Segunda, 26 de setembro de 2016
Yara Aquino e Michèlle Canes – repórteres da Agência Brasil
Em coletiva para detalhar a 35ª fase da Operação
Lava Jato, a procuradora da República, Laura Gonçalves Tessler disse que
o ex-ministro Antônio Palocci teve atuação “intensa e reiterada” na
defesa de interesses da empreiteira Odebrecht na administração pública
federal. Segundo a procuradora, a empreiteira repassou R$ 128 milhões de
reais a uma conta que seria gerida pelo ex-ministro. Palocci foi preso
preventivamente na manhã de hoje (26) quando a Polícia Federal deflagrou
a nova fase da Operação, chamada Operação Omertá.
De acordo com
Laura Gonçalves, haveria um conta destinada ao recebimento de vantagens
indevidas da Odebrecht e Palocci seria o gestor dessa conta. “Se
verificou uma atuação intensa e reiterada de Palocci na defesa de
interesses da empresa perante a administração pública federal envolvendo
contratos com a Petrobras, questões veiculadas e medidas legislativas.
Essa atuação se deu mediante a pactuação e recebimento de contrapartidas
em favor do Partido dos Trabalhadores. Palocci, ao que tudo indica,
atuava como gestor dessa conta tendo atuado desde 2006 até pelo menos
novembro de 2013, comprovadamente, com pagamentos documentados nessa
planilha”, disse a procuradora.
Os valores discriminados na
planilha da construtora eram registrados em nome de "Italiano”, segundo a
Polícia Federal (PF). O delegado da PF, Filipe Pace, disse que não há
“sombra de dúvida” de que o “Italiano” que aparece nas planilhas de
Marcelo Odebrecht é o ex-ministro Palocci.
A
procuradora Laura Gonçalves destacou que repasses registrados para o
Italiano não ocorreram apenas em período eleitoral. “O que revela mais
claramente se tratarem de propina, já que não havia em curso qualquer
campanha eleitoral que subsidiasse esses pagamentos”, disse.
Para
o Ministério Público Federal, há indicativos de que Palocci tenha
atuado em outros casos em defesa dos interesses da empresa. Segundo a
procuradora Laura Gonçalves, foram registrados quase 30 encontros
pessoais entre Palocci e executivos da empresa, muitos deles na casa do
ex-ministro e no escritório de sua empresa.
Laura Gonçalves
afirma ainda que, mesmo no curso da Operação Lava Jato e em 2014 e 2015
foram verificados contatos entre Palocci e executivos da Odebrecht,
inclusive com o uso de e-mails criptografados. “O que indica a
possibilidade de que continuassem essas tratativas ilícitas já que
obviamente para realização de reuniões para assuntos triviais não se
precisa ter essa preocupação de criptografia”, disse a procuradora.
Defesa
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, criticou a prisão de seu cliente,
dizendo que tudo ocorreu de maneira secreta, ao estilo ditadura
militar. “Estamos voltando aos tempos do autoritarismo, da
arbitrariedade. Não há necessidade de prender uma pessoa que tem
domicílio certo, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as
informações quando for intimado. É por causa do espetáculo?”,
questionou.
Ele ainda negou as acusações contra Palocci. “Isso é
uma coisa absolutamente vaga, vazia. Para quem quer pretexto, isso é
pretexto, mas o fato é que o ministro da Fazenda tem que ter uma
interlocução com o setor empresarial, com a cadeia produtiva do Brasil,
para que se estabeleçam as políticas públicas. Se um ministro conversa
com alguém da iniciativa privada, já é suspeito de praticar crime?”,
perguntou Batochio.