Quinta, 11 de julho de 2013
Por Ivan de Carvalho

Depois de,
há muitos anos atrás, o PT inventar o “apoio crítico”, esta legenda e as
centrais sindicais enriqueceriam mais ainda o nosso idioma. Depois que o
Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, tanto esse partido quanto as
centrais que se tornaram governistas – peleguismo é a palavra para designar, no
Brasil, a dependência de sindicatos, federações, confederações e centrais
sindicais ao governo – comportaram-se de modo a criar a irônica expressão
popular “protesto de apoio”.
É o que
teremos hoje. Paralisações de serviços importantes em diversos setores
(incluindo o setor dos rodoviários, que força a paralisação de muitas outras
atividades e a sempre absurda e quase inacreditável paralisação da área médica).
Além de outros protestos de apoio que tentam responder à tempestade de
manifestações que abalou o país em junho e, embora no momento com bem menos
intensidade, ainda se espalha pelo interior, atingindo pequenas cidades que
pareciam completamente imunes, à margem de ações objetivas dentro de uma
demonstração de insatisfação e uma cobrança de âmbito nacional que estonteou o
governo, o Congresso, o guloso PT e os demais partidos governistas. E
surpreendeu agradavelmente a própria oposição.
Entre os partidos aliados do
governo, vale assinalar, alguns até gostaram, e em quase todos, muitos de seus
integrantes ficaram eufóricos. Não demonstram isso em público, mas o que se
constata em particular é satisfação. Estavam sendo atropelados pelo governo e
agora o governo está precisando desesperadamente deles. Podem, assim, cobrar respeito,
carinho e um preço mais alto, sem embargo do fato de que, se a situação
continuar ruça para o governo enquanto este não recupere ou se não recuperar o
apoio popular de que desfrutava até março, a fidelidade esfriará e alternativas
eleitorais estarão disponíveis.
Quanto a uma
recuperação, não é fácil. Ela não virá com “protesto a favor” como o de hoje.
As finanças e a economia do país, apesar de uma lenta recuperação da economia
americana, estão sendo atingidas pela crise na União Européia e pela violenta
freada na economia dos BRICS, um deles, o Brasil. Eram os BRICS, com destaque
muito especial para a China e a Índia, que vinham puxando a economia mundial,
ante a crise nos EUA e sua exportação para a Europa.
Pois os
BRICS não são mais aquele balaio todo. Só para lembrar, no ano passado o PIB
brasileiro cresceu lamentáveis 0,9 por cento, apesar das previsões de 4,5 por
cento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, qualificado, quando assumiu esse
cargo, de “muito fraquinho” pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Este ano, a
previsão do governo, que já foi de quatro por cento, muito recentemente, estava
em 3,5 por cento, mas já está sendo revista para três por cento. No entanto, o
FMI a estima, no momento, em 2,5 por cento, abaixo do PIB Mundial, que segundo
o mesmo organismo deverá crescer 3,1 por cento, embora em abril o próprio FMI
ainda acreditasse na média mundial de 3,3 por cento.
Os BRICS
sentem os efeitos de algumas possíveis mudanças na política econômica dos
Estados Unidos, o que já provoca efeitos negativos muito concretos. Como o
Brasil, o PIB da Rússia, ainda segundo o FMI, deve crescer 2,5 por cento, para
a Índia a previsão é de 5,6 por cento (antes da crise era sempre mais de sete
por cento) e o PIB chinês, que já chegou a assombrar o mundo com crescimentos
de mais de 11 por cento, deverá limitar-se a aumentar 7,6 por cento.
Bem, por
motivos externos e internos, a inflação brasileira está resistindo e isso já
não admite – sem risco gravíssimo para a estabilidade financeira – uma política
populista somada ao desperdício, à incompetência, às quatro dezenas de
ministérios, à corrupção, aos estádios de luxo, às frotas de helicópteros,
às... ora, isso não acabaria nunca.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.