Terça, 12 de junho de 2012
A saúde de Jaques Vagner, governador da Bahia, também está péssima, quase
igual à saúde de Agnelo Queiroz, que governa o DF. Não, não é a saúde pessoal
dos dois governadores petistas que está ruim. É verdade que Agnelo está meio
nervoso, e possivelmente com uma bruta dor de cabeça, com o seu depoimento
amanhã na CPMI do Cachoeira, mas nada que uma “escolinha” e um apoio da tropa
de choque do governo Dilma no Congresso não possa resolver. O artigo de Ivan de
Carvalho, jornalista baiano, trata mesmo é do caos na saúde pública no Estado
da Bahia. É na saúde pública que Brasília e Bahia se encontram. E se encontram no mais absoluto caos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = Por Ivan de Carvalho
Em novembro de 2008, o então deputado democrata
Heraldo Rocha, líder da oposição na Assembléia Legislativa da Bahia, segundo relata o site
Bahia Já, edição do dia 4, criticava as péssimas condições de atendimento pelo
SUS, sobretudo em hospitais da rede pública. “Há um paciente no Hospital Geral
do Estado (HGE) com suspeita de rompimento de aneurisma cerebral que não
consegue fazer o exame há mais de 15 dias”, disse o então líder, hoje
vice-presidente estadual do partido.
Não ficou sem resposta. O
deputado Paulo Rangel, então líder da bancada do PT, pulou na garganta do
democrata. Disse que estava impressionado com a capacidade da oposição para
criar fatos hilários (não creio que se referisse ao do paciente morredor há 15
dias à espera de um exame). Citou uma ou outra coisa que não tinha a ver com a
saúde, mas com fofocas políticas, e o malfadado fim da CPI baiana dos grampos,
e depois foi ao ponto – a saúde pública, afirmou, experimentara seus piores
tempos na Bahia nos governos de ACM e Paulo Souto. Infelizmente, o site Bahia
Já, que usei como fonte dessas informações, não deu conta de qualquer
referência do deputado Rangel àquele paciente do HGE à espera de um exame há 15
dias.
O que me levou a abrir esse
baú da história da saúde pública na Bahia foi uma notícia do programa Cidade
Alerta, da TV Record, na tarde de ontem. Peguei o bonde já andando (rodando) e
assim perdi alguns detalhes importantes, assim como a reportagem deixou de
fornecer outros que eu gostaria de conhecer para referi-los aqui. De qualquer
forma, vamos em frente, que o caso impressiona.
Uma senhora relatava, com
palavras das quais escorria, farto, o desespero, o drama de sua mãe. Sentira
alguma coisa que recomendava urgente busca de socorro médico. Fora levada a
“vários postos de saúde” sem nenhum resultado. Nenhum mesmo. A aflição
convenceu os familiares a levá-la a uma consulta particular. O médico pediu uma
tomografia da cabeça. Também feita com dinheiro particular, evidentemente não
porque houvesse suficiente, mas por falta de alternativa. Diagnóstico:
aneurisma cerebral. A emissora não se informou ou não julgou relevante informar
se o aneurisma rompera.
Mas abriu-se ao relato da
filha. Ela levou a mãe para o Hospital Geral do Estado, onde a cidadã-paciente
chegou consciente com domínio dos sentidos e da fala. Mas é preciso fazer “um
exame” que o HGE não faz. Só, por autorização da Secretaria de Saúde do Estado,
o Hospital Português. Falta de sorte incrível, que só acontece uma vez a cada
milhão de anos – quem mandou ter aneurisma às vésperas de um feriadão?
Aguardou-se, porque coisa diferente não foi possível, acabar o feriadão.
E então, ufa! Ontem,
segunda-feira, correram os familiares a marcar o tal exame (a filha da
cidadã-paciente não disse exatamente qual). Mas “só tem vaga para a outra
segunda-feira”. Até lá, desde o começo da tragédia, quase 15 dias se terão
passado. “Minha mãe chegou bem, consciente”, no HGE. “Agora não fala, não
houve, nada, só geme, e tem que esperar até a outra segunda-feira”, disse a
filha em seu lamento desesperado. O que posso eu dizer? Minhas palavras são
pobres. Repito algo que li e, certamente, também você: “Bem aventurados os que
sofrem, porque eles serão consolados. Bem aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque eles serão saciados”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.