Terça, 13 de setembro de 2016
Da Tribuna da Imprensa Sindical
Por Helio Fernandes
Por Helio Fernandes
Exatamente às 4 da tarde, a Ministra Carmen Lucia tomava posse como Presidente do
Supremo Tribunal e do Conselho Nacional de Justiça. Uma visível
contradição publica desse dia 12. Gloriosamente assumindo de forma
inédita, ainda ao som da voz e do violão de Caetano Veloso, tão
aplaudido ao difundir o belo e emocionante hino nacional.
É importante ressaltar e registrar o fato, por dois motivos. Pela forma
simples e sem a menor sofisticação da posse. Sem festejo ou comemoração
fora e contradizendo o momento. E em vez do champanha tradicional, o
cafezinho, lembrando a primeira grande riqueza do Brasil. Precisamente
quando surgia a Republica. Apesar de não ser a dos nossos sonhos. Até
hoje.
Embora
o país espere que a entrada em cena de um personagem como Carmen Lucia,
traga modificação e esperança. O decano Celso de Mello, que fez a
saudação a ela, lembrou muito bem, "os que desonram a vida publica, com
atos criminosos".
Citou
o também Ministro Aliomar Baleeiro, que dizia e repetia sempre: "Não
podemos deixar roubar, nem deixar fora da prisão, os que roubam". Muitos
deles, presentes e bem visíveis.
O
outro fato desse dia 12, é a contradição com o espetáculo de opróbrio,
vergonha, indignidade e as mais diversas conseqüências da criminosa
roubalheira que patrocinaram. E que com ela enriqueceram. Não apenas
individual, mas também coletivamente.
Lamentável
que o Procurador Geral da Republica, "seja obrigado a saudar Renan
Calheiros", varias vezes indiciado pelo Supremo. Janot defendeu de forma
intransigente e entusiasmada, o trabalho da equipe da Lava-Jato.
Terminando de forma textual: "A Lava-Jato não está no fim da missão.
Ainda tem um longo caminho a percorrer". Alguns aplaudiram,
constrangidos.
Carmen
Lucia encerrou como ela mesma disse, "quebrando o protocolo". Para
falar diretamente ao cidadão. Que é sempre esquecido. Seu discurso não é
nenhuma promessa, e sim a reafirmação dela mesma, passado, presente, e
naturalmente o futuro. Que para a Justiça e o Supremo não começa hoje, é
a continuação da Carmen Lucia, que estão acostumados a respeitar.
Também
para reafirmar o amor pela sua Minas, citou tres mineiros
inesquecíveis: Carlos Drummond, Guimarães Rosa, José Aparecido de
Oliveira, o primeiro que lhe disse, porque era a sua obsessão, "que
fazer justiça, não é fácil". Magistral.
PS-
Não entendi a razão do presidente do Conselho Nacional da OAB, estar de
toga. Ele não é juiz. É advogado. Portanto, nem sempre os princípios
são os mesmos. E o discurso, num tom nitidamente professoral, deslocado.
Ali quase todos são mais do que professores.
Supremo: exaltação da honestidade. Câmara: desespero da corrupção
Nas
duas ou tres horas, antes da abertura da sessão, a palavra mais
pronunciada e até discutida foi: renuncia. Todos os lados propunham,
negavam, recusavam. O personagem a quem a palavra se referia, Eduardo
Cunha, declarava que isso poderia acontecer. Mas é bom lembrar, ele
afirmava que ficaria na presidência da Câmara, "até o fim", renunciou.
Portanto, a duração da palavra, só será conhecida depois de aberta a
sessão. E iniciados os debates.
Rodrigo
Maia, garantia há dias, "só abrirei a sessão com 420 deputados
presentes". Pressionado, reduziu para 400. Muito justo, nesse total, 20
deputados a mais ou a menos, nenhuma importância. Rodrigo Maia que ficou
no Supremo até às 6 horas, disse que não estava preocupado. Satisfeito,
ficou na mesa, que só tinha, Temer, Carmem Lucia, Renan e ele.
Enquanto
esperavam há ultima meia hora, tiveram que suportar a palavra do Chefe
da Casa Civil, que se apresentava como "grande defensor da Lava Jato”.
Na posse da Ministra Carmen Lucia, libelo contra os que defendem o fim
da punição.
Já
o ministro Eliseu queria atingir o Ministro Osório, ex-Advogado Geral
da União. Demitido na sexta feira, no mesmo dia aparecia com uma
entrevista na Veja, que "fecha" precisamente na própria sexta. A
entrevista, violentíssima contra o governo. Com referencia especial a
Temer e a Eliseu.
As 7 e ponto, Maia declara aberta a sessão
Com
302 deputados no plenário, e 326 no placar geral. Portanto, 34 estavam
na Câmara, mas não queriam aparecer. E começaram as questões de ordem,
os debates, a desorientação deliberada. Às 7h12, visivelmente irritado, o
presidente suspendeu a sessão por 1 hora. Mas deixou entrever, que
durante 3 horas de reunião na sua residência oficial, "os lideres dos
maiores partidos, garantiram no mínimo 380 votos". Depois das 6 horas,
quando Maia chegou do Supremo, nada se confirmou.
Durante
o intervalo, Maia se complicou todo. Levantou os trabalhos até 8,12.
Mas garantiu que só reabriria com 400 deputados no plenário.
Contradição. Os que queriam a cassação imediata de Cunha, gritavam,
"reabre a sessão". Ou então, "fora Cunha". Esses, acreditavam que vários
deputados, com a sessão suspensa, "muita gente pode ir embora". Ninguém
se entende.
Os
que pretendem que a cassação de Cunha, tem que ser executada,
consideram que "é impossível não obter os 257 votos". Mas muitos que
defendem "o adiamento para terça, quarta ou qualquer dia", são
identificados como favoráveis a Cunha. E na verdade, são mesmo.
Às
7,59 estão no plenário, 305. Registrados na Câmara, 368. A diferença,
de 63, é insignificante para os que consideravam que Cunha teria no
mínimo entre 130 e 150. Onde estão por tanto os 80 que faltam na conta,
escondidos? Por que não reconhecem que erraram e continuam a sessão? Em
10 minutos, às 8,07 entraram muitos no plenário, pelo painel, são 331.
Alguma coisa está errada.
O
PP, o maior partido do "centrão", é responsabilizado pela indecisão
geral. Tentaram que o presidente indireto, interferisse junto ao
partido. Não conseguiram falar com ele, mas veio o recado: "Não podemos
comprometer a maioria, a mais importante para o governo". Inacreditável.
ÀS 8,24 recomeçam os trabalhos. Na tribuna, o relator do processo
contra Cunha no Conselho de Ética, que votou contra Cunha.
Terminado
o repetidissimo advogado de Cunha, que disse a mesma coisa no Conselho
de Ética, CCJ, Supremo e agora na Câmara, começa a falar o próprio
Cunha. São 9 horas e 5 minutos. Do que ele disser, surgirá a decisão
para hoje ou para outro dia. Mas não para se salvar. Na verdade, depois
dos 33 minutos que usou (foi beneficiado, o tempo era de 25), não sobrou
nada a favor dele. Pode ser dito: foi uma defesa decepção.
O
ponto principal, para ele, que repetiu, orgulhoso: "Só houve o
impeachment do governo do PT, por minha causa. Duvido que alguém diga o
contrário". Voltaria ao assunto novamente. Concluindo: "É por isso que
estou sendo cassado". Ele está sendo cassado por corrupção, tratou do
assunto em 1 minuto e meio. Recorreu à intimidação, varias vezes. Já fez
isso no passado, agora diz, "são 160, que terão o mesmo destino que
eu".
Terminou
colocando o orgulho de lado, e apelando humildemente, "não cassem meu
mandato, arruinando minha vida e a da minha família". Quando desceu da
tribuna, deu uma olhada no painel, que registrava a presença de 417
deputados, passou a mão nos olhos, quase chorou.
Devia ter chorado, não era humilhante. Mais
do que humilhante, revoltante, foi o fato de ter sido abandonado.
Favoreceu a conspiração parlamentar, que sem ele não teria tido o mínimo
de sucesso. Todos se esqueceram.
A cassação demorou, mas finalmente aconteceu
Perderam
um tempo enorme, discutindo de forma quase sempre medíocre, o resultado
que já estava expresso no painel. Que registra as presenças. Quando
marcou 386, já estava muito claro, que havia uma decisão. Ao assinalar
470, se houvesse duvida, teria desaparecido.
Quando
o presidente indireto, Michel Temer, deu 33 dias de prorrogação para a
votação da cassação. E marcaram a sessão para 7 horas da noite, escrevi:
"A votação terminará entre 11 horas e meia noite. Faltando 6 minutos
para acabar a segunda feira, aparecia no painel eletrônico. A FAVOR da
cassação, 450. CONTRA, 10.
PS-
Faltou uma palavra sobre a perda dos direitos. É automática, mas devia
ser explicitada. Isso ficou de forma a ser explorada pelo corrupto
ex-presidente.