Sexta, 19 de julho de 2013
Imagem da internet
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Por Ivan de Carvalho

Agora, no PT, desconfia-se que
está surgindo uma nova “tendência” – os petistas adoram essa palavra –, a dos
quinta-colunas do PMDB dentro do PT. Não é uma coisa tão ostensiva quanto no
caso de Sérgio Cabral, mas há queixas, difusas, mas persistentes, de que gente
como o importante deputado petista Cândido Vacarezza lidera uma tendência de
petistas que quer ficar mais perto do PMDB do que perto dos petistas que querem
ficar longe do PMDB.
Mas,
voltando a Sérgio Cabral, meteu-se recentemente numa situação embaraçosa. De
repente, após o movimento popular que se iniciou em junho com manifestações de
rua – gigantescas em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde aconteceram várias,
inclusive a maior de todas, que ocupou inteiramente a avenida Rio Branco –
curiosos e talvez furiosos impertinentes passaram a vasculhar alguns detalhes,
que não se poderia qualificar de privados, da conduta do governador.
Assim, redes
sociais da Internet e a mídia convencional “descobriram” que o governador tem à
sua disposição uma flotilha de helicópteros e que há, nessa flotilha, um
componente todo especial, de luxo, igual ao que Eike Batista (até recentemente,
antes de desabar – muita coisa anda desabando por aí – um dos dez homens mais
ricos do mundo) possui. A grande diferente entre as duas joias do ar é que a do
governador Cabral foi obtida e é custeada com o dinheiro dos contribuintes.
Esta joia
voadora alçou voo na mídia quando esta, sob a forte influência das
espetaculares manifestações populares de junho, lembrou-se de relatar ao
distinto público contribuinte o uso que autoridades gradas, ou graúdas, do
Executivo, do Legislativo e até do Judiciário têm feito de jatinhos da Força
Aérea Brasileira, o que deixou claro que a FAB, gostando ou não (mais provável
que não) tem uma razoável frota de jatinhos para atender às solicitações dessas
autoridades, algumas delas dispostas a solicitá-las sem preencher todos os
requisitos exigidos para isso, bem como para finalidades não previstas na
normatização da matéria.
E o exagero nos pedidos, ó! Parece
que o pessoal estatal graúdo não está simpatizando com os reles passageiros dos
aviões de carreira, mesmo os da primeira classe.
Então, voltando a Cabral, não
aquele das caravelas, que pelo menos descobriu o Brasil, o governador percorria
de sua residência no Leblon até o heliporto da Lagoa Rodrigo de Freitas três
quilômetros, fazia uma baldeação para o helicóptero de estimação e ia até a
sede do governo, o Palácio Guanabara, outrora muito honrado e bem usado pelo
governador Carlos Lacerda.
Nem atentei para a circunstância
de estar ele insistindo ou não no uso desnecessário e custoso do tal
helicóptero de alto luxo – que também leva-o e à sua família para sua casa de
repouso nos fins de semana e feriadões. O problema maior agora é que o prédio
em que reside o governador tornou-se alvo quase permanente de manifestações de
protesto e a principal reivindicação da população do prédio e das áreas
próximas é a de que ele se mude de lá, vá morar no Palácio das Laranjeiras. Pena
chamar-se Sérgio e não Pedro, pois este nome poderia lhe valer a devolução a
Portugal, ao invés daquela festiva viagem a Paris, onde executou a “dança do
guardanapo”. Alega a população da área que, na tentativa de “proteger” o
governador dos protestos, o aparelho policial do Estado – mobilizando,
simultaneamente, num só momento, três “caveirões”, que são desengonçados blindados
da PM, um carro-pipa para lançar jatos de água nos manifestantes e centenas de
PMs, está roubando o direito de ir e vir dos moradores.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.