Terça, 19
de janeiro de 2016
Da Tribuna
da Imprensa
Por
José Carlos de Assis
Semelhante à mulher de César, que não basta ser honesta mas
tem que parecer honesta, ao Banco Central do Brasil não basta ser uma espécie
de vampiro da sociedade brasileira, sugando-lhe o sangue em favor de
especuladores financeiros.

Ele se vê no direito de confessar publicamente essa
condição quando defende sua política como direito divino, o que
transparece, mensalmente, ao anunciar as taxas de juros sempre crescentes nas
reuniões do Copom (diretores), num sentido que invariavelmente desagrada 99,9%
dos brasileiros.
Qual seria a fonte de poder dos diretores do BC, reunidos no
Copom, para promoverem, sem dó nem piedade, com total autonomia e
discricionariedade, a transferência centenas de bilhões de dólares anuais de
ricos para pobres através de um verdadeiro assalto ao Tesouro? Não é poder
político parlamentar, pois o BC neutralizou os políticos dizendo que são
populistas. Infelizmente é o Executivo. Mas não pelo que o Executivo o manda
fazer, mas pelo que o Executivo faz questão de que ele não faça, ou seja,
defender o interesse público.
O BC tem um código de honra, similar aos das máfias italiana
e americana, pelo qual seus membros atuais e anteriores se cercam de segredos
para evitar o escrutínio da sociedade em suas decisões na sombra. Nos anos mais
recentes, a senha de acesso a esses arcanos tem sido o modelo de metas de
inflação - o qual desmontamos peça por peça, o matemático Francisco
Antônio Dória e eu, no livro “O universo neoliberal em desencanto” (ed.
Civilização Brasileira). Não esperávamos um sucesso do livro, por motivos
óbvios. E não aconteceu.
O problema que temos com o BC brasileiro é que se tornou, ao
longo do tempo, uma caricatura ideológica neoliberal. Não há nenhuma inocência
nisso. Um BC neoliberal rouba dinheiro do povo e transfere para os ricos. Não
temos sequer um BC capitalista. O BC americano, FED, tem três objetivos legais:
manter a estabilidade da moeda, garantir o crescimento da economia e promover o
pleno emprego. No caso do BC brasileiro, estabelecido por FHC, o objetivo único
do BC é o suposto controle da inflação.
É necessário muito pouco para demonstrar que a atuação do BC
é um escândalo de incompetência e de má fé. No modelo de metas com que opera, a
inflação deve cair quando o desemprego aumenta. Vejam o que aconteceu em 2014:
a inflação estava estabilizada em torno de 6,5%, enquanto a taxa de desemprego
caiu ao nível histórico mais baixo. Ao aumentar as taxas de juros, o BC mandou
para o espaço a chamada curva de Phillips, uma das bases de seu modelo de
metas: a inflação aumentou e a taxa de desemprego também aumentou, ao contrário
do que preveria a curva.
Até quando vamos tolerar esse câncer incrustrado na economia
brasileira, que alimenta simultaneamente a inflação e o desemprego? Esta, seguramente,
é uma questão política. Já dei notícia da Aliança pelo Brasil, um movimento
parlamentar e social que iremos promover com o duplo objetivo de combater a
irresponsabilidade do impeachment e promover uma nova política econômica. Pois
bem, em termos de macroeconomia o foco de nossos objetivos é uma mudança
radical do BC. Num país em desenvolvimento, não podemos nos dar o luxo de
ter um BC contracionista. Temos que ter um BC progressista.
P.S. O Governo fez bem em admitir mudança na MP dos acordos
de leniência, a despeito da impertinência do TCU que resolveu meter a colher de
chá onde não era chamado. Vigiado pela Procuradoria da República, pela AGU e
pela CGU, o TCU não terá muita margem para atrapalhar ou viciar os acordos, que
defendi desde o início do ano passado quando a classe dominante ainda se
mostrava acovardada em tocar no assunto.