Domingo, 25 de setembro de 2016
Camila Boehm – da Agência Brasil
A maioria dos brasileiros (74%) é a favor de ações que reduzam o
espaço do veículo particular nas ruas se o motivo for dedicar esse
espaço para ciclovias, corredores de ônibus e calçadas, apontou pesquisa
sobre mobilidade urbana encomendada pelo Greenpeace ao Instituto
Datafolha. A pesquisa foi realizada com 2.098 entrevistados de 16 anos
ou mais, em 132 municípios de todas as regiões do país.
Inicialmente,
a pesquisa consultou a população sobre três medidas, em perguntas
separadas, que desestimulariam o uso do carro. Aquela que teve maior
aceitação foi a de redução do número de vagas para carros nas ruas, que
teve o apoio de 47% da população. Uma fatia de 41% foi contrária à
medida, 9% são indiferentes e 3% não responderam.
A segunda
questão foi sobre a redução do número de faixas para carro nas vias, que
apresentou tendência inversa: 40% foram a favor da medida e 49%,
contra. A parcela de indiferentes é de 8%, e 4% não souberam opinar. O
fechamento de determinas ruas para carros, que corresponde à terceira
pergunta, foi a questão que teve maior resistência entre os brasileiros:
36% a favor, 52% contra a medida, e os demais indiferentes (8%) ou não
responderam (3%).
Após essas questões apresentadas, a pesquisa
consultou os entrevistados sobre o motivo para que houvesse a redução do
espaço para carros particulares e, somente então, veio a maior
aceitação, com 74%.
“Primeiro perguntamos para as pessoas o que
elas achavam de cada uma dessas três medidas e em seguida perguntamos
para as pessoas se, [por meio] dessas medidas de redução, fosse dado
espaço para esses outros meios de transporte, se ela era contra ou a
favor. A diferença é que a primeira vez perguntamos só com a medida em
si. Mas quando explicamos que isso vai ser usado para dar espaço para
outros modos de transporte, as pessoas são a favor”, explicou Vitor
Leal, da campanha de Mobilidade Urbana do Greenpeace.
De acordo
com ele, as pessoas tendem a concordar com a redução do espaço para os
carros quando enxergam um benefício para os outros modelos de
transporte. No início, segundo Leal, as pessoas veem essas medidas como
uma perda, porque estão tirando espaço do carro, mas depois conseguem
ver o benefício de se fazer isso. Segundo ele, é necessário a abertura
de diálogo entre o governante e a população para esclarecer a questão.
“Uma
das coisas que vemos que é importante a partir desse cenário é que o
poder público precisa dialogar mais com a sociedade, explicando melhor
para que servem as coisas e não tirar o espaço sem explicar o que está
acontecendo. Fazer uma discussão dizendo olha, vamos colocar mais
corredores de ônibus, isso significa que vai ter menos pistas para os
carros, mas isso vai diminuir o trânsito, isso vai garantir um
transporte de qualidade”, disse.
Preferências
Questionados
sobre qual meio de transporte seria escolhido para circular na cidade,
se houvesse infraestrutura adequada, o ônibus seria a escolha de 42% dos
entrevistados, seguido por carro (23%) e bicicleta (21%) – na prática,
os dois últimos estão empatados pela margem de erro de dois pontos da
pesquisa.
Para Leal, foi uma grande surpresa perceber que as
pessoas valorizam o transporte público. “São dados importantes para
vermos que há uma valorização do transporte público e aí entendemos que o
poder público não está respondendo adequadamente a isso, porque boa
parte dos investimentos vai para espaços para o automóvel”, disse.
“O
que está faltando então é as pessoas sentirem que é possível: um ônibus
de qualidade, uma tarifa justa, ônibus que não poluam tanto e que não
façam tanto barulho, ciclovias, infraestrutura para bicicleta e para
pedestre. As pessoas escolhem o carro muitas vezes porque sentem que os
outros meios de transporte não tem qualidade suficiente”, acrescentou.
Ele
ressalta que boa parte da discussão dos candidatos à eleição na capital
paulista se dá em torno da redução de velocidade nas vias,
especialmente as Marginais Tietê e Pinheiros, no entanto, não é um tema
que atinge a maior parte da população. “É um tema que importa para uma
parcela pequena da população, que é a que usa carro e que vai para a
marginal e que é contra [a redução de velocidade]”.
“O que fica
claro para mim é que as pessoas estão interessadas em como garantir a
mobilidade delas e, se significa tirar espaço do carro para dar para
outros modos de transporte, isso é ótimo, mas continuamos vendo os
discursos de candidatos do Brasil inteiro que continuam falando só para
quem anda de carro e, de vez em quando, falam um pouco sobre ônibus de
um jeito genérico”, avaliou.
“Eu gosto de chegar logo”
O
músico Daniel Daibem, 43, mora na Consolação, região central da capital
paulista, e escolheu utilizar ônibus e andar a pé para se locomover
pela cidade. “Hoje a minha resposta seria irônica para a pergunta 'por
que você prefere o ônibus e não o carro?'. Porque eu gosto de chegar
logo. É uma resposta que podemos dar nos últimos três anos por causa dos
corredores”, disse.
Os motivos para essa decisão incluem a
economia do ônibus em relação ao carro particular e a possibilidade de
realizar outras tarefas enquanto está sendo conduzido, como falar ao
telefone, mandar e-mail e trabalhar. Ele utiliza aplicativos de celular
que o ajudam a se organizar. Por meio deles, Daniel pode consultar que
linhas de ônibus o levam para cada destino e ainda para saber a que
distância está o ônibus que ele pretende pegar.
Sobre o
congestionamento caótico da capital paulista, ele dá uma dica. “Hora do
rush não é hora de entrar no trânsito. Hora do rush é hora de fazer
inglês, hora de ir na terapia, hora de tomar sorvete, hora de fazer
qualquer coisa, menos entrar no trânsito. [As pessoas] poderiam ter essa
iniciativa de se organizar, de não se enfiar no trânsito”.