Do ESQUERDA.NET
Num artigo publicado no
Guardian, o ex-ministro das Finanças grego diz que a Alemanha não aceita
a reestruturação da dívida porque o plano de Wolfgang Schäuble é usar o
“Grexit” como meio para “disciplinar a zona euro e a França”.
11 de Julho, 2015
“Subitamente,
uma dívida grega permanentemente insustentável, sem a qual
desapareceria o risco de Grexit, ganhou uma nova utilidade para
Schäuble”, defende Varoufakis.
Para
Varoufakis, o “Grexit” tornou-se “ora o desfecho preferido ou a arma
escolhida contra o nosso governo” pela larga maioria do Eurogrupo, “sob a
tutela de Schäuble”. “Pela minha experiência nos cinco meses de
negociação, a minha convicção é que o ministro das Finanças alemão quer
ver a Grécia ser expulsa da moeda única para atemorizar os franceses e
fazê-los aceitar o seu modelo de uma zona euro disciplinadora”,
concluindo que a dívida insustentável da Grécia serve o interesse do
ministro alemão.
Dias antes do referendo e da sua demissão, Varoufakis chegou a prometer que cortaria um braço
para não assinar um acordo que não previsse a reestruturação da dívida.
E volta a defender neste artigo que tal medida é essencial para o
sucesso das reformas na Grécia.
“Uma dívida grega permanentemente
insustentável, sem a qual desapareceria o risco de Grexit, ganhou uma
nova utilidade para Schäuble”
Recuando a 2010, quando a reestruturação da dívida grega foi recusada
porque traria perdas para os bancos alemães e franceses, Varoufakis
recorda como a UE escolheu tratar a questão: “Procurando evitar
confessar aos parlamentos que os contribuintes teriam de voltar a pagar
pelos bancos através de novos empréstimos insustentáveis, os
responsáveis da UE apresentaram a insolvência do Estado grego como um
caso de “solidariedade” com os gregos” e acabou por resgatar os bancos.
Depois do falhanço da receita da austeridade na Grécia – que segundo
Varoufakis podia ser previsto pelos conhecimentos matemáticos de um
“miúdo de oito anos esperto” – a Europa encontrou outra razão para não
reestruturar a dívida: “isso agora ia sair do bolso dos contribuintes! E
assim foram administradas doses crescentes de austeridade enquanto a
dívida crescia, levando os credores a prolongar os empréstimos em troca
de ainda mais austeridade”.
Varoufakis argumenta também sobre as razões dos obstáculos que serão
colocados ao seu sucessor, quando Tsakalotos entrar na reunião do
Eurogrupo com a proposta de “fazer da reestruturação uma condição para o
sucesso das reformas na Grécia e não uma recompensa ex-post”.
Elas são três: a “inércia institucional”; o “imenso poder” dos
credores sobre os devedores quando a dívida é insustentável; e a
situação híbrida do euro entre um sistema de taxas de câmbio fixas e uma
moeda de Estado. “Após a crise financeira de 2008/9, a Europa não sabia
como responder. Devia preparar terreno para pelo menos uma expulsão
(isto é, a Grécia) para fortalecer a disciplina? Ou avançar para uma
federação? Até agora não fez nenhuma, com a sua ansiedade
existencialista sempre a crescer. Schäuble está convencido de que na
situação presente precisa de um Grexit para afastar as dúvidas, num
sentido ou noutro”, prossegue Varoufakis.
E é por estas razões que “subitamente, uma dívida grega
permanentemente insustentável, sem a qual desapareceria o risco de
Grexit, ganhou uma nova utilidade para Schäuble”, defende Varoufakis.
Artigo publicado em infogrecia.net