Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A mudança de Cabral

Sexta, 19 de julho de 2013
                                                             Imagem da internet

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Por Ivan de Carvalho
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, é um peemedebista do PT. Ele perdeu a eleição para prefeito do Rio pelo PSDB em 1996. Em 2000 já ingressara no PMDB, seu antigo partido, a pedido do então presidente da República, Lula da Silva, para disputar e ganhar o governo fluminense com o apoio de Anthony e Rosinha Garotinho. Cabral passou a funcionar como quinta coluna petista dentro do PMDB, maior aliado do PT em âmbito nacional. E Cabral vai cumprindo até aqui, à risca, a missão que lhe foi confiada.

Agora, no PT, desconfia-se que está surgindo uma nova “tendência” – os petistas adoram essa palavra –, a dos quinta-colunas do PMDB dentro do PT. Não é uma coisa tão ostensiva quanto no caso de Sérgio Cabral, mas há queixas, difusas, mas persistentes, de que gente como o importante deputado petista Cândido Vacarezza lidera uma tendência de petistas que quer ficar mais perto do PMDB do que perto dos petistas que querem ficar longe do PMDB.

   Mas, voltando a Sérgio Cabral, meteu-se recentemente numa situação embaraçosa. De repente, após o movimento popular que se iniciou em junho com manifestações de rua – gigantescas em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde aconteceram várias, inclusive a maior de todas, que ocupou inteiramente a avenida Rio Branco – curiosos e talvez furiosos impertinentes passaram a vasculhar alguns detalhes, que não se poderia qualificar de privados, da conduta do governador.

      Assim, redes sociais da Internet e a mídia convencional “descobriram” que o governador tem à sua disposição uma flotilha de helicópteros e que há, nessa flotilha, um componente todo especial, de luxo, igual ao que Eike Batista (até recentemente, antes de desabar – muita coisa anda desabando por aí – um dos dez homens mais ricos do mundo) possui. A grande diferente entre as duas joias do ar é que a do governador Cabral foi obtida e é custeada com o dinheiro dos contribuintes.

         Esta joia voadora alçou voo na mídia quando esta, sob a forte influência das espetaculares manifestações populares de junho, lembrou-se de relatar ao distinto público contribuinte o uso que autoridades gradas, ou graúdas, do Executivo, do Legislativo e até do Judiciário têm feito de jatinhos da Força Aérea Brasileira, o que deixou claro que a FAB, gostando ou não (mais provável que não) tem uma razoável frota de jatinhos para atender às solicitações dessas autoridades, algumas delas dispostas a solicitá-las sem preencher todos os requisitos exigidos para isso, bem como para finalidades não previstas na normatização da matéria.

   E o exagero nos pedidos, ó! Parece que o pessoal estatal graúdo não está simpatizando com os reles passageiros dos aviões de carreira, mesmo os da primeira classe.

Então, voltando a Cabral, não aquele das caravelas, que pelo menos descobriu o Brasil, o governador percorria de sua residência no Leblon até o heliporto da Lagoa Rodrigo de Freitas três quilômetros, fazia uma baldeação para o helicóptero de estimação e ia até a sede do governo, o Palácio Guanabara, outrora muito honrado e bem usado pelo governador Carlos Lacerda.

Nem atentei para a circunstância de estar ele insistindo ou não no uso desnecessário e custoso do tal helicóptero de alto luxo – que também leva-o e à sua família para sua casa de repouso nos fins de semana e feriadões. O problema maior agora é que o prédio em que reside o governador tornou-se alvo quase permanente de manifestações de protesto e a principal reivindicação da população do prédio e das áreas próximas é a de que ele se mude de lá, vá morar no Palácio das Laranjeiras. Pena chamar-se Sérgio e não Pedro, pois este nome poderia lhe valer a devolução a Portugal, ao invés daquela festiva viagem a Paris, onde executou a “dança do guardanapo”. Alega a população da área que, na tentativa de “proteger” o governador dos protestos, o aparelho policial do Estado – mobilizando, simultaneamente, num só momento, três “caveirões”, que são desengonçados blindados da PM, um carro-pipa para lançar jatos de água nos manifestantes e centenas de PMs, está roubando o direito de ir e vir dos moradores.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.