Quinta, 10 de maio de 2012
Da Agência Brasil
Elaine Patricia Cruz, repórter
Itapecerica da Serra (SP) – Um crime encomendado e teve motivação
política. Foi esta a tese que o promotor Márcio Augusto Friggi de
Carvalho sustentou, em duas horas de meia, ao pedir a condenação dos
três réus que estão sendo julgados hoje (10) pela morte do prefeito de
Santo André, Celso Daniel. O julgamento está ocorrendo no Fórum de
Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Cinco acusados pela morte do prefeito seriam julgados, mas os advogados
de defesa de Itamar Messias dos Santos Filho e Elcyd Oliveira Brito,
conhecido como John, deixaram o plenário e tiveram seus julgamentos
remarcados para o dia 16 de agosto.
Com isso, estão sendo julgados Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como
Monstro, Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, e José Edison
da Silva. O promotor pediu a condenação dos três por homicídio
duplamente qualificado mediante pagamento e sem possibilidade de defesa
para a vítima.
Para Carvalho, eles foram contratados por Dionísio de Aquino Severo
(morto na prisão, em 2002), a mando do empresário Sérgio Gomes da Silva,
o Sombra. Segundo o promotor, Dionísio trabalhou como segurança na
prefeitura de Santo André e conhecia o empresário.
Pela manhã, em depoimento, os três réus negaram participação no crime e
disseram que só confessaram o sequestro e morte do prefeito sob
tortura. O promotor negou a versão dos acusados, dizendo que há
testemunhas e um laudo pericial descartando a tortura.
Para o promotor, a autoria do crime “é absolutamente irrefutável”. “Não
há dúvidas sobre o envolvimento deles no sequestro, arrebatamento e
morte do prefeito”, disse, em plenário. Segundo Carvalho, extratos
telefônicos e depoimento de testemunhas comprovam que o prefeito não foi
uma vítima equivocada de sequestro, conforme os acusados disseram
anteriormente em depoimentos. “O sequestro foi simulado e Gomes [Sombra]
ajudou”.
O promotor ressaltou na sua acusação que “era preciso arquivar o
prefeito”, que havia descoberto que o esquema de corrupção instalado na
prefeitura não estava somente abastecendo o caixa 2 do PT, com o qual
ele concordava, mas também estava sendo utilizado para enriquecimento
pessoal dos integrantes do esquema.
O prefeito, de acordo com Carvalho, estava elaborando um dossiê sobre o
esquema e foi torturado antes de morrer para que dissesse onde estava o
documento. “Ele foi submetido a uma situação de barbaridade antes de
morrer”, disse. Segundo o promotor, nenhum telefonema de resgate foi
feito à família durante o sequestro, o que também atesta que o crime foi
encomendado.
Celso Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002, quando saía
de um jantar com o amigo e empresário Sombra, que não foi levado pelos
bandidos. O prefeito ficou em um cativeiro, em Juquitiba, próximo à
Rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo ao Sul do país, mas dois
dias depois foi executado com oito tiros. Para o promotor, Sombra é o
mandante do crime.
Sérgio Gomes da Silva é também réu no processo. O empresário, no
entanto, não está sendo julgado hoje, já que o seu processo foi
desvinculado dos demais.
Passados dez anos do crime, Marcos Roberto Bispo dos Santos foi o único
condenado até agora. Em novembro de 2010, Santos foi sentenciado a 18
anos de prisão. Neste caso, a Justiça reconheceu que a motivação para o
crime foi política.