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(Millôr Fernandes)

sábado, 11 de janeiro de 2020

Aumento nas tarifas do transporte público. Entre a população e os Barões da Catraca, GDF escolhe os segundos

Sábado, 11 de janeiro de 2020
Por
Juan Ricthelly

Aumento nas tarifas do transporte público. Entre a população e os Barões da Catraca, GDF escolhe os segundos


O GDF anunciou o aumento de 10% nas tarifas de transporte público do Distrito Federal, que serão aplicadas na próxima segunda (13/01), causando justa indignação em parte da população, reação na CLDF, mobilização de movimentos sociais e matérias jornalísticas da mídia local.

Os argumentos levantados variam no tom e nos números, mas não inovam no conteúdo normalmente utilizado para justificar tal medida perante à opinião pública, que nunca vê com bons olhos o aumento das tarifas.

Infelizmente, Brasília não foge à regra geral aplicada em boa parte do mundo, de colocar nas costas da população o peso econômico do exercício do direito constitucional de ir e vir monopolizado pelos Barões da Catraca.

Cada reajuste, vem acompanhado de uma promessa já vazia de melhoria no sistema que nunca chega, não faz muito tempo que um estudo feito pelo instituto americano Expert Market, coletando dados de 74 metrópoles globais, apontou o sistema de transporte público do Distrito Federal como um dos 10 piores do mundo, levando em consideração aspectos como tempo de viagem, espera para pegar a condução, distância total e o custo mensal do transporte relacionado ao salário médio da população.

A verdade, é que o objetivo real por trás dos aumentos periódicos nas passagens é a manutenção dos lucros obtidos pelas empresas que operam o sistema, já que o Estado, cada vez mais sequestrado por uma lógica privatista neoliberal, se recusa a prestar serviços públicos à população, terceirizando suas responsabilidades relacionadas à garantia de direitos sociais básicos.

É importante relacionar o aumento das tarifas com as consequências diretas na vida das pessoas, algumas que até mesmo passam despercebidas para a maioria de nós, nenhum slogan é tão verdadeiro como o “não são só R$ 0,30!” tão popularizado em 2013, ou “não são só 30 pesos” que tomou as ruas do Chile desenterrando tantas outras pautas em seguida.

Então seguramente, vale dizermos aqui no Distrito Federal, que “não são apenas R$ 0,50” ou 10% de aumento.

Quando o Governador Ibaneis Rocha e seus serviçais anunciam de forma tão fria o aumento das passagens, demonstram o quão insensíveis e indiferentes são aos problemas e ao sentimento de uma população tão castigada por um péssimo serviço de transporte público, que enlata pessoas do Distrito Federal e Entorno como sardinha em veículos lotados, depois de muito esperar uma condução ao seu destino e perder parte considerável de seu precioso tempo em pé, em trajetos repletos de engarrafamentos.

A mensagem transmitida é clara e cristalina, vamos pagar mais caro pelo “privilégio” de seguirmos sendo massacrados por nossos algozes e pelo tempo que desperdiçamos esperando e nos locomovendo de um lugar para o outro, enquanto os Barões da Catraca seguem embolsando o seu lucro, confortavelmente sentados em alguma poltrona ou sofá de suas mansões.

O transporte público coletivo é um serviço essencial ao Direito de Ir e Vir, tendo a mobilidade urbana como meio de se alcançar tal direito, tendo relação com a consecução do Direito à Cidade, logo, o reajuste da tarifa implica no aumento do preço que pagamos para exercermos tantos outros direitos que nos são negados nos bairros periféricos em que a maioria de nós vivemos.

Pois, por meio do transporte público, acessamos o direito à educação quando nos dirigimos às universidades, escolas, colégios e cursos; buscamos o direito à saúde quando adoecidos precisamos de um hospital para realizar exames, consultas ou cirurgias; chegamos onde às principais atividades culturais acontecem ao irmos aos cinemas, shows, festivais, bienais e exposições de arte; e mais, é por meio do transporte público que chegamos aos nossos trabalhos e estágios, que nos garantem alguma dignidade e a realização de nossos sonhos e anseios.
Então, o aumento da passagem anunciado pelo GDF, é como o aumento de um pedágio numa estrada que precisamos percorrer diariamente para alcançarmos tudo isso, educação, saúde, cultura, lazer, trabalho, ócio e sonhos...

Não se trata apenas de R$ 0,50, de 10%, de milhões de reais ou de qualquer outra coisa, se trata de uma escolha política maquiavelicamente consciente de taxar a população em benefício dos Barões da Catraca e de suas empresas.

Como resposta à essa escolha, o Movimento Passe Livre (MPL) convoca à população para dizer ao Governador, que nós escolhemos não pagar essa conta, todos e todas à Praça do Índio (703/704 Sul), na próxima terça (14/01) às 18 horas.

Juan Ricthelly