Sexta, 1º de abril de 2016
Do Diário do Poder
O ex-tesoureiro mensaleiro Delúbio Soares e Silvio Pereira, o
Silvinho Land Rover, ex-tesoureiro e secretário do PT, respectivamente,
e o empresário Ronan Maria Pinto estão entre os alvos da 27ª fase da
Operção Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feia (1) pela Polícia Federal.
Silvinho e Ronan foram presos e Delúbio conduzido sob vara para depor.
Cerca de 50 policiais cumprem 12 mandados judiciais, sendo dois são
de prisão temporária, oito de busca e apreensão, além de dois de
condução coercitiva. A operação foi batizada de Carbono 14. Outro preso
nesta fase é também denunciado no mensalão.
Entre os crimes investigados neta 27ª fase estão extorsão, falsidade
ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Ronan Maria Pinto era o controlador do jornal Diário do Grande ABC, um dos mais importantes de São Paulo. Os presos serão levados para a Superintendência da PF, em Curitiba.
A força-tarefa da Lava Jato investiga negócios envolvendo o Banco
Schain, suspeito de realizar empréstimos ao PT, pagos de forma
fraudulenta, com ajuda do empresário José Carlos Bumlai, amigo do
ex-presidente Lula que se encintra e prisão domiciliar, com tornozeleira
eletrônica, para tratamento de um câncer.
Os mandados são cumpridos em São Paulo, Carapicuíba, Osasco e Santo
André. De acordo com os policiais, a ação ocorre "em referência a
procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a
investigação de fatos antigos".
Em nota, a força-tarefa da Lava Jato afirmou que a Carbono 14
investiga esquema de lavagem de capitais de cerca de R$ 6 milhões
‘provenientes do crime de gestão fraudulenta do Banco Schahin, cujo
prejuízo foi posteriormente suportado pela Petrobrás’. Segundo a
Procuradoria da República, durante as investigações da Lava Jato,
constatou-se que o pecuarista Josá Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, contraiu um empréstimo fraudulento junto ao
Banco Schahin em outubro de 2004 no montante de R$ 12 milhões
“O mútuo, na realidade, tinha por finalidade a “quitação” de dívidas
do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi pago por intermédio da
contratação fraudulenta da Schahin como operadora do navio-sonda Vitória
10.000, pela Petrobrás, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão. Esses
fatos já haviam sido objeto de acusação formal, sendo agora foco de uma
nova frente investigatória”, sustenta a força-tarefa em nota.
“A partir de diligências, descobriu-se que, do valor total emprestado
de R$ 12 milhões a Bumlai, pelo menos R$ 6 milhões tiveram como destino
o empresário do município de Santo André (SP), Ronan Maria Pinto. Como
ressaltou a decisão que decretou as medidas cautelares, “a fiar-se no
depoimento dos colaboradores e do confesso José Carlos Bumlai, os
valores foram pagos a Ronan Maria Pinto por solicitação do Partido dos
Trabalhadores”. Para fazer os recursos chegarem ao destinatário final,
foi arquitetado um esquema de lavagem de capitais, envolvendo Ronan,
pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores e terceiros envolvidos na
operacionalização da lavagem do dinheiro proveniente do crime contra o
sistema financeiro nacional”, aponta a força-tarefa da Lava Jato.
Segundo a Procuradoria, há evidências que apontam que o PT influiu
diretamente junto ao Banco Schahin na liberação do empréstimo
fraudulento. Para chegar ao destinatário final Ronan Maria Pinto, os
investigados teriam se utilizado de diversos estratagemas para ocultar a
proveniência ilícita dos valores e a identidade do destinatário final
do dinheiro obtido na instituição financeira.
“Em suma, há provas que apontam para o fato de que a
operacionalização do esquema se deu, inicialmente, por intermédio da
transferência dos valores de Bumlai para o Frigorifico Bertin, que, por
sua vez, repassou a quantia de aproximadamente R$ 6 milhões a um
empresário do Rio de Janeiro envolvido no esquema”.
“Há evidências de que este empresário carioca realizou transferências
diretas para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada
por Ronan Maria Pinto, além de outras pessoas físicas e jurídicas
indicadas pelo empresário para recebimento de valores. Dentre as pessoas
indicadas para recebimento dos valores por Ronan, estava o então
acionista controlador do Jornal Diário do Grande ABC, que recebeu R$
210.000 em 9/11/2004. Na época, o controle acionário do periódico estava
sendo vendido a Ronan Maria Pinto em parcelas de R$ 210.000.
Suspeita-se que uma parte das ações foi adquirida com o dinheiro
proveniente do Banco Schahin. Uma das estratégias usadas para conferir
aparência legítima às transferências espúrias dos valores foi a
realização de um contrato de mútuo simulado, o qual havia sido
apreendido em fase anterior da Operação Lava Jato.”
A força-tarefa sustenta que outras pessoas possivelmente envolvidas
na negociação para a concessão do empréstimo fraudulento pelo Banco
Schahin também são alvo da operação realizada hoje. Segundo os
investigadores, identificou-se que um dos envolvidos recebeu recursos de
pessoas e empresas que mantinham contratos com a Petrobrás e que já
foram condenadas no âmbito da Operação Lava Jato.
“Esses pagamentos ocorreram ao menos até o ano de 2012. As pessoas
cuja prisão foi determinada já tiveram prévio envolvimento com crimes de
corrupção”, aponta a Procuradoria.
Carbono 14, segundo a PF, faz referência a procedimentos ‘utilizados
pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos’.
Os presos serão levados para Curitiba, sede da Lava Jato.