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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 22 de junho de 2023

DEPOIMENTO NA CPI —Ex-GSI diz que PMDF descumpriu planejamento ao não montar bloqueio no Palácio

Quinta, 22 de junho de 2023
General Dias disse que bloqueio no Palácio só foi montado após ordem sua - Rinaldo Morelli / Agência CLDF

General Dias foi questionado por deputados distritais por manter executivo do governo Bolsonaro na pasta

Valmir Araújo
Brasil de Fato | Brasília (DF) | 22 de Junho de 2023

O general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmou que a Polícia Militar do DF deixou de cumpriu o planejamento no dia 8 de janeiro ao não montar um bloqueio na frente do Palácio do Planalto. Chefe do GSI entre janeiro e abril deste ano, ele prestou depoimento nesta quinta-feira (22) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

"O bloqueio na frente do Palácio do Planalto, que deveria ter sido feito pela Polícia Militar do DF não havia sido montado. Aquele era o bloqueio do plano de operações escudo do Planalto e tinha que ser montado", afirmou o general logo no início do depoimento.

Segundo ele, o bloqueio do GSI só foi montado após uma ordem direta sua ao general Carlos José Russo Assumpção Penteado, que era secretário executivo da pasta desde o governo Bolsonaro.

O general Dias lembrou que na reunião do dia 6 de janeiro o GSI não foi convidado, mas que no planejamento desta reunião havia previsão de um bloqueio na frente do Palácio do Planalto pela PMDF. Segundo ele, os bloqueios em direção à Praça dos Três Poderes foram tênues ou não existiram.

O ex-ministro disse ainda que viu a partir do Palácio do Planalto os golpistas furarem o último bloqueio e se concentrou em resguardar o núcleo do prédio, que é o Gabinete do Presidente da República.

De acordo com o ex-ministro, a coronel Cíntia Queiroz de Castro (Inteligência da SSP/DF) e o general Penteado disseram para ele que estava "tudo calmo" na Esplanada, mas ainda assim ele decidiu ir até o Palácio do Planalto no início da tarde do dia 8 de janeiro. "Eu havia saído de casa sem saber que tipo de situação eu encontraria e jamais esperei encontrar aquela situação", contou o general Dias. Ele argumentou que além de proteger o Gabinete do Presidente atuou para "retirar os vândalos o mais rápido possível".

O general justificou sua saída do cargo de ministro do GSI dizendo que a divulgação dos vídeos que mostravam sua presença do Palácio do Planalto no momento durante a invasão foram "imprecisos" e "desconexos". Ele admitiu que estava no local, mas garantiu que estava atuando para proteger o prédio: "naquele dia foram cometidas agressões impensáveis à democracia brasileira e eu era o ministro chefe de Segurança Institucional".



Questionamentos

O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), questionou o depoente sobre quais as informações que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) repassou. "Nos parece que o senhor ficou alheio ao que acontecia entre os dias 6 e 8 de janeiro. O senhor foi informado sobre a intenção de tomada de poder?". O general Dias respondeu que no período em questão fez contato com o diretor do Abin, mas o órgão não passou nenhum relatório. Vigilante disse que é importante também investigar o comportamento da Agência de Inteligência do governo.

O relator da CPI, deputado Hermeto, questionou o general Dias o porquê de ele ter mantido a equipe do governo anterior, sobretudo o secretário executivo do GSI, o general Penteado. O depoente respondeu que ainda acredita no Exército. "Nós somos uma organização de Estado e não de governo. Eu sempre acreditei nisso e mais uma vez errado ou não eu acreditei nisso. O Exército é apolítico ele não é partidário e devemos acreditar nisso".

O deputado Fábio Félix (PSOL) também questionou o depoente sobre a ação do general Penteado, que às 14 horas do dia 8 falou para o general Dias que "estava tudo tranquilo" e que o chefe do GSI nem precisava ir ao Palácio. "Ele era o secretário executivo do general Heleno", lembrou Félix. O depoente diz que "tudo tem que ser apurado, se há alguma dúvida sobre a conduta de alguém tem que ser apurado. Como estou aqui, ele também poderia se sentar aqui". Félix disse que a apuração sobre a responsabilidade de Penteado vai ser fundamental.


Edição: Flávia Quirino