favorável ao que eu defendi junto com outras lideranças da cidade, ao longo de toda essa briga que ainda não acabou, adquiri inimigos, coisa que nunca tive, fui atacado, ofendido e acusado de estar em busca dos meus 15 minutos de fama, teve quem dissesse inclusive que eu e os que estavam comigo, atrapalhávamos o progresso e o desenvolvimento de nossa cidade, comecei a ter medo de frequentar o parque, de caminhar na rua e de sentar num bar para tomar uma cerveja...
Financeiramente não ganhei absolutamente nada com tudo isso, muito pelo contrário, gastei dinheiro e tempo que poderia ter dedicado à outras coisas. Me lembro que em dezembro de 2017 estava relaxando em São Paulo enquanto acompanhava a Comic Com, e tive que interromper o meu descanso e a minha peregrinação à Meca Nerd  para comparecer à uma reunião com o Ministério Público em Brasília, tendo que adiantar passagem e abrir mão dos dias de hospedagem que havia pago, sai direto do aeroporto para a reunião e inclusive tive que me vestir dentro do carro, e não me arrependo de nada disso, pois tudo foi feito em nome da coletividade, da proteção ao meio ambiente e do desejo sincero de que possamos usufruir de espaços públicos de qualidade onde vivemos, sem precisar se deslocar para o Plano Piloto ou outros locais.
Certamente o GDF vai recorrer, tenho receio de que a mesma turma que derrubou o embargo seja sorteada para decidir, mas essa é uma vitória a ser comemorada, pois em uma luta que ocorre há mais de 30 anos, conseguimos uma pequena vitória que jamais tivemos, e isso sinaliza para o Poder Público que aqui existe um grupo de pessoas comprometidas com a defesa de seu território e dos interesses coletivos, e que não aceitaremos mais silenciosamente qualquer imposição inventada de cima para baixo que insistam em aplicar arbitrariamente em nossa cidade.
Vencemos uma importante batalha, a guerra segue, certamente estaremos aqui cumprindo o nosso papel de cidadãos apaixonados pela natureza e por nossa cidade e o que ela representa para nós.
Dom Juan Ricthelly
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Em face do exposto, julgo procedente o pedido, para declarar a nulidade dos atos administrativos que importaram na execução da obra de pavimentação e edificação de sala de apoio institucional a autoescolas na região do Parque do Gama.

Dado que os réus Distrito Federal e a administradora regional Maria Antonia Rodrigues Magalhães insistiram em resistir ao embargo judicial, prosseguindo na edificação ilegal, têm a obrigação solidária de recompor o estado de fato anterior do imóvel, mediante a demolição e remoção dos entulhos da obra causadora do dano ambiental, de modo a restaurar a composição física natural, no prazo de 30 dias desde a publicação desta sentença, sob pena de multa diária no valor de R$ 2.000,00, limitada ao valor global de R$ 2.000.000,00.

Comino aos réus a proibição de executar ou autorizar obras públicas ou particulares na área a ser destinada ao Parque do Gama, enquanto não houver plano de manejo e adequada consulta pública prévia, sob pena de multa no valor de R$ 50.000,00 por cada ato de violação à presente cominação, sem prejuízo da responsabilidade criminal e/ou por improbidade administrativa respectiva.

Sem custas e sem honorários.

Brasília, 6 de fevereiro de 2019 14:32:33.

CARLOS FREDERICO MAROJA DE MEDEIROS


Juiz de Direito

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Do Gama Livre: 
Saiba mais um pouco sobre esse rumoroso caso da "Construção de banheiros públicos com salas de apoio institucional [que zorra é essa? E que custou a bagatela de 248.696,49. Ô banherinho caro da zorra] no Parque Urbano Norte - ST. Norte Gama - DF" 

Ao final da matéria do link abaixo, há links que levam a outras matérias sobre o caso.

Avisaram que a cagada da "construção de banheiros públicos com salas de apoio institucional" no Parque do Gama podia dar merda. Administradora regional do Gama vira ré na ação popular